TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Vergonha de ser honesto


A população brasileira já começa a esquecer a “Operação Satiagraha” deflagrada pela Polícia Federal em 8 de julho passado contra uma quadrilha que praticava crimes financeiros, tendo a frente o banqueiro Daniel Dantas, ligado às fraudes cometidas no esquema do Mensalão. Alguém lembra do “Mensalão”?
Golbery do Couto e Silva – o misterioso general que fundou e dirigiu o Serviço Nacional de Informações (SNI), o “feiticeiro” político dos governos militares pós-1964 – dizia que o brasileiro não tem memória. E acrescentava: a memória coletiva brasileira quando muito durava só 15 dias. E isso se não for véspera de carnaval ou da Copa do Mundo de futebol.
Tinha razão o “bruxo” Golbery!
Nos últimos tempos a República brasileira viveu uma sucessão de escândalos. Todos esquecidos. Ninguém mais fala, por exemplo, no escândalo Waldomiro Diniz, nos “Vampiros” do Ministério da Saúde, nos dólares na cueca, na empreiteira que pagava as despesas de Renan Calheiros ou na crise do Apagão Aéreo... A opinião pública parece anestesiada e conformada. Tem-se a impressão de que tudo no Brasil corre as mil maravilhas. O pior é que a coisa vem de longe, de muito longe...
Já em 1914, quase um século atrás, Rui Barbosa nas suas “Obras Completas”, Volume 41, Tomo 3, 1914, página 86, escreveu:


"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto... Essa foi a obra da República nos últimos anos. No outro regime (na monarquia) o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre - as carreiras políticas lhe estavam fechadas.
Havia uma sentinela vigilante (Dom Pedro II), de cuja severidade todos se temiam a que, acesa no alto, guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade gerais. Na República os tarados são os tarudos. Na República todos os grupos se alhearam do movimento dos partidos, da ação dos Governos, da prática das instituições. Contentamo-nos, hoje, com as fórmulas e aparência, porque estas mesmo vão se dissipando pouco a pouco, delas quase nada nos restando”.

Palavras atuais. A propósito, alguém sabe quem foi Rui Barbosa?

Armando Lopes Rafael

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