Das Inquisições
Em um gesto sinistro
O Papa Sisto IV olhou-se no espelho
E não viu Deus em seu sorriso
Torquemada viu numa grande fogueira
E depositou ali o seu cajado
E em três velhos motores
Jogados em um deserto
Para quem a morte não tem segredo
Depositou o sopro gélido
De milhares de assassinatos
E eles ficaram ali quase soterrados
Sem ter para onde ir
Tiveram desde então
Pesadelos torpes com uma
Longa estrada e uma tempestade
De gasolina vinda do oriente
E eles foram descobertos
Por uma tribo nômade e recorrente
De achadores de cacimbas
Por trás dos montes tem um
Asfalto quente que leva
Em sete léguas bem tiradas
Ao templo erguido sobre as ruínas
Disse um daqueles seres tão tênues
Para um daqueles curiosos
Que colhia restos como relíquias
E veio um templário
E disse aqui é o pagamento
E veio um membro nobre do
Priorado de Sião e disse
Toda folha que seca
Se quebra em pedaços
E logo chegaram os cátaros
Das terras altas de Languedoc
E disseram eis o Homem com um
Vácuo entre seus dentes
E veio um jesuíta em aparição e disse
exigit sincerae devotionis affectus
para o que ficou em um silêncio
incapaz de mais guardar
e veio o fantasma decadente
de um rei ibérico com um tumor
na próstata e disse já não
posso mais mijar em seus tanques
e fazer mover essas polias
e essas engrenagens em torturas
mas foi uma rezadeira que disse
a verdadeira viagem é para dentro
12 comentários:
Evoé!
Abraços,meu camarada.
Evoé!, poeta.
Eis a tréplica. Armou-se o colédoco de fel e sobre o quimo de uma manhã de sábado imaginava-se que no santo domingo toda as práticas seriam revisadas. Engano vocabular, a missa é a repetição do sacrifício do cristo.
Pois é, José, li outro dia, um texto de Roland Barthes, sobre a distância, e ele dizia que um peculiaridade paradoxal das profecias reveladas é que elas marcam o fim da viagem,elas são finitas em suas tragédias materiais e infinitas em suas trajetórias espirituais, daíentão surgiram os motores e a locomoção por encurtamento de distâncias materiais.
abraços
Mas que doideira, Leonel!
poema confuso, mas salutar
porém mal posso esperar
a tréplica do Armando Rafael...
rs ( discretos )
Abraços.
DM
Não existe confusão em poesia,existe linguagem densa, opaca, polissêmica, essas são tendências contemporâneas, que visam a quebra da linearidade. É como o estranhamento, que não é necessariamente uma melancia pendurada no pescoço de um passante. Os significados estão aí, desconstruídos, resta ao leitor reconstruir o significado. Não acredito em poesia receita de bolo, pronta para servir. Acredito em linguagem trabalhada, e não falo daquela gosma produzida por Olavo Bilac, aquilo é um embuste, carêta e arcaico, falo em Lautreamont, em Yeats, em Breton, em Murilo Mendes, em Villon.
abraços, poeta!
Poeta,
Chamar de GOSMA aquela coisa produzida por BILAC ? Não é um pouco pesado ?
Mas é impressionante que na humanidade as pessoas são sempre insatisfeitas. Por exemplo, da mesma forma que você se referiu à Bilac, o próprio Bilac certa vez se referiu a Augusto dos Anjos.
Quando Augusto dos Anjos morreu, um amigo ficou muito triste, e este também era amigo de Bilac. Bilac perguntou o que se passava. O amigo disse: É porque faleceu um grande poeta, chamado Augusto dos Anjos. Bilac, que não conhecia, pediu para o amigo recitar um de seus poemas. O amigo recitou um deles e o grande Bilac apenas disse:
"Fez bem em morrer mesmo!"
rs rs
De modo que não se pode agradar a todos. Pode ser que no futuro alguém diga a mesma coisa de ti.
Abraços,
E obrigado pela gravação.
Dihelson Mendonça
Valeu, mago das teclas, bruxo das harmonias, Bilac de fato não me desce de forma nenhuma, sua postura, sua falta de tema, sua estética, prefiro infinitamente Augusto dos Anjos, o poeta que você demonstrou conhecer em detalhes.
Quanto à gravação,foi muito massa, principalmente ter conhecido as alquimias harmônicas de suas composições populares e ter testemunhado momentos fantásticos seus ao piano, misturando Paganine ao jazz. Cara, voltei pra casa com um sorriso imenso e a alma lavada, com um monte de cultura a mais na bagagem. Voltei ouvindo um show de Frank Zappa em Nova York e comparei a concepção harmônica dele com a sua, em alguns chorinhos apresentados por você, o aprofundamento dissonante é o mesmo. O bom é que você está vivo, está pertinho da gente e é profundamente generoso, para quem tem um talento genial como o seu.
Voltarei em breve, com muito mais tempo, pra desfrutar do seu acervo e do seu brilho.
abraços
Amigo Marcos,
Eu é que agradeço tão boa companhia...
Não é todo dia que a gente tem o prazer de ouvir música na essência, e comentar aqueles trecos com gente que realmente entende e que ouviu de tudo. De Zappa a Stockhausen, de Bach a Hermeto. Tanto é que eu nem deixaria vc sair , não fosse o horário, pois tem zilhões de coisas interessantes a se ver ainda, a conversar e compartilhar. Mas teremos tempo...
Eu muitas vezes me sinto muito só nesta gleba sêca por não encontrar muitas pessoas que possamos conversar abertamente sobre tudo em música. Claro que muitos entendem quando se fala: CHICO BUARQUE.
Mas o Chico para minha ( nossas ) concepções é um compositor popular muito bom e tal, mas pra mim, não é o GRANDE LANCE. Eu não estou mais hoje em dia atrás de acordes com sétima maior nem nonas. Isso eu toquei nos anos 80 e 90. Chegou um ponto em que eu começo a compreender o que o Hermeto disse certa vez numa entrevista e que eu na época achei muita petulância e esquisitice dizer que não ouvia mais os caras desse mundo, e que ouvia música de outros planetas de outros universos.
É porque a coisa naturalmente leva a isso. Eu comecei como vc viu, a trabalhar também esse negócio do som absoluto, o som das auras, em que tudo pode ser música. Cage fez alguma coisa, outros músicos contemporâneos estão trabalhando nisso e o próprio Hermeto é um expoente nesse som das auras no mundo moderno. E eu vejo que a música na sua forma mais pura é isso, é você lidar com qualquer tipo de som, tudo é música, basta captar e aguçar a sensibilidade. As outras músicas continuarão existindo, elas são parte integrante, mas são como rios, e todas elas desaguam nesse mar que é a música plena.
Sendo assim, se for ver por fatores culturais, eu consigo entender a música regional, a MPB, as coisas terrenas, ligadas às pessoas... são organizações tonais humanas.
PROCURO UMA MÚSICA NÃO HUMANA. Busco algo que vislumbrei com os ouvidos e olhos da mente, e que de vez em quando se materializa para mim, e eu tento guardar um pouco desses momentos em composições ou improvisos, ( Como aquele exemplo dos Pássaros e do Telefone ).
Tudo está aí para o banquete de todos! Que pena que ninguém tem fome, nem reconhece a comida.
Eu não sei aonde esse negócio está me levando, devido a estar em mar muito aberto, mas algo me guia, e é um caminho sem volta que eu provavelmente acabarei sozinho, pois o povo quer me ouvir tocar MPB e eu não to mais a fim de ser garçom.
Mas enquanto tiver pessoas com a sua inteligência e conhecimento para dialogar sobre assuntos sérios, e até de me contribuir com valiosas dicas e estímulo, a caminhada pelo mundo dos sons será muito proveitosa. Creio que algo de grandioso ainda irá no fim acontecer. Talvez algo finalmente original ( coisa difícil ), já que já foram até as bordas da galáxia e pensamos às vezes que nada mais há por se inventar. Mas sempre há.
E se assim acontecer, essa busca não terá sido em vão. Tijolo por Tijolo. Por isso, não me arrependo de não ter queimado nenhuma etapa: do velho Richard Clayderman, Pedrinho Mattar, Ernesto Nazareth, Tom Jobim, Bill Evans, Debussy, Stravinsky...é dentro de uma linha do tempo e de profundidade.
Resta que após absorver essas coisas, eu possa TENTAR dar um passo, uma pequena contribuição que seja para a arte da música, afinal, essa é a verdadeira função de todo artista: Tentar ir além...
Um grande abraço,
E muito Obrigado.
Vamos tentar marcar pra Domingo...
Dihelson Mendonça
Meu caro Marcos Leonel:
Confesso que esperava argumentos históricos para ANIQUIULAR as notas: “BBC desfaz calúnias sobre a Inquisição” e “Inquisição:Mito e realidade histórica”, do Prof. Dr. Roman Konik.
Na verdade a réplica deveria ser dirigida a essas duas fontes.Apenas as reproduzi.
Mas, quanto à réplica ela não veio.Sobreviveu uma poesia subjetiva, de forte apelo emocional. Só isso! Não entrarei no mérito de sua criação literária, que – como poesia, – tem lá seu valor e mostras da sua inegável inteligência. Mas, essa poesia, não vale como refutação histórica.
Quanto á verdade histórica ela continua a mesma: Como instituição permanente e para toda a Igreja, a Inquisição foi estabelecida pelo Papa Gregório IX no ano de 1231. E a Inquisição durou até o século XVI, quando foi substituída pelo Santo Ofício.
Rino Camillieri, autor do livro La Vera Storia dell Inquisizione, ed. PIemme, Casale Monferrato, 2.001, afirma que em 50.000 processos inquisitoriais uma ínfima parte levaram à condenação à morte, e dessas só uma pequena minoria produziu efetivamente execuções. ( Cfr. op. cit , p. 17) Diz ainda esse autor que na principal cidade medieval --centro da heresia cátara-- , em um século, houve apenas 1% de sentenças à morte (Cfr. Op cit. p. 36). Um outro autor dá o número total de condenações à morte em Toulouse, durante 100 anos: 42 sentenças.
E isso no local mais povoado de hereges, na Idade Média. Hoje é possível fazer uma história objetiva da Inquisição. Leiamos a notícia abaixo:
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 16 de junho de 2004 (ZENIT.org).- Atualmente, os pesquisadores têm os elementos necessários para fazer uma história da Inquisição sem cair em preconceitos negativos ou na apologética propagandista, afirma o coordenador do livro «Atas do Simpósio Internacional “A Inquisição”». No volume, Agostino Borromeo, historiador, recolhe as palestras do congresso que reuniu ao final de outubro de 1998 no Vaticano historiadores universalmente reconhecidos especializados nestes tribunais eclesiásticos.
«Hoje em dia --afirmou essa terça-feira, em uma coletiva de imprensa de apresentação do livro, o professor da Universidade «La Sapienza» de Roma-- os historiadores já não utilizam o tema da Inquisição como instrumento para defender ou atacar a Igreja». Diferentemente do que antes sucedia, acrescentou o presidente do Instituto Italiano de Estudos Ibéricos, «o debate se encaminhou para o ambiente histórico, com estatísticas sérias».
O especialista constatou que, à «lenda negra» criada contra a Inquisição em países protestantes, opôs uma apologética católica propagandista que, em nenhum dos casos, ajudava a conseguir uma visão objetiva. Isto se deve, entre outras coisas --indicou--, ao «grande passo adiante» dado pela abertura dos arquivos secretos da Congregação para a Doutrina da Fé (antigo Santo Ofício), ordenada por João Paulo II em 1998, onde se encontra uma base documental amplíssima.
Borromeu ilustrou alguns dos dados possibilitados pelas «Atas do Simpósio Internacional “A Inquisição”». A Inquisição na Espanha, afirmou, em referência ao tribunal mais conhecido, celebrou entre 1540 e 1700, 44.674 juízos. Os acusados condenados à morte foram 1,8% e, destes, 1,7% foi condenado em «contumácia», ou seja, pessoas de paradeiro desconhecido ou que em seu lugar se queimavam ou enforcavam bonecos.
Pelo que se refere às famosas «caçadas de bruxas», o historiador constatou que os tribunais eclesiásticos foram muito mais indulgentes que os civis. Dos 125.000 processos de sua história, a Inquisição espanhola condenou à morte 59 «bruxas». Na Itália, acrescentou, foram 36 e em Portugal 4. «Se somarmos estes dados --comentou o historiador-- não se chega nem sequer a cem casos, contra as 50.000 pessoas condenadas à fogueira, em sua maioria pelos tribunais civis, em um total de cem mil processos (civis e eclesiásticos) celebrados em toda Europa durante a Idade Média».
Proporcionalmente, as maiores matanças de bruxas aconteceram na Suíça (foram queimadas 4.000 em uma população aproximada de um milhão de habitantes); Polônia-Lituânia (cerca de 10.000 em uma população de 3.400.000); Alemanha (25.000 em uma população de 16.000.000) e Dinamarca-Noruega (cerca de 1.350 em uma população de 970.000). Com o termo Inquisição, explicou Borromeo, designa-se o conjunto de tribunais eclesiásticos que por expressa delegação papal tinha jurisdição para julgar o delito de heresia.
Os primeiros comissários («inquisitores») foram criados pelo Papa Gregório IX (1227-1241) com o objetivo de combater heresias em determinadas regiões. Progressivamente, com o passar do tempo, o papado dotou esta instituição de uma organização própria, de burocracia e normas particulares (especialmente para os processos) que deram um rosto específico à Inquisição», ilustrou.
«Particularmente ativa nos séculos XIII e XIV para combater os movimentos heréticos medievais (sobretudo os cátaros e os valdenses), a Inquisição experimentaria um enfraquecimento em sua atitude no século XV», relatou. «Mas viveria uma reabertura nos séculos XVI e XVII com a fundação dos novos tribunais da península Ibérica --cuja ação se orientou principalmente contra os pseudoconvertidos do judaísmo e do Islã-- e com a criação do Santo Ofício romano, concebido em um primeiro momento como instrumento de luta contra a difusão do protestantismo».
«Os tribunais foram suprimidos entre a segunda metade do século XVII e as primeiras décadas do século XIX». «O último tribunal que desapareceu foi o espanhol, abolido em 1834».
E o resto é só metáfora e repetição de textos suspeitos escritos por autores inimigos da Igreja Católica...
Armando, caro amigo, essa ainda não foi a réplica, foi apenas uma poesia com a temática da inquisição. Tenho encontrado problemas com o horário, pois estamos em reta final do ano letivo e muito próximos dos vestibulares, escrever sobre isso requer atenção. Mas aguarde um pouco mais e teremos muito o que debater, tô doido pra entrar na discussão do baile e só posso passar rapidamente pelo blog.
abraços
PREZADO ARMANDO RAFAEL,
Ai de nós se não fosse a contraposição do Armando Rafael. O mundo e a Blogosfera Caririense seria chatíssima sem a participação sempre atenta do Armando, que parece guardar no BOLSO, pequenos artigos colecionados ao longo da vida para soltar na hora mais oportuna, ou ele deve conhecer bem os caminhos da Wikipédia...rs rs
De qualquer modo, isso é um elogio à sua atuação. Não é todo dia que temos um debatedor do nível de um Armando Rafael, Monarquista doente, defensor da Igreja Católica Apostólica Romana, seguidor de Pedro Pedra Petrificado, cidadão que acorda cedo, praticante dos sermões do Domingo de manhã, defensor da Tradição, da Família e da Propriedade!
Mas muita água ainda vai rolar por baixo e até por cima da ponte, e só quero pedir ao Armando que se segure aí na cadeira, porque nossos debates são apenas de idéias, e o verdadeiro AMIGO Armando Rafael é para sempre. Eu diria: Uma FIGURAÇA... na linguagem de hoje...
Abraços Sinceros,
Dihelson Mendonça
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