Por muitas e muitas vezes fiquei a escutar Zé Bento narrando suas peripécias em Porto Franco. E assim, a imagem da cidade foi se formando na minha mente. Imaginava-a, pois, de acordo com a descrição dada por Zé Bento: uma cidadezinha meio que perdida no ermo maranhense, habitada por um povo simples, ordeiro e acolhedor, e de um lazer quase que restrito às bebedeiras e namoricos ingênuos nos barzinhos ou à beira do Tocantins.
Agora, estávamos atravessando, extasiados, o Parque Nacional da Chapada das Mesas, devidamente alimentados, tanto física como espiritualmente, em rumo a Porto Franco. Zé Bento, experiente conhecedor daquelas plagas, assumiu a direção da estrada e completava a estonteante paisagem com uma narrativa repleta de entonação e detalhes.
Antes de aportamos em Porto Franco, ainda tocamos o solo tocantinense, visto que atravessamos a ponte, na rodovia Belém-Brasília, que divide o Maranhão do Tocantins, passando por uma cidade, relativamente nova, visto que foi desmembrada de Carolina, chamada Estreito. Este esquisito topônimo deve-se ao fato de que ali encontra-se o ponto mais estreito do Rio Tocantins.
Lá, a caminho de Porto Franco, nós pisamos a terra tocantinense, quando aproveitei e registrei o instantâneo ao lado: a ponte da Estrada de Ferro Norte-Sul, que fica paralela à “estreita ponte” que nós atravessamos para em seguida retornar ao solo maranhense.
Por do sol no Rio Tocantins, Porto (MA)
Nossa primeira parada foi na casa de um simpático e acolhedor casal, seu Políbio e dona Dinorá, velho conhecido de Zé Bento, pois foi na sua pensão que ele primeiro morou em Porto Franco. Então, na medida em que corria a notícia de que estávamos lá, foi chegando os velhos amigos de Zé Bento: Hélbio, filho de seu Políbio, Aderson Filho, atual vice-prefeito de Porto Franco, conhecido por Adersinho, e sua esposa; Maria, que era a cozinheira da pensão de Seu Políbio, e tantos outros que não deu pra saber quem era. De lá, fomos para uma bucólica barraca na beira do rio, tomar umas cervejas para comemorar o reencontro. Não demorou muito e lá chegou Vaner Mota, irmão de Adersinho e atual secretário de Cultura do município. Foi Vaner que, dias depois, fez uma revelação pra mim inédita e que já foi assunto de uma postagem que fiz ainda em Araguaína, para onde fomos após deixar Porto Franco. Mas, por conta de um fato novo, eu voltarei ao tema na próxima postagem.
P.S.2: Armando, um dos companheiros de viagem, fez o seguinte comentário:
"Por curiosidade, durante nossa estadia naquela cidade, procurei saber a origem do nome Porto Franco. Disseram-me que na cidade de Tocantinópolis (TO), separada de Porto Franco apenas pelo Rio Tocantins (cerca de 1.200 metros), viveu – no início do século passado – um padre, João de Souza Lima. Este, tornou-se chefe político e perseguia de forma feroz os inimigos, que para escaparem das arbitrariedades do sacerdote fugiam para a outra margem do rio, já no Maranhão, onde existia um vilarejo que passou a ser um “porto franco” para os fugitivos. Àquela época, Tocantinópolis pertencia a Goiás e era a maior cidade da região. Hoje, apesar de ser sede de diocese, Tocantinópolis é menor do que Porto Franco.Disseram-me, ainda, que o famoso Padre João terminou seus dias suspenso,pela Igreja Católica, das ordens sacras. Tudo por conta de suas atividades políticas. Porto Franco foi elevada à categoria de cidade em 29 de março de 1938.Um fato recente e interessante: nas eleições deste ano, o atual e jovem prefeito de Porto Franco, Deoclides Macedo, foi reeleito com o maior percentual do Brasil: 90,50% dos votos válidos. Este fato foi destaque na mídia brasileira. Deoclides é do PDT e o vice, Aderson Motta Marinho, é do PSDB. A dupla elegeu toda a bancada de vereadores. A outra candidata – Gilca – da “Base do Governo” – apoiada pela família Sarney – teve apenas 747 votos..."
2 comentários:
Carlos,
Por curiosidade, durante nossa estadia naquela cidade, procurei saber a origem do nome Porto Franco. Disseram-me que na cidade de Tocantinópolis (TO), separada de Porto Franco apenas pelo Rio Tocantins (cerca de 1.200 metros), viveu – no início do século passado – um padre, João de Souza Lima. Este, tornou-se chefe político e perseguia de forma feroz os inimigos, que para escaparem das arbitrariedades do sacerdote fugiam para a outra margem do rio, já no Maranhão, onde existia um vilarejo que passou a ser um “porto franco” para os fugitivos. Àquela época, Tocantinópolis pertencia a Goiás e era a maior cidade da região. Hoje, apesar de ser sede de diocese, Tocantinópolis é menor do que Porto Franco.
Disseram-me, ainda, que o famoso Padre João terminou seus dias suspenso,pela Igreja Católica, das ordens sacras. Tudo por conta de suas atividades políticas.
Porto Franco foi elevada à categoria de cidade em 29 de março de 1938.
Um fato recente e interessante: nas eleições deste ano, o atual e jovem prefeito de Porto Franco, Deoclides Macedo, foi reeleito com o maior percentual do Brasil: 90,50% dos votos válidos. Este fato foi destaque na mídia brasileira. Deoclides é do PDT e o vice, Aderson Motta Marinho, é do PSDB. A dupla elegeu toda a bancada de vereadores. A outra candidata – Gilca – da “Base do Governo” – apoiada pela família Sarney – teve apenas 747 votos...
De muito valor estas memórias de viagem publicadas nos blogs locais. Dois excelentes homens de letras.Carlos Rafael,músico, poeta e professor sério e seguro; Armando Rafael, escritor e historiador. São irmãos e amigos. Vêm de uma família digna, tendo os dois outros irmãos que se destacam pela competência nas funções que exercem na região e fora dela. É assim a nossa intelectualidade. É pródiga em produzir conhecimentos. Até nas momentos de lazer, aproveitam o ócio e o transforma em informação. Lembro aqui de dois eminentes escritores de nossa terra: Thomé Cabral e J. de Figueiredo Filho. Este escrevia as suas impressões de viagem na Revista Ytaytera. Thomé Cabral chegou a escrever um cultuado livro "A Europa é bem ali", sobre seu passeio pelo Velho Mundo.
O Blog do Crato e os blogs associados na região, hoje, parecem ser, (num temível exagero), os únicos meios privilegiados do registro da produção intelectual e de conhecimento que temos. Outrora, um conjunto de instituições nas áreas de ensino, cultura e informação publicavam jornais oficiais e marrons, revistas, livros, separatas,coletâneas, almanaques etc... e lá estavam os nossos escritores.
Zé Nilton
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