TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 6 de dezembro de 2008

Meditação

Não é heresia detestar um poema.
Rasgá-lo, cuspi-lo, jogá-lo ao vaso e dar descarga.
O poema é feito de matéria mesclada.
Há em certas obras muito barro e pouca água.
Ou muitas nuvens e quase nenhum chumbo.
O poema não é terra santa e imaculada.
Pisemos, torçamos, desembrulhemos o poema.
A voadura atingirá mais céus.
O poema só não pode ser dividido em partes iguais.
Pois da forma semiótica em que é criado
quando se reparte a verdade se perde.
O poema é o todo - e de cada um, o seu próprio.
O único castigo no dorso do poema
é quando o poeta toma as dores das chicotadas.

Um comentário:

Antonio Sávio disse...

"O único castigo no dorso do poema
é quando o poeta toma as dores das chicotadas". Já vale por outro poema. Perfeito meu caro. Parabéns.