Emerson Monteiro
Às vésperas do Natal, me vem ao pensamento uma história que li certa vez, de autoria do escritor russo Leon Tolstoi, a qual pretendo narrar em seguida.
Próximo de estrada deserta, em região russa com poucos habitantes, morava um solitário casal de anciãos. Era a época natalina. Nesse ano o inverno chegara com intensidade poucas vezes presenciada, de frio excessivo e neve acumulada, isolando ainda mais os moradores daquela área.
Determinada noite, o velhinho sonhou com Jesus a chegar em sua residência e lhe dizer que viria comemorar junto deles o seu aniversário. Podiam aguardar que, de certeza, chegaria para cearem na noite de Natal.
Ao despertar, o homem contou o sonho à mulher, que ficou feliz pela notícia recebida. Nessa hora, trataram de planejar a festa incomparável que se prenunciava. Organizariam as coisas de modo a transformar o pouco de que dispunham num laudo banquete, acrescentado de zelo e amor para com Deus.
Desse jeito se organizaram até que chegou a data prevista. Nesse dia, trabalharam um tanto mais. Casa limpa, tudo brilhando de asseio, lareira esperta e mesa pronta. Transcorreram manhã, tarde, início de noite. Os dois não se cabiam de alegres, vista oportunidade rara com a qual se deparariam.
O tempo lhes aproximava do grande momento, quando ouviram batidas na porta. Rápidos movimentos. Fustigado pela nevasca que cobria a noite de escuridão, humilde viajante, abatido de longa jornada, vinha ali pedir arrancho. Caminhara muito sob difíceis condições. As suas forças exauridas reclamavam urgente repouso.
Os dois velhinhos acolheram de bom grado o visitante. Das mínimas reservas que possuíam ofereceram ao necessitado, servindo, sem outra alternativa, o próprio alimento que haviam preparado à espera do Mestre Divino, motivo principal daquela data.
Nisso as horas se passaram e ninguém mais chegou. Tarde da noite, comeram juntos do que sobrara, indo depois se recolher. No entanto, sensação de surda interrogação permaneceu entre eles: Qual a razão do sonho auspicioso? Deus nunca falta, mas prometera lhes visitar... Ainda assim, deixaram de falar no assunto e seguiram a rotina dos dias.
Menos de uma semana depois, o ancião volta a sonhar. No sonho, de novo se avista com Jesus, vislumbrando boa ocasião de perguntar o que se verificara para não cumprir a promessa do de Natal, ouvindo dele essas afirmações inesquecíveis:
- Lembra do viajante a quem receberam na noite de Natal? - indagou o Mestre, e acrescentou: - Pois sou eu aquela pessoa tão bem recebida pelo carinho dos seus corações. Desse jeito, quando qualquer um fizer o que fizer ao menor dos pequeninos deste mundo, a mim o faz. Saiba disso quem quer crescer no caminho da Eterna Felicidade.
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