Marta, lembrei de vc ao ler esse texto...
Se o sujeito fosse objeto
Eu queria ser um sabonete para me esfregar no corpo das pessoas, de modo a limpá-las, perfumá-las, passar pelas extremidades, pontas, cantos e recôncavos, sem me prender, apenas deslizando e escorregando.
Eu queria ser uma cerveja gelada para descer pela garganta sedenta percorrendo os caminhos interiores refrescando, trazendo liberdade, possibilidades e aventuras.
Eu queria ser um fósforo para que minha cabeça fosse raspada, fosse lixada, criando num átomo de segundo a luz, o fogo e a brasa que ilumina, aquece e cria vida.
Eu queria ser uma bolsa para carregar as coisas úteis e inúteis. Mas que contém os desejos, as bobeiras, as marcas sagradas das personalidades únicas de seus donos.
Eu queria ser um binóculo para alimentar de distância, de espaço, a curiosidade humana. Talvez assim permitir e instigar a enxergar longe e criar a real possibilidade de que o longe está tão perto, está ao seu alcance.
Eu não queria ser um controle remoto nem remotamente pensando. Pensar em apertar botões para mudar a realidade sem sequer tocá-la é o que eu não desejo.
Mas eu poderia também ser uma calça para acariciar pernas que se agitam e se movimentam rumo ao desconhecido. Proteger e esquentar essas pernas roliças que se roçam e quase se trombam na tarefa diária de encontrar seu destino. Mas se eu fosse uma calça eu manteria meu zíper aberto proclamando todo meu tesão e meu sexo despudoradamente, convidando os incautos e os líberos a momentos de intimidade e insanidades.
Eu queria ser um dicionário para conter todas as palavras, todas as dores, todos os nomes, todas as variações, timbres, acentos e entonações para minha vida, para todos os momentos e ocasiões.
Eu queria ser uma mesa para ter em cima de mim as partes de um todo qualquer. Para conter as realidades e os objetos que irão servir para a realização de todos os projetos e sonhos. Afinal para que serviria a mesa? Para que as pessoas sentassem ao meu redor e se reunissem, ou se alimentassem ou trabalhassem. Para que as pessoas batessem querendo me destruir e mesmo assim eu continuasse ali, forte e estático.
De que valem os objetos na poesia pura das palavras se não a possibilidade de chegar ao âmago das inventadas necessidades humanas?
Autor Roberto Messias
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