TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 20 de dezembro de 2008

João Ninguém

João Ninguém
Que não é velho nem moço
Come bastante no almoço
Pra se esquecer do jantar...
Num vão de escada
Fez a sua moradia
Sem pensar na gritaria
Que vem do primeiro andar

João Ninguém
Não trabalha e é dos tais
Mas joga sem ter vintém
E fuma Liberty Ovais
Esse João nunca se expôs ao perigo
Nunca teve um inimigo
Nunca teve opinião

João Ninguém
Não tem ideal na vida
Além de casa e comida
Tem seus amores também
E muita gente que ostenta luxo e vaidade
Não goza a felicidade
Que goza João Ninguém!

João Ninguém não trabalha um só minuto
E vive sem ter vintém
E anda a fumar charuto
Esse João nunca se expôs ao perigo
Nunca teve um inimigo
Nunca teve opinião

Autor: Adivinhe ( se puder )
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3 comentários:

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Dihelson: o nosso poeta da Vila era de fato um ser no limite. Ninguém foi, na música, maior cronista da cidade e seu tempo. Mas poucos foram tão boêmios e viveram a vida tão no limite do João Ningúem, vendendo o almoço para usar no jantar. Lembro de uma entrevista de Dona Neuma da Mangueira falando de Noel que frequentava a turma do morro. Ela relatando que no amanhacer da noitada de farra elas davam banho no corpo mirrado do Noel numa bacia e lhe ofereciam um caldo de sustento. Confesso um vício, não consigo ouvir Noel para em seguida não ouvir outra e outra e outra...A respeito veja esta canção com a qual tenho grande apego:

Quando o samba acabou:

Lá no morro de Mangueira
Bem em frente a ribanceira, uma cruz a gente vê
Quem fincou foi a Rosinha, que é cabrocha de alta linha
E nos olhos tem seu não-sei-quê
Numa linda madrugada, ao voltar da batucada
Pra dois malandros olhou a sorrir
Ela foi-se embora e os dois ficaram
Dias depois se encontraram pra conversar e discutir
Lá no morro uma luz somente havia
Era a lua que tudo assistia, e quando acabava o samba se escondia
Na segunda batucada, disputando a namorada
Foram os dois improvisar
E como em toda façanha, sempre um perde e o outro ganha
Um dos dois parou de versejar
E perdendo a doce amada, foi fumar na encruzilhada
Passando horas em meditação
Quando o sol raiou foi encontrado na ribanceira estirado
Com um punhal no coração
Lá no morro uma luz somente havia
Era o sol quando o samba acabou
De noite não houve lua, ninguém cantou

Dihelson Mendonça disse...

Pois é, Zé do Vale, o Poeta da Vila era mesmo um bamba. Eu ia até responder aqui com outro poema magistral, mas vou aproveitar e postar como um novo topico.

Abraços,

DM

socorro moreira disse...

Vocês me matam !