O quarto mais quente
depois que colaram com cimento
a telha de amianto
na janela.
Escrevo suando.
Suor frio, salivas, pruridos.
Tento amigar-me com meus pulmões.
Sem eles penso em bobagens.
Sem meus queridos pulmões não sonho.
As paredes não mais confessam seus pecados.
Os antigos objetos cúmplices da minha insônia emudeceram.
A minha sorte é que sinto aflorando uma suntuosa virose.
As juntas e os tendões delicados
ressentem-se a cada minúsculo passo.
Meus ovozinhos mais murchos -
e bem mais friorentos.
Os olhos é que são danados.
Nao se cansam.
Veem até sombras no olhar das formigas.
O quarto muito quente
depois que fecharam o céu
com uma telha de amianto.
Quando chovia
respingava no computador.
Fiquei com medo,
talvez um curto-circuito.
Ainda se fossem lágrimas.
As mais salgadas.
Aquelas da infância.
Bateu-me uma saudade
da minha Olivetti 45
e das minhas folhas sem pauta.
Corto o tomate para meu filho.
O pequeno adora tomate com sal.
Se tiver molho de soja -
uma delícia.
Caramba como ficou quente o quarto
depois que taparam um pedacinho do céu
com uma telha de amianto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário