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Ultimamente tenho vivido à deriva. Sonhos esparramados pelas estradas do mundo. Sombras espalhadas pelas janelas da vida, sufocando meus íntimos desejos de felicidade. Tenho sucumbido à luz opaca de um amor que não vinga, enfileirando dias mornos, defenestrando as vozes noturnas de minha agonia. Mas ir ao Crato, me fez retomar meu rumo certo. Me fez repor as claves de sol, na pauta dos meus sonhos. Solfejar os bemóis e gorjear as doces mínimas de uma sinfonia que não pára. Ir ao Crato me fez remoçar as vontades. Todas elas. E minha voz passou a ecoar pelas escarpas da Serra em tons de anil, alimentando minha esperança e crença à luz de meus anseios.
Foram muitos os vales e as serras pelos quais passei. Mares revoltos. Dias obscuros. Mas tudo isso é nada. Sinto-me agora liberta dessa sina sombria do passado. Apresso meu passo em busca de remediar a falta do calor da amizade. A falta do olhar que faz enfunar as velas dos sentimentos. A falta do calor das mãos que apertam e desnudam as saudades. A falta dos mínimos momentos de alegria pura e cristalina, nos simples sorrisos que tilintam aos meus ouvidos prometendo a felicidade.
Poderia começar dizendo: uma parte de mim, deixei no Crato. Sim, poderia e não estaria mentindo. Ficaram por aí lembranças tantas que nem sei mais porque ou como consigo sobreviver ao silêncio dessas vozes que agora preenchem o vazio que minh’alma sentia.
Foi sobre isto que me debrucei indo ao Crato. Sobre essas coisas todas que me fazem falta aqui onde (re)pouso quando estou ausente. Doei-me. Entreguei-me apaixonadamente ao meu projeto, ao meu regresso ao Crato. Experimentei o sabor de cada sorriso genuinamente ofertado em verso e prosa. Voei nas asas do vento em sol a pino... Revi os anjos dos amores mais puros... Agucei minha espiritualidade. Mergulhei em plena luz de minh’alma... Renasci!
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Texto de Claude Bloc
2 comentários:
Claude:
Já dizia Rachel de Queiroz: “Pátria é o lugar de onde se vem”.
Já Gibran Khalil Gibran escreveu:
“Todos vivemos sob o mesmo céu, mas ninguém tem o mesmo horizonte”.
Armando Rafael,
Ambos pensamentos são perfeitos na maneira de encarar as "distâncias geográficas" que nossos sentimentos "enfrentam".
Somos, de fato, diferentes na maneira de perceber o que é tátil, mas, na verdade, o grande sentimento, aquele que mobiliza nosso ser até a última instância quando sentimos falta de nossa terra, esse é bem igual, porque incontido, porque absoluto, porque inevitável.
Grata pelas palavras.
Abraço,
Claude
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