E os filósofos da Batateira retornaram à sua original ágora. Uma pequena clareira no Alto do Urubu. Lá retornaram, pois os espaços primitivos são aqueles de maior simbologia. E afinal era um dia especial. Iriam discutir as idéias de Darwin nas comemorações de mais um século. Estavam quase todos: João de Barros, Mitonho, Biô, Fan, Chico Breca, Chambaril, Zé de Dona Maria, Chapa Branca, Vicente de Maria Júlia, e líder maior, Chico Preto, a quem coube o início das conversas.
- O gênio deste homem supera quase toda uma geração. Como um pensador do renascimento trás a interpretação do mundo para a esfera do próprio mundo. A vida não é a mesma, ela evolui, se transforma pela mutação orgânica e pela seleção natural. A vida é uma possibilidade em relação ao meio ambiente que é o somatório de todos os outros sistemas vitais. Quando um organismo se encontra bem adaptado ao meio ambiente ele sobrevive ao longo dos séculos. Mas quando sofre uma mutação e começa a competir em escala diferenciada com outros, ocorre a seleção do mais forte. O mais capaz sobrevive e o menos capaz sucumbe. Mas os que sobrevivem se originam sempre de outras espécies já existentes e deste modo se criaram ramos evolutivos que partiram de espécies primitivas e chegaram às espécies modernas. O homem, por exemplo, se origina de primatas primitivos que evoluíram para o ramo homo ao longo de milhares de anos.
Chico Breca tira o cigarro do bico e rebate Chico:
- E tu tá dizendo que pobre é o fraco e o rico o forte? Que a bodega que vende mais barato e quebra a concorrente é como esta seleção natural? Tu tá dizendo que as regras da competição destes tempos de hoje já eram as regras da natureza? E se assim fosse a competição desenfreada sempre teria existido. Que o cristianismo é uma farsa, que o budismo uma besteira, que a vontade do mundo é um bicho comendo o outro?
Fan solta o tutano do nariz num sopro forte pelas narinas e vem em socorro de Chico Breca:
- É o que esta besteira mesmo tá dizendo. Que não adianta a irmandade, a solidariedade, que não adianta a igualdade. É tudo a lei do forte comendo o fraco. É fera da noite e fera do dia, é fera da primavera, do verão e do inverno. É fera nas leis, nos costumes, em casa e na rua. É fera no rosário, fera na mesa e no altar. É fera pura. Para não dizer outra frase em palavrão.
Chambaril andava muito disciplinado. Tinha lido tudo sobre o darwinismo e foi logo dizendo:
- Pois num é isso mesmo. Uns abestados até chamam de darwinismo social, ou seja a seleção natural, a competição e a seleção do mais capaz, aplicado à regras da sociedade. Mas tudo isso é peido de jumento. A verdade é que Darwin viu a conexão entre os filos das espécies, viu a adaptação das espécies às mudanças ambientais, mas ao tentar uma explicação para tudo que viu, recorreu aos filósofos do capitalismo vitorioso. Thomas Hobbes e o homem como o lobo do homem e a sociedade como uma guerra de todos contra todos. Adan Smith e o egoísmo como o móvel do ambiente coletivo. O egoísmo fazendo o todo funcionar. Malthus e a vida como apenas uma luta pela sobrevivência sobre uma ameaça permanente de falta de alimentos. Por isso o que Darwin teorizou não foi uma nova teoria sobre a origem das espécies, mas esta origem como as leis do capitalismo nascente.
João de Barros levantou o dedo e pediu a palavra e lhe foi dada:
- E sendo deste modo nada temos a comemorar? Afinal o homem apenas repetiu o que leu na sua época.
Nisso Chico Preto mostrou o que era. Um homem de opinião, mas opinião que se move com os elementos da realidade. Chico, concordando com o pensamento de Chico Breca e dos demais respondeu a João de Barros:
- A comemoração é, também, um momento de revelação. Nem sempre nas comemorações se ganha apenas com a repetição do que houve no passado. Por vezes nela nos libertamos de conceitos arraigados que já não se explicam como elemento de hoje.
Mitonho diz: a Darwin o que é de Darwin, a nós ao que vida nos leva. Chapa Branca noutra frase de fecho: se o mundo não é só competição, talvez outras formas de união caibam. Biô na costumeira tirada: se a regra não é a fera, então eu fico com a bela, a bela que nos faz gostar de respirar os segundos da vida. Vicente de Maria Júlia, fecha o ciclo dos filósofos: e que amanhã nesta clareira a beldade esteja conosco, a beldade e sua filosofia do amanhã. Que também se sente conosco: Fila, Corra, Rosa, Memé, Dedê, Fernandina e Leila.
Era o fim da reunião e Chico Preto diz: fundamos a origem de gaia e não mais das espécies.
Com isso até eu que não estou a altura destes filósofos concordei: sem mulher não existe o pleno.
- O gênio deste homem supera quase toda uma geração. Como um pensador do renascimento trás a interpretação do mundo para a esfera do próprio mundo. A vida não é a mesma, ela evolui, se transforma pela mutação orgânica e pela seleção natural. A vida é uma possibilidade em relação ao meio ambiente que é o somatório de todos os outros sistemas vitais. Quando um organismo se encontra bem adaptado ao meio ambiente ele sobrevive ao longo dos séculos. Mas quando sofre uma mutação e começa a competir em escala diferenciada com outros, ocorre a seleção do mais forte. O mais capaz sobrevive e o menos capaz sucumbe. Mas os que sobrevivem se originam sempre de outras espécies já existentes e deste modo se criaram ramos evolutivos que partiram de espécies primitivas e chegaram às espécies modernas. O homem, por exemplo, se origina de primatas primitivos que evoluíram para o ramo homo ao longo de milhares de anos.
Chico Breca tira o cigarro do bico e rebate Chico:
- E tu tá dizendo que pobre é o fraco e o rico o forte? Que a bodega que vende mais barato e quebra a concorrente é como esta seleção natural? Tu tá dizendo que as regras da competição destes tempos de hoje já eram as regras da natureza? E se assim fosse a competição desenfreada sempre teria existido. Que o cristianismo é uma farsa, que o budismo uma besteira, que a vontade do mundo é um bicho comendo o outro?
Fan solta o tutano do nariz num sopro forte pelas narinas e vem em socorro de Chico Breca:
- É o que esta besteira mesmo tá dizendo. Que não adianta a irmandade, a solidariedade, que não adianta a igualdade. É tudo a lei do forte comendo o fraco. É fera da noite e fera do dia, é fera da primavera, do verão e do inverno. É fera nas leis, nos costumes, em casa e na rua. É fera no rosário, fera na mesa e no altar. É fera pura. Para não dizer outra frase em palavrão.
Chambaril andava muito disciplinado. Tinha lido tudo sobre o darwinismo e foi logo dizendo:
- Pois num é isso mesmo. Uns abestados até chamam de darwinismo social, ou seja a seleção natural, a competição e a seleção do mais capaz, aplicado à regras da sociedade. Mas tudo isso é peido de jumento. A verdade é que Darwin viu a conexão entre os filos das espécies, viu a adaptação das espécies às mudanças ambientais, mas ao tentar uma explicação para tudo que viu, recorreu aos filósofos do capitalismo vitorioso. Thomas Hobbes e o homem como o lobo do homem e a sociedade como uma guerra de todos contra todos. Adan Smith e o egoísmo como o móvel do ambiente coletivo. O egoísmo fazendo o todo funcionar. Malthus e a vida como apenas uma luta pela sobrevivência sobre uma ameaça permanente de falta de alimentos. Por isso o que Darwin teorizou não foi uma nova teoria sobre a origem das espécies, mas esta origem como as leis do capitalismo nascente.
João de Barros levantou o dedo e pediu a palavra e lhe foi dada:
- E sendo deste modo nada temos a comemorar? Afinal o homem apenas repetiu o que leu na sua época.
Nisso Chico Preto mostrou o que era. Um homem de opinião, mas opinião que se move com os elementos da realidade. Chico, concordando com o pensamento de Chico Breca e dos demais respondeu a João de Barros:
- A comemoração é, também, um momento de revelação. Nem sempre nas comemorações se ganha apenas com a repetição do que houve no passado. Por vezes nela nos libertamos de conceitos arraigados que já não se explicam como elemento de hoje.
Mitonho diz: a Darwin o que é de Darwin, a nós ao que vida nos leva. Chapa Branca noutra frase de fecho: se o mundo não é só competição, talvez outras formas de união caibam. Biô na costumeira tirada: se a regra não é a fera, então eu fico com a bela, a bela que nos faz gostar de respirar os segundos da vida. Vicente de Maria Júlia, fecha o ciclo dos filósofos: e que amanhã nesta clareira a beldade esteja conosco, a beldade e sua filosofia do amanhã. Que também se sente conosco: Fila, Corra, Rosa, Memé, Dedê, Fernandina e Leila.
Era o fim da reunião e Chico Preto diz: fundamos a origem de gaia e não mais das espécies.
Com isso até eu que não estou a altura destes filósofos concordei: sem mulher não existe o pleno.
Um comentário:
E as belas rezam pela preservação de um bloco inteiro .
Que venham , e se distribuam todos , em cada uma , os filósofos da Batateira !
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