TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 18 de março de 2009

Adeus Miúda!




Foi por telefone que recebi a triste notícia: Miúda morreu. Apenas fiquei em silêncio por um instante e do outro lado completou-se a informação: estava internada num hospital e, bem doente, faleceu.
Quem era Miúda? Nem queiram saber da figura carismática que era essa pretinha, sapeca e destemperada que por muitos anos foi uma espécie de Mãe Torta dos irmãos Jamacaru, especialmente Pachelly. Desde os anos 70, época dos famosos festivais de música que ilustraram o cenário musical do Crato, que Miúda faz parte do meu imaginário. No começo, estava sempre por perto na casa do Seu Abidoral a admirar os nossos ensaios para as performances que nos premiariam nos festivas da canção na quadra Bi-centenário. Era uma repórter de campo nessas noites e contava estórias, muitas delas absurdas, sobre como se comportara o público durante a nossa apresentação, principalmente quando ainda éramos “ O Cacto” (eu, Abidoral, Louro, Geraldo Urano, Chico Carlos, Hoberth e Hidelberto), e acrescentava sua opinião pessoal, crítica, sobre o que vestíamos, as nossas cabeleiras, os “trejeitos”, etc. Mas, no fundo, nos elegia como ídolos e qualquer um do público que viesse manifestar abertamente uma oposição a nossa música ela se arretava e, valente, ameaçava com um cacete os “coisa ruim”. Arrocha peitica! Era o seu grito de guerra.
Enfim, depois de algum tempo em convivência com essa família tão musical, os Jamacarus, Miúda também se tornou uma autodidata no estudo do vilão, viola, cítara e desenvolveu ela própria um estilo de cantar e compor de forma admirável algumas canções. E mais, como artista que era em essência, desenvolveu ludicamente um trabalho de confecção de bonecos que chegou a ser procurado por muitos turistas e amigos e, vaidosa, dizia: Meus bonecos já foram até pro estrangeiro!
Miúda, neguinha sapeca
Alegre ou sisuda,
Brincava de Deus
Com trapos, molambos
E uma tesoura pontuda
E costurava vidas
Com agulha e linhas coloridas.
Nos enlutamos pela perda de ser tão significante e que Deus a tenha bem próximo Dele e, quem sabe, lhe peça ajuda pra moldar o mundo de um jeito melhor. Adeus!
(a foto que ilustra a postagem é de Pachelly Jamacaru)

2 comentários:

Pachelly Jamacaru disse...

Luis, sinto-me comovido com precisas descrições da Pequena-graúda! Suas palavras disseram por mim que me faltou em coragem para escever sobre aquela que como ninguém imagina, trago guardada no coração!
obrigado, abraços.

Pachelly Jamacaru disse...

Obs: esta foto não é de minha autoria, alguém postou no Zoom por ocasião de um concurso tempos atrás. Não lembro bem o autor.