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terça-feira, 3 de março de 2009

Matéria publicada no "Diário do Nordeste", de 3-3-2009


"Milagre de Juazeiro"
Possível relíquia causa surpresa em d. Panico

Bispo dom Panico (na foto ao lado feita por Elizângela Santos) pede prudência na revelação de possível relíquia, feita pelo padre José Venturelli


A divulgação de uma possível relíquia da beata Maria de Araújo pode prejudicar processo de reabilitação do Pe. CíceroJuazeiro do Norte. A divulgação de uma pequena tira de pano fina, de algodão cru, um dos pretensos paninhos sujos de sangue que poderia ser um dos inúmeros do chamado “Milagre de Juazeiro”, protagonizado pela beata Maria de Araújo, é uma surpresa para o bispo diocesano, dom Fernando Panico. O material foi encontrado dentro de um livro da biblioteca que pertenceu ao Padre Cícero, no casarão da Rua São José, no Centro de Juazeiro. “A divulgação está sendo uma surpresa, porque para publicar uma notícia dessa poderíamos ter mais cuidado, prudência, para não levantar falsas expectativas e, quem sabe, até pretextos para comentários desfavoráveis na própria causa da reabilitação do Padre Cícero”, alerta o bispo, dom Panico.
O próprio padre José Venturelli, administrador da área do Horto, admite que as evidências podem confirmar que o material é um dos panos da beata Maria de Araújo ou não. A notícia vem à tona nos 120 anos de registro do primeiro acontecimento de um dos mais de 100. Só que o primeiro deles aconteceu a partir de uma hóstia ofertada pelo Padre Cícero à beata Maria de Araújo, em 1º de março de 1889.Segundo dom Fernando Panico, não há como afirmar nada dos paninhos, que a partir de agora, com a visão reticente do bispo, o padre José Venturelli faz questão de não falar tanto e nem deixar que imagens sejam registradas.
“Não vi. Portanto, não posso ser testemunha ocular e a única informação que me chegou foi de forma genérica. Não tenho segurança em afirmar sequer se foi o padre Venturelli que me deu a notícia”, disse o bispo. Ele admite que, em relação ao processo de reabilitação do Padre Cícero, os panos encontrados com o sangramento da beata não têm nenhuma importância para o processo.
Maior preocupação
Para dom Panico, o que se leva em consideração é toda a história do Padre Cícero. O padre Venturelli vinha mantendo sob segredo o paninho encontrado, em meados de janeiro. Estão guardados, segundo ele, “com muito carinho”. A forma de levar a público a informação é evidente que não chegou a agradar a cúpula da Igreja no Cariri e, para dom Fernando, isso traz uma maior preocupação até no sentido de prejudicar o processo de reabilitação. Ele destaca os cinco anos que se levou para levantar informações e documentos entregues ao Vaticano. Serão, conforme ele, muitos anos para que se tenha algum posicionamento sobre o processo, já que são muitos outros casos sendo analisados. “São mais de duas mil páginas, e isso leva um tempo para análise”, ressalta.Para dom Panico, alguns desses panos sequer poderão servir de provas, já que alguns deles já foram lavados e outros, pelo próprio tempo, devem ter se desgastado. Outro fator é o sumiço dos restos mortais da beata, até hoje um mistério insondável.
Quanto às comemorações em torno dos 120 anos do pretenso milagre, o bispo afirma que a iniciativa partiu da própria Prefeitura de Juazeiro e não da Igreja, mas destaca o início de uma preocupação pastoral a partir da divulgação do pretenso milagre. “Em última análise, se houve milagre, nem é do Padre Cícero nem da própria beata, mas de Deus. Quem age nessas coisas sobrenaturais é Deus. Quando for necessário, vamos tratar do assunto”, diz o bispo, se referindo aos panos encontrados e ao pretenso milagre. Ele disse que não foram enviados paninhos para Roma.Uma outra preocupação exposta pelo bispo é que não se faça da notícia do paninho encontrado um alarde. “Não quero afirmar coisas que não tenho certeza”, diz ele.
O padre José Venturelli afirma que comunicou ao bispo pessoalmente o assunto. Destaca as evidências positivas, por o pano estar no livro que pertenceu a José Marrocos, que chegou a guardar vários deles. E por estar na biblioteca do Padre Cícero, onde também foram encontrados cabelos, e ele enfatiza que alguns “com raiz” podem ser do religioso. A raiz, segundo ele, abre campo para pesquisas de comprovação por meio de exames de DNA. Além disso, um negativo com uma imagem de uma casa, provavelmente nas redondezas do Horto, não se sabe ainda se é da época do Padre Cícero. No paninho estava escrito em italiano “oh, mio dio. Iddio mio” (“oh, meu Deus. Pai meu”). “Provavelmente o Marrocos doou o livro ao Padre Cícero. Merece um pequeno estudo sobre isso”, diz o padre.
A biblioteca de 600 livros, que pertenceu ao sacerdote, teve uma catalogação feita pelos salesianos, nos anos 80. Nesse novo momento, com uma limpeza e escaneamento de algumas capas e contracapas, o material foi encontrado.O trabalho de recuperação e preservação da biblioteca continua. Algo mais poderá ser encontrado, segundo o padre. Um acervo que Venturelli considera muito rico.
Elizângela Santos
Repórter

Um comentário:

jflavio disse...

É interessante pois os paninhos da Beata foram queimados ainda nos anos 40, por orientação de D. Francisco ( estavam na antiga casa de caridade de Crato). É possível que outros existissem e estivessem guardados por fiéis e beatos. O problema é que parece que temos uma veraddeira fábrica de confecção e dependendo da oportunidade eles vão brotadno como por encanto. A pergunta de Mariano é extremamente pertinente. São quantos ? A Reabilitação do Pe Cícero é um inteiro contracenso, a meu ver. Ele já é um Santo popular independentemente do parecer ou não da Igreja oficial. Não é a Igreja Católica que necessitaria se ver reabilitada, ao invés do Padre Cícero ?