TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 16 de março de 2009

Ortega y Gasset. Quem é este homem?

Passei a saber da existência do Ortega y Gasset pelo site do economista Ubiratan Iorio. Em um dos seus principais livros "a rebelião das Massas' ele se refere ao " homem-massa", que nada mais é do que este senso comum que domina todas as instâncias da sociedade. Desde o "intelectual" político ao "artista intelectual" que se pega em pontos óbvios de determinados artistas. A atualidade do pensamento do autor nos faz pensar que ele está ao seu lado, em seu dia a dia e que conhece bem não só a realidade de seu contexto histórico, mas de quase todo o mundo. Ele nos mostra como isso vem aparecer na sociedade com o desenvolvimento do capitalismo, que entre suas falahas, nivela e propaga a informação em detrimento ao conhecimento. Milton Santos também nos fala isso em seu "Por uma outra globalização", onde relata o que ele chama de "Violência da Informação". Abaixo, alguns trechos que me remetem à peça, aos personagens, e por conseguinte à indústria cultural, à universidade, aos meios de comunicação, etc.:
"A característica do momento é que a alma vulgar, sabendo que é vulgar, tem a coragem de afirmar o direito da vulgaridade e o impõem em toda parte. Como se diz nos Estados Unidos: ser diferente é indecente. A massa faz sucumbir tudo o que é diferente, egrégio, individual, qualificado e especial. Quem não for como todo mundo, correrá o risco de ser eliminado. E é claro que esse "todo mundo" não é "todo mundo". "Todo mundo" era, normalmente, a unidade complexa de massa e minorias discrepantes, especiais. Agora, todo mundo é apenas massa.Este é o fato formidável de nosso tempo, descrito sem se ocultar a brutalidade de sua aparência";

"... pensar é, queira-se ou não, exagerar. Quem prefere não exagerar tem que se calar; mais ainda: tem que paralisar seu intelecto e encontrar um modo de se imbecilizar";

"... tentei adotar um novo tipo de homem que hoje predomina no mundo: chamei-o de homem-massa, e ressaltei que sua principal característica consiste em que, sentindo-se vulgar, proclama o direito à vulgaridade e nega-se a reconhecer instâncias superiores a ele";

"Ter uma idéia é crer que se possui as razões dela e é, portanto, crer que existe uma razão, um mundo de verdades inteligíveis. Idear, opinar, é a mesma coisa que apelar para essa instância, submeter-se a ela, aceitar seu código e sua sentença, crer, portanto, que a forma superior de convivência é o diálogo em que se discutem as razões de nossas idéias. Mas o homem-massa setir-se-ia perdido se aceitasse a discussão, e instintivamente rejeita a obrigação de acatar essa instãncia suprema que se acha fora dele".
Trechos extraídos de A rebelião das massas, de José Ortega y Gasset (tradução de Marylene Pinto Michael, Martins Fontes - 2002).
P.S.: Na URCA temos a obra completa do autor em original. Observei a bibliografia básica em todos os departamentos do Centro de Humanidades e até agora nenhum professor trabalha com o pensamento dele que é um dos miores pensadores do século vinte.

Um comentário:

Unknown disse...

Eu dou aula em curso do Centro de Humanidades.
A escolha de determinados autores depende de várias questões, quando falamos de disciplinas em um curso universitário.
Existem as leituras obrigatórias e as opcionais, propostas pelos professores.
Na disciplina de História do Brasil I, que atualmente eu leciono pela parte da manhã, eu indico autores que vão de Stuart Schwartz, Caio Prado Jr., Raymundo Faoro e outros.
Já na disciplina de História Econômica Geral, posso indicar desde Witold Kula até Otto Ohlweiler. Isso não descredencia as pessoas lerem diversos autores e de várias áreas do conhecimento ou não. Trata-se de uma questão de erudição.