Vivemos uma semana de homenagens aos heróis brasileiros, Tiradentes, Pedro, etc. Achei este texto de Júlio José Chiavenato interessante para este momento. Fica aberto o debate para os intelectuais da "Velha" e Nova História, da Geografia Nova ou da Nova Geografia, Filósofos, Sociólogos, etc.
Nos livros de história o povo quase nunca aparece. É Pedro I gritando, Bonifácio propondo, Isabel “abolicionando”, Caxias puxando a espada, um tal de “quem for brasileiro, siga-me” ou “morre um liberal mas não morre a liberdade”. Povo que é bom...
Será verdade?
Fala-se muito que este é um “povinho safado”. Dizem que o brasileiro não luta, aceita os fatos passivamente, e que as grandes mudanças na política acontecem sem sua presença.
Melhor repensar algumas coisas. Quem é o povo? O que são grandes mudanças políticas? E, afinal, a velha e anedótica questão – que país é este?
Antes das respostas, porém, vamos lembrar o óbvio: sem povo, não há história. E repetir o truísmo: a história tem sido escrita pelos vencedores. Especialmente no Brasil, com raras exceções, sua interpretação é feita pelas classes dominantes.
Uma das características básicas da historiografia tradicional é negar ao povo qualquer participação profunda nas mudanças da sociedade. A partir daí se exerce um controle ideológico tendo por base o seguinte: são os “grandes homens”, os “heróis” e os “santos” que lutam pelas massas, pois elas são incapazes de entender a grande política.
O Culto ao herói, ao grande homem, é utilíssimo ao poder. Por meio do mito criado aprendemos a respeitar a autoridade e a não questionar o que é “de lei”. O culto aos grandes homens do passado, feito muitas vezes contra, a verdade histórica projeta-se nos anões políticos do presente, menosprezando a capacidade política do povo de cuidar do seu próprio destino. É muito simples entender, mas bastante complexo desarmar toda essa mitificação.
Séculos de dominação ideológica, nos quais raramente aparece o outro lado da história, levam-nos a acreditar nas “verdades estabelecidas”. Com referência a história do Brasil, é mais fácil as pessoas aceitarem mentira do que a verdade. Uma conseqüência lógica. É uma das grandes forças que mantém a opressão sobre a maioria do povo brasileiro.
Saudações Geográficas!
João Ludgero
5 comentários:
A que elite se refere o historiador José Júlio Chiavenato? A imprensa? Aos que conseguiram graduação numa universidade? Aos que detêm alguma riqueza? Aos que detêm certo conhecimento?
Na introdução de um trabalho sobre a elite política imperial brasileira, José Murilo de Carvalho comentou: "Se é verdade que a historiografia tende a magnificar esse papel [das elites], seria ingênuo achar que se pode resolver o problema reformando a historiografia".
Segundo Thomas B. Bottomore, a palavra elite era usada durante o século XVIII para nomear produtos de qualidade excepcional. Já o teólogo uruguaio Juan Luis Segundo no seu livro "Massas e minorias" defende que os avanços qualitativos da sociedade resultam da interação de forças entre massas e minorias (ou elites). Conclui-se, pois, que
os homens não se dividem entre massas e minorias, embora todos tenham comportamentos massificados e minoritários.
Mas afinal o que são as elites?
Os melhores dicionários da língua portuguesa destacam que elite é o que há de melhor qualidade num determinado contexto, especialmente em um grupo social (Houaiss).
Trata-se de uma minoria altamente criativa que faz a história de um povo avançar do ponto de vista qualitativo. Tal definição já terá causado certa estranheza ao leitor acostumado com os discursos políticos que atribuem “azelites” toda espécie de conservadorismos e atrasos para o país.
Essa obsessão contra as “elites” não passa de uma característica fascista de certa esquerda que ainda raciocina como se o Muro de Berlim não tivesse sido derrubado em 1989.
“Elites” da forma que é atacada torna-se um conceito vago. Estigmatizar “elites” sem qualificá-las é usar a velha tática do bode expiatório...
Elites: o que são
Por Alexandre Brandão da Veiga
A democracia lida mal com as elites. Sobretudo com a sua teorização. No entanto, nenhum regime precisa mais de elites que a democracia. Uma ditadura não se descaracteriza por não as ter. Sob o ponto de vista da vivência individual pouco muda estar dependente do sultão ou de um chefe de piratas barbarescos. No entanto, uma democracia sem elites cai na demagogia, acabando na tirania mais tarde ou mais cedo.
Por isso é preciso pensar as elites de uma forma um pouco mais profunda. É essa uma condição necessária da sobrevivência da democracia.
A primeira questão que nos temos de colocar é o que são. As elites caracterizam-se por duas traves mestras: o coletivo e o melhor.
A elite nunca é uma pessoa isolada. Camões não é uma elite. A superioridade reconhecida individualmente a uma pessoa retira-lhe o estatuto de elite. Está isolada, fora do coletivo. Não é por acaso que nas elites se usa uma relação: a de pertença. Alguém pertence às elites. Como um elemento pertence a um conjunto. Cristo não pertence a uma elite. Cristo está sozinho no seu modelo. Por isso quando falamos de elites falamos por definição de um grupo social. Logo, de uma força social consistente cujas vicissitudes e etologia não se resume a uma biografia pessoal.
Sendo um elemento coletivo, cada biografia individual se pode confrontar com esse grupo. O grau em que se pertence, o modo, ou então o grau ou o modo em que não se pertence a essa elite.
Em segundo lugar a elite caracteriza-se pelo melhor. Ser uma elite não significa forçosamente deter poder. As elites podem aliás ser completamente dele destituídas. Os sayyd, descendentes do profeta, no Egito dos mamelucos mereciam veneração, mas não detinham quaisquer cargos de poder. Em muitos Estados da Índia os brâmanes não governavam.
A existência de uma elite impõe o princípio do melhor numa sociedade, na medida em que a própria existência de elites seja consagrada. Nesse sentido é um desafio e um estímulo para a democracia.
Caro Ludgero,permita-me aproveitar seu espaço para divulgar e recomendar o livro "Genócidio americano:a guerra do Paraguai", deste grande historiador Julio Jose Chiavenato,um dos melhores sobre o assunto.É bom ter ponto de vistas diferentes,principalmente quando durante um século ensinou-se a História do ponto de vistas da elite.Muito Obrigado
Caro Orlando:
A propósito da Guerra do Paraguai, vista pela visão de Chiavenato, meses atrás postei neste blog o artigo abaixo:
A Guerra do Paraguai: a verdade dos fatos
Armando Lopes Rafael
A partir da década 70 virou coqueluche, nas universidades públicas brasileiras, a divulgação de “novas interpretações” para a Guerra do Paraguai, o mais longo e sangrento conflito ocorrido na América do Sul. Boa parte dos professores de história daquela época, passou a adotar como verdade inquestionável o livro “Genocídio Americano, a Guerra do Paraguai”, de Júlio José Chiavenatto. Nele consta que o imperialismo inglês manipulou o Brasil, a Argentina e o Uruguai, integrantes da Tríplice Aliança contra o ditador paraguaio Francisco Solano Lopez. Maus brasileiros continuam – ainda nos dias de hoje – afirmando ter sido Dom Pedro II o causador desse “genocídio”, sendo o imperador brasileiro o culpado pela morte de Solano Lopez.
Em novembro de 1994 ocorreu no Rio de Janeiro, na Biblioteca Nacional, o colóquio
“Guerra do Paraguai–130 anos”, no qual o pesquisador inglês Leslie Bethell – da Universidade de Londres – provou que o quadro econômico do Paraguai, no século 19, nunca incomodou a então poderosa Inglaterra. Bethel demonstrou, também, que a decantada ajuda dos bancos ingleses à Tríplice aliança não passou de 15% dos gastos brasileiros com a guerra.
Já o falecido professor Alfredo Arraes Alencar, em interessante artigo, esclareceu:
“A causa remota da guerra (do Paraguai) foi e megalomania de Lopez. Foi o seu ambicioso intento de conquistar territórios, a fim de estender seu domínio até o estuário do (rio) Prata. Para isso preparou-se largamente, armando o exército, construindo navios e levantando inexpugnáveis fortificações.
Declarou Lopez ao escritor espanhol Bermejo: “Sou soldado e tenho de declarar guerra ao Brasil. Se deixei que meu pai firmasse a paz, foi porque eu queria a glória de mostrar às repúblicas vizinhas que basta o Paraguai para derrubar aquele colosso”.
A causa próxima foi o apresamento do “Marquês de Olinda”, episódio ao qual se seguiu a invasão de Mato Grosso pelos paraguaios. Ao Brasil só lhe restava, evidentemente, o repelir a afronta pelas armas.
Autor de numerosas atrocidades, o ditador Lopez esmerou-se em crueldade no “Morticínio de San Fernando”, em agosto de 1868, quando, já em fuga e vendo traidores por toda a parte, julgou-se alvo de uma conspiração e mandou fuzilar, impiedosamente, dois irmãos (Benigno e Venâncio), um cunhado (Badoya), o bispo de Assunção (Palácios) e quatro ministros (Berges, Bruguez, Allen e Barrios), além de numerosas outras pessoas.
Duas irmãs do ditador e sua própria mãe foram encontradas (pelos brasileiros) prisioneiras, debilitadas por maus tratos, a espera de serem entregues a tribunais militares, conforme testemunho do Visconde de Taunay. O embaixador americano em Assunção, Wasburn, indignado, retirou-se do Paraguai, declarando Lopez “inimigo da humanidade”. O verdadeiro genocida. (Cfe. “História do Brasil” do Pe. Galanti, edição de 1905, tomo IV, página 600). E ainda há quem lamente a morte do “bondoso” ditador, lançando essa culpa sobre o “belicoso” e “sanguinário” Dom Pedro II. A tanto chega a vilania dos detratores da Pátria!”
e por falar em ditadores, leiam este artigo interessante:
"FARIA MELHOR COM UM MÓBILI
por Percival Puggina
Em plena reunião do G-20, Chávez saiu de sua cadeira e foi até onde estava Barack Obama. Nas imagens de tevê que registraram o fato ficou nítida a perturbação inicial do ianque, conhecedor da rotineira falta de juízo do venezuelano. “O que esse sujeito vai aprontar?”, deve ter pensado durante a aproximação. No entanto, Chávez lhe trazia um regalo e o presidente norte-americano descontraiu-se de imediato. Tratava-se de uma versão da obra “Veias abertas da América Latina” do uruguaio Eduardo Galeano.
Para quem não sabe, o livro em questão, vendido como sendo uma leitura que rompe com o ensino tradicional da História, foi publicado em 1971 e sustenta tese originalíssima: nosso subcontinente é pobre porque sempre foi explorado – primeiro pelas metrópoles ibéricas, depois pelos ingleses e, finalmente, pelos norte-americanos. Tenho certeza de que sequer o esclarecido leitor destas linhas tinha notícia de tão inovadora visão da realidade regional, não é mesmo?
Ironias à parte, o mais alienado colegial dos anos cinqüenta do século passado lembra que esse assunto, já então, era tema de colégio. Ora trazido por professores formados na academia dos anos 30, ora por jovens militantes da esquerda, doutrinados nas células onde se planejava o assalto ao poder para alinhar o Brasil com as “admiráveis conquistas da humanidade” alcançadas pela defunta União Soviética.
Enfim, essa é a tese do livro que Chávez escolheu a dedo para presentear a Obama, o que mostra o quanto está atualizada a leitura do caudilho instalado no Palácio de Miraflores. Na mesma semana em que seu pupilo boliviano Evo Morales se declara comunista, marxista e leninista, Chávez resolve entregar esse mimo ao presidente ianque. Se é para ajudá-lo a dormir, faria melhor presenteando-o com um móbili.
O supostamente revolucionário livro de Eduardo Galeano é, na verdade, uma obra reacionária que conspira a favor da ideologia do autor e contra a prosperidade dos nossos países, atribuindo os problemas sociais e econômicos da América Ibérica à ação de maliciosos agentes externos que se vêm aproveitando da nossa inocência. Nada melhor do que a realidade cubana para o desmentir. Há meio século, a antiga Pérola do Caribe rompeu com os Estados Unidos, assumiu, sem pagar um centavo, todo o patrimônio norte-americano na ilha, nunca mais enviou lucro para o exterior, abriu a veia dos russos e passou a beber sangue soviético, em rublos, durante trinta anos. Resultado? Cuba virou uma sucata e atribui sua miséria a quê? À má vontade comercial dos Estados Unidos. Me poupa, Galeano.
Quem leva a sério o livro em questão, a exemplo de Chávez, se deixa cegar pela ideologia e acaba acreditando que somos pobres por culpas alheias. Até parece que aqui sempre se valorizou o trabalho, o mérito e o espírito de iniciativa. Até parece que aqui sempre tivemos bons governos, instrumentos políticos corretos, gestão fiscal rigorosa e elevado espírito público. Até parece que aqui se combate a corrupção e se cultuam elevados valores. Até parece que aqui lugar de bandidos e de corruptos é na cadeia e a Lei se impõe igualmente a todos. Com tantas e tão nobres condutas, se temos uma sociedade às voltas com problemas sociais e econômicos só pode ser por culpa dos outros, não é mesmo? Ou, como contestou alguém, num site em que se discutia a dívida pública brasileira, iniciada com a Independência: “Tente dizer ao seu patrão que não vai trabalhar hoje devido a um resfriado que você pegou há dez anos”.
Postar um comentário