TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 26 de maio de 2009

A nossa FLONA está preocupada com a irmã Caatinga

Por - João Ludgero Sobreira Neto
Lendo recentemente um trabalho realizado por pesquisadores da UFPE, UFRJ e pela ONG Conservation International, onde resultou na obra Ecologia e Conservação da Caatinga, um livro de 800 páginas. Este trabalho despertou a necessidade da solidariedade entre os nossos BIOMAS, já que a nossa FLONA têm muitos defensores e sua irmã Caatinga anda meio esquecida, resolvi publicar este pequeno texto.

Acredito que para alguns, após a leitura ficará desfeito o mito de que a Caatinga é pobre em espé­cies e fenômenos exclusivos. Além de chegar à conclusão que a Caatinga é um bioma extremamente rico em biodversidade, cheguei também a triste realidade, que é o bioma menos protegido do Brasil, já que as unidades de conservação e de proteção integral cobrem menos de 2% de seu território.
Repasso agora algumas informações que reforçam a importância desse bioma, basta perceber que:
1 - Os diversos tipos de composição vegetal - das mais abertas e baixas, com árvores de 1 m de altura, até as mais fechadas, com árvores de até 20 m de altura - compõem um mosaico de paisagens em que são encontradas 932 espécies de plantas, das quais cerca de um terço são endêmicas (só existem lá);
2 - Somente de aves existem 510 espécies, o equivalente a um terço do total encontrado no país;·Nas dunas que se erguem às margens do rio São Francisco se concentram cerca de um terço das espécies do semi-árido, entre elas dezesseis de lagartos, oito de serpentes, uma de anfíbio e quatro de anfisbenas (répteis sem patas chamados de cobras-de-duas-cabe­ças), entre elas a Amphisbaena arda, que tem o corpo esbranquiçado, salpicado de manchas pretas;
3 - De mamíferos, existem 143 espécies, sendo 19 endêmicas. Aqui vivem o mocó (roedor que alcança 40 cm de comprimento), o rato-bico-de-Iacre e o tatu-bola, que enrola o corpo ao se sentir amea­çado), um morcego insetívoro, um marsupial e um macaco sauá, recentemente encontrado na Bahia;
4 - Neste bioma brasileiro e carirriense foram detectados alguns comportamentos surpreendentes: das 240 espécies de peixes identificadas, cerca de 25 conseguem adiar a postura dos ovos, aguardando as chuvas. Os ovos dessas espécies são resistentes, o desenvolvimento do embrião é lento (demora quase um ano) e, ao eclodirem, os peixes (que atingem cerca de 5 a 15 cm de comprimento) vivem em lagoas e poças de água temporárias. Nós sertanejos os chamamos de peixes-nuvem, por acreditarem que nascem das nuvens;
5 - Várias espécies de formigas atuam como dispersoras de sementes. Algumas se nutrem de alimen­tos existentes nos elaiossomos (estruturas das sementes que armazenam reservas nutritivas) e carregam as sementes por longas distâncias. Outras - saúvas, quenquéns, lava-pés e tocandiras ­comem as polpas dos frutos e limpam as sementes, o que favorece a sua germinação.
Lutemos pela conservação e preservação da nossa Floresta Nacional do Araripe, mas não podemos esquecer de lutar também em defesa de nossa Caatinga que vêm sendo bastante agredida pelo sertanejo, é bem verdade que muitas vezes sem alternativa de sobrevivência recorre aos recursos da mesma.
Para os que ainda acreditavam que a Caatinga é pobre, árida e desprovida de vida, os dados acima são reveladores da riqueza biológica nela presente. Um motivo a mais para continuarmos lutando pela preservação e uso sustentado desse bioma. A Biodversidade da nossa Chapada e do seu entorno agradece.
Saudações Geográficas!
João Ludgero
Geógrafo

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