Escuta,
aquele cara lá, que tinha a voz meio rouca
(Será impressão de meus ouvidos avariados?)
aquele poeta, sim, ele está vivo entre as cores do dia
gasto de mil línguas do sol, entre as ruínas dos sonhos
que confirmam mais e mais: o futuro é uma grande mentira!
Um monte de lágrimas, a palavra mais cara, a palavra mais dura
como dura é a cidade para cada criatura
para quem não tem senão o dia de hoje aos pedaços
as ruas vazias, o telefone entregue à poeira, o olhar da mãe
tantos anos
Como se o cara estivesse realmente morto
sua morte não fosse um engano, uma mentira de manhãzinha
Hei! poetas não morrem
Poetas flutuam no tempo, flanam sobre lanugens e telhados
nas sobras do que se abre e se desdobra em noite
E a cidade?
A cidade é silêncio, silêncio de silício
4 comentários:
E eu fui engolida pela minha casa.
O teu poema deixou uma suavidade no ar. Grata pelas sensações.
Suavidade. Gosto dessa palavra.
Escrevi esse poema pensando em Cazuza. Eu não era fã dele. Mas ouvir ele cantando Quase um segundo, de Herbert Vianna, com aquela voz, foi o suficente.
Bom domingo.
o poema tem um incomodamento (se é que a palavra existe) pra quem escreve. no meu caso, foi como a agulha de um tatuador, furando minha pele interna. e sim: como é dura a cidade para cada criatura.
Lupeu, pra um poeta, qualquer palavra é possível e tem direito a existência. "Incomodamento", se não existia, passou a existir. Porque é da natureza do poeta o criar.
É isso aí...
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