TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 11 de julho de 2009

Algumas observações sobre gosto, arte e campo artístico

Quando lancei a provocação que arte é o que você diz que é arte estava dizendo uma meia verdade. As palavras sempre têm um significado diferente no senso comum e no senso estrito.O que me motivou a escrever este post foi um comentário simplório que li sobre critíca me acusando indiretamente de criticar pessoas e não idéias (ou o "produto artístico"). Nada mais mentiroso. Quando me referi a certos textos nunca falei que seu autor era gordo, velho ou feio. No blog já me chamaram de viado e de velho e, com exceção de Marta F., ninguém achou errado tal grosseria. Não que estivessem mentindo. Tenho 53 anos (o blog é feito por adolescentes de 16) e ao contrário de Wilson Bernardo não saio comendo mulheres por aí. Mas voltando a questão do que é arte. Recomendo a leitura de Pierre Bourdieu(O poder simbólico) para que seja mais fácil a compreensão de quem determina o que é arte na nossa sociedade. Bourdieu construiu (outros autores também em outras variações) a noção de "campo" para explicar como a consagração e o reconhecimento operam no nosso mundo (mundinho?). O campo designa uma configuração de relações objetivas entre as posições dos agentes e instituições. O que configura o campo são as posições, as lutas concorrenciais e os interesses. No campo artístico os agentes são os próprios artistas, os críticos,os prêmios outorgados por instituições e, em cada linguagem, as academias os museus etc. Esses agentes assumem pesas diferentes na definição do que é arte (ou arte de qualidade). As estratégias dos agentes/instituições dependem da posição que ocupam na estrutura do campo, ou seja, na distribuição do capital simbólico específico, institucionalizado ou não (reconhecimento interno ou notoriedade externa) e que atrtavés da mediação do habitus(um outro conceito de Bourdieu), os inclina a conservar ou transformar a estrutura dessa distribuição - perpetuar ou subverter as regras do jogo.
Trocando em miúdos. Quando critiquei certos poemas publicados no blog foi à luz do que o campo artístico considera superado e, mesmo dentro de uma estética superada, de alguma forma mal realizado. Agora se as pessoas querem publicar esperando apenas uma recepção baseada nos "sentimentos" ou na "sensibilidade artística" (seja lá o que isso significa) aí é outra coisa. Mas nesse caso, como já disse anteriormente, essa produção fica mais adequada em blogs pessoais onde o carinho e o afeto são predominantes. Nada contra. Muito pelo contrário.

16 comentários:

wilson bernardo disse...

mauricio quem te falou isto...tu é bruxo orixas,cartoamante ou coisa parecida,de qualquer forma fico feliz pois reconhece meu penistencial.
há eu não ando comendo mulheres por ai a tôrta e a esquerda eu como flores chapadas e igunas de furta cores.
beijos mau.

Marta F. disse...

inimigos que viram amigos ficam à procura de um bode expiatório, pra manter a rixa em riste. Em trio melhor uma orgia. Sem metáforas.

Kisses for two, too.

Unknown disse...

Maurício, ao ler esse texto, permita-me dizer que eu não comentei nada porque nem tinha reparado as querelas de antes.
Abraço.

Maurício Tavares disse...

Darlan
ainda bem que você fez a ressalva. Cheguei a pensar que no blog só tinha machão comedor de puta. abraço.

Maurício Tavares disse...

Marta
Prefiro me atracar no campo das idéias evitando, ás vezes, o atracamento corporal. A realidade é dinãmica: "eu vou te dizer agora o oposto do que disse antes".
Besos , quesos e dulces.

Lupeu Lacerda disse...

mauricio tem uma navalha nos dedos
e uma mente veloz
gosto da lucidez dos comentários
sim, é verdade,
acho que nós temos a obrigação de, enquanto "artistas", não sermos "autistas", e balançarmos sempre no mesmo movimento. gosto de escrever pra caralho. mas acredito que sempre, e sempre, posso melhorar meus "achados". considero mauricio um crítico bom. porque? porque sinto sinceridade absoluta em seus comentários. se dói, machuca ou fere... fazer o quê? mauricio é um leitor que lê a fundo. e quem escreve, e "mostra" o que escreve, tem que ser maduro o suficiente pra ouvir um - parabéns! (murcho), ou um: - não gostei! (sincero), na boa? prefiro a verdade.

Maurício Tavares disse...

Lupeu tento, na medida do possível, ser sincero. Não é fácil. O mundo inteiro conspira para que sejamos cordatos, afáveis e para que não ciemos problemas com ninguém ("você pode precisar de fulano mais tarde!").Mas para citar o indizível "eu não posso fazer mal a ninguém, a não ser a mim mesmo". Ou melhorando de nível e citando Cabral "eu quero é que esse canto torto feito faca corte a carne de vocês".

Maurício Tavares disse...

criemos

Maurício Tavares disse...

Errata: "eu quero é que esse canto..." é uma citação de Belchior a um poema de João cabral de Melo Neto. Esqueci de citar Altemar Dutra (só o intérprete?) "Sentimental eu sou, eu sou demais". Sempre respondo com a linguinha de fora quando me perguntam se "citar me excita".

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Mauricio,

Atrasado nos comentários. Nem sei se o lerás.

Acho que é necessário avanço além do "canto torto feito faca..." até para manter a força do dito muito depois que o foi pela primeira vez. Inclusive pelo final do teu texto em que certa escolha estética se adequaria a um blog pessoal (onde o carinho e o afeto são predominantes) e não ao coletivo, pois no coletivo a faca pode lá se encontrar . Mas continuamos na mesma, já que um blog mesmo que pessoal (como o da Fundação Saramago que nem aceita comentários) é por natureza algo público e, portanto, pertence à coletividade de leitores. E se isso ocorre nos dois casos a natureza de uso da faca, ou do corte continua aberta ao debate.

É o que fazemos. Mesmo quando uma "critíca me acusando indiretamente de criticar pessoas e não idéias (ou o "produto artístico")". Afinal ao escrever este post em parte procuras adequar eventual mau entendido em relação a você de que critica as pessoas e não a arte. Em outras palavras está observando a arte e claramente aderente a um parâmetro "à luz do que o campo artístico considera superado e, mesmo dentro de uma estética superada, de alguma forma mal realizado". Se alguém não concorda com tal, seja em debate ou realizando arte é o caso de prosseguimento e não apenas estranhamento, como aquela frase que até pode ser a perplexidade como dito: e isso é arte? Ou ainda "esta coisa ultrapassada?"

São tantas as possibilidades e o seu bem conduzido resumo do texto do Bordieu faz o leitor perceber isso. O que se determina dizer como arte (aliás coisas que que já foram arte hoje chamam-se artesanato e muito se expõe ao lado de peças classificadas de arte)não é apenas uma solução de classificação, mas muito mais compreender-se "as relações objetivas entre as posições dos agentes e instituições". E pelo teu resumo (não li o livro) fica claro: "as lutas concorrenciais e os interesses". Se não estou errado, é uma linguagem bastante histórica, conjuntural e econômica.

Não estou dizendo isso de você. Sinceramente pois já conheço algo do teu pensamento (mais textos como este nos enriquece muito mais)mas o risco de se usar do classificatório normativo fica subjacente.

Então vamos, retornando à questão da crítica, ao andar da realização, da inclusão, da iniciativa de fazer e será neste conteúdo mesmo que tiraremos os parâmetros para a crítica. Algo fora (acima hierarquicamento) desta produção e apenas normativo não seria adequado. Quando o Lupeu que tem uma criação de muito bom nível por diversos motivos, sendo o principal a captura do mundo em acontecimento no momento exato de seu elaborar, deseja o aperfeiçoamento, não o faz movido pelo normativo, mas pelo reconhecimento daquilo que ele mesmo busca no instante mesmo que tomou a iniciativa de começar aquele trabalho. E, Maurício, tenho bons motivos para achar que a sua contribuição neste sentido é importante para o Cariricult, pois afinal toda esta discussão é sobre a crítica (avaliação de tempo, espaço e objeto) daquilo demonstrável como realizado.

Agora sem querer nada de você no momento. Se precisar de você no futuro irei recorrer exatamente por que sei que de outro modo não funcionária. Lembrar-lhe de sua queixa pessoal. Se você retornar a uma postagem antiga intitulada Sobre Duelo e Duelistas, feita no momento de xingamentos aqui queixados por você, quero lembrar-lhe que estive presente. Com respeito às pessoas e ponderando sobre o método e o conteúdo daquele debate. E naquele momento tanto os termos quê lhe aplicavam como o quê aplicastes ao outros se esgotava nas palavras mesmas. Era como se olhando uma briga de rua. Pode até divertir alguns, mas de modo geral se resume a isso. Quanto a embates pessoais desprovido de idéias em contradiçao me refiro a todos nós.

jflavio disse...

O Maurício talvez seja nos nossos blogs aquele que tem mais capacidade técnica para emitir comentários sobra arte e seus desdobramentos. Ele tem capacidade de manter um distanciamento fundamental e, se muitas vezes parece ácido e indigesto, precisa ser sempre ouvido. Podemos gostar ou não gostar do que ele comenta, mas não podemos nos tornar indiferenets ao que diz. Cada um de nós tem o sagrado direito de escrever o que bem lhe interessar e sei que isso muitas vezes serve de catarse. Alguns buscam nuances memorialísticas como se dissessem : "meninos eu vi..."; outros usam a literatura no lugar do psicanalista; outros procuram um cunho mais jornalístico. Todas são formas perfeitamente justificáveis para cada um de nós. Maurício, no entanto, observa tudo com o distanciamento necessário: existe arte escondida nestas tentativas de expressão? Estes escritos servem só a seus donos ou têm o poder de tocar outras pessoas? Em nenhum momento ele buscaou ferir pessoas e autores, apenas atacou artigos que acreditou fossem de qualidade discutível na sua óptica, bastante crítica e técnica. Vi-o sendo atacado pessoalmente muitas vezes e respondeu a tudo isso com uma ironia fina e desestruturante. O Maurício é fundamental nos nossos blogs, goste-se dele ou não. Ele ajuda a todos a pensarem um pouco sobre a qualidade daquilo que estão produzindo. Como há tanto corte de seda, ele põe um pouco de malagueta na culinária. Para alguns o prato pode ser intragável, para outros apenas um condimento que torna o prato mais picante sim, mas mais saboroso. Se já temos tão bom mocismo nos blogs, seja bem vindo o nosso MAU.

Maurício Tavares disse...

JF
Sou um lobinho em pele de bandeirante. Sempre alerta!

Marcos Vinícius Leonel disse...

Maurício Tavares,

grande texto, cara, admiro sempre quem tem cultura e articulação, sendo assim, quem tem cultura e articulação tem que ter opinião, doa a quem doer.

vlw

Maurício Tavares disse...

Marcos Vinícius
Como já comentamos, em uma velha discussão no blog, parece que algumas pessoas têm uma aversão ao pensamento teórico. Como se ele se referisse apenas ao vazio, a embromação. Mas a teoria é necessária mesmo para os que acham que não fazem uso dela (na verdade eles fazem uso de teorias passadas que já se "naturalizaram"). Isso me faz lembrar de uma cena do filme comercial "O diabo veste Prada" quando a ingênua mocinha faz um comentário "pessoal" sobre um determinado cinto. Ela fica chocada quando a editora de moda diz que embora ela pense que não esteja no circuito da moda o azul da blusa dela já foi moda em coleções passadas e que aquele azul, naquela estação, tinha sido escolhido por pessoas com a editora de moda (as pessoas que têm peso no campo da moda). É mais ou menos isso que acontece com a poesia. As pessoas usam um azul de coleções passadas e estão pensando que a escolha foi unica e exclusivamente de suas "sensibilidades poéticas". Não há nada que me choque mais do a burrice arogante.

Marta F. disse...

Isto é uma távola redonda, Mausério, dá vontade de esticar o papo...sem propostas chocantes, agora.
Legal, os escudeiros revelaram finalmente o que minha defesa a você já demonstrava (que você não é tão MAU, rsrsrs).

Fico feliz, sua qualidade reconhecida!
Tens todo o meu aprêço.

Maurício Tavares disse...

Marta a proposta não era chocante. é que você não faz meu gênero (M, F) e WB não faz meu tipo (P, M, G).
Beijinhos doces