TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Chefs Indigestos

O antônimo de vaidade pode ser modéstia e um dos antônimos desta última palavra pode ser alarde ou pretensão. E uma das coisas mais interessantes é que o discurso (a mensagem) se faz com os sinônimos para não cansar pela repetição ou com os antônimos para realçar o que se deseja na mensagem.

Por isso mesmo não é fácil discursar e menos ainda analisar o discurso. Uma das dificuldades é a própria qualidade do discurso para quem se acostumou apenas aos conceitos. Saber as regras gramaticais, ter o hábito da consulta ao dicionário, em si não resolve o problema do discurso. Ele se encontra noutra área.

Como tudo nos tempos atuais, o discurso é objeto da ciência quando se desdobrou em vários ramos, inclusive como fundamento de correntes filosóficas. Ao se tornar objeto da ciência, o discurso não desapareceu da comunicação humana, nem levou à mudez. Agora, então, com os recursos da internet, dos sites, blogs e bate papos, mais se diz, mais se contradiz, mais se acrescenta ou se subtrai.

A questão é: os fatos lingüísticos traduzem o homem. A ciência do discurso pode entendê-lo, mas a emergência do fato continua no domínio de algum modo incerto, do mundo e das pessoas. Por isso a neutralidade é sempre um objeto se desmaterializando.

Voltemos à vaidade e neste momento acrescentemos a arte. Depois de tudo misturado, acrescente ao discurso um desejo de ferir e outro discurso descontrolado. Por último ponha tudo para cozinhar numa boa quantidade de manipulação.

Ao final teremos um alimento discursivo bastante indigesto. Quem dele provar levará horas e até dias com uma imensa gastura. Um paraefeito predominante é como um prato com excesso de pimenta do reino: desperta a fome, mas ao final queima a paz de quem se deixou levar. Igual ao sal ou aqueles “aji no moto”, que ao manipular o centro da sede nos leva a repetir vorazmente aquele mesmo alimento. Isso se deve ao gosto essencial da manipulação.

O problema principal é que cozinhar a arte e a vaidade num diluente de manipulação apenas acresce o sabor da contundência ferina e desbarata a úvula em badalos disparados “across the universe”. A questão é que neste alimento as matérias primas da arte e da vaidade vieram da mesma planta que sofreu tantas mutações classificatórias, tanta sucessão de vanguardismo e conservadorismo, que ao final se prestam apenas para o líquido da manipulação e, neste caso, indigesta.

12 comentários:

socorro moreira disse...

Transportei o texto, depois de copiá-lo , para o terreiro da minha casa.
Gosto de vê-lo por perto até AL DI LA....

Maurício Tavares disse...

Grande Zé do Vale O homem que sabe tudo. Tem até fã clube. Como Michael Jackson. Vamos combinar uma coisa: gosto é como braço. Tem gente que tem dois e tem quem não tem. Algumas poesias e textículos que você acha super digestivos (Reader's Digest?)para o meu paladar são adocidados demais ("Adocica meu amor, a minha vida..."), enjoativos, com gosto de comida velha, passada. Mas como você é o juiz maior ( you gourmet, me gourmand) as suas cheerleaders (?) urram de prazer e gozo com o seu maravilhoso texto (que na minha humilde opinião é bastante confuso). God bless the children!

Dihelson Mendonça disse...

"Só há uma maneira geral de conseguir um fã-clube ou um harém: É massagear o ego dos "indignados". E nem precisa ter bom-senso para isso. Basta ser muito eloquente, ainda que sem sabor..."

DM

Marta F. disse...

Respeitável Sr. não entendo, não entendo...o fluido que te conduz, em que trilhas alcança sabedoria, um clarão sob um véu de sutileza, trouxe a beleza num punhal.
Quem lê, lê para si, bebi da sua receita indigesta num copo quebrado, só assim pude bebê-la. Estou juntando os cacos, a bebida não servia mesmo, repudiei a manipulação, a racionalidade do realismo do seu discurso, tão pungente, quase insuportável, furando. Todo verdade.
Pudera conseguir fazer um mosaico dos cacos, pelo menos pra valer a força da sua luz lançada sobre os que a vêem.

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Cara Socorro: muito me honra me encontrar no convívio dos teus cuidados. Irei por lá.

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Maurício: não esperaria outro comentário seu para este texto. Na medida certa e na prática costumeira foi o teu comentário. Nada se encerra aqui, continuamos vivos neste espaço da nossa cidade. Vamos que vamos.

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Dihelson: como aprendiz de feiticeiro, o teu comentário foi menos do que és normalmente. Por vezes, esta lição é tua, é melhor o silêncio. O qual se prometera há muito tempo.

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Marta muito obrigado.

Dihelson Mendonça disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Dihelson Mendonça disse...

Oh, José do Vale, o grande feiticeiro...

"Falou o mestre..."

Se meu comentário foi tão ínfimo assim, porque te aborreceste tanto? O que é uma pequena formiga como eu, diante de um grande elefante como vós ?

Saiba entretanto, que apenas aos aprendizes é dado o dom de se deliciar com a busca do saber. "A beleza de ser um eterno aprendiz de feiticeiro". rs

E enquanto estiveres a desenterrar caveiras e em mornas palavras tentar na sutileza de um texto hipnogênico como lexotan, atingir as pessoas, estarei a rebater cada uma das palavras, a fim de que a mentira não prospere, como vosso séquito deseja.

Um conselho de aprendiz, se a vaidade do mestre me permite fazê-lo:
Da próxima vez, use mais tempero! Sempre foi difícil ler o Reader´s Digest, mesmo nas manhãs leves de um domingo acinzentado, ainda que bem desperto!

Com todo respeito,

DM

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Dihelson: agradeço pela sua gentileza. Não esperaria de você outro comportamento que não esse.

Dihelson Mendonça disse...

Meu caro José do Vale,

Da mesma forma...

DM