TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 11 de julho de 2009

FILOSOFIA: A LEMBRANÇA-IDENTIDADE QUE ESQUECEMOS DE FAZER TODOS OS DIAS

(FIGURAS RETIRADAS DA INTERNET - SALVADOR DALI)

Disse uma vez Albert Einstein: "Raros são aqueles que vêem com seus próprios olhos e sente com sua sensibilidade". A sensibilidade está relacionada aos sentidos, à percepção e à lembrança. A sensibilidade, a grosso modo, é a capacidade de se perceber diretamente as diferenças, as descontinuidades, as transcendências, os desvios, as quedas, os potenciais, as polaridades, as possibilidades, os caminhos, os meios, as dualidades, as desigualdades, os desequilíbrios, ou seja, os opostos ou os complementares. E por que poucos conseguem perceber por si mesmos? Será por que é mais fácil deixarmos as opiniões, preocupações, fantasias, especulações, ideologias mostrarem o (ir)real por nós? Será por que fomos treinados a perceber aquilo que querem que percebamos? Ou será que perdemos uma capacidade inata de lembrança da nossa origem ontológica-espiritual? Se é assim, como poderemos relembrar o nosso passado existencial onde não éramos carne mais apenas verbo? Éramos apenas consciência que buscava um espaço de materialização num mundo físico apropriado? Ou éramos a "pólvora" da grande explosão na origem do universo? Quem se lembra desse acontecimento original? Quem se lembra de ter comido alguma maçã? Quem se lembra de ter recebido uma ordem divina de despejo da Casa de Deus? Quem se lembra de ter caído de algum andar do prédio da evolução? Quem se lembra de ter sido um anjo caído e mudado de partido e poder na polis divina? Quem se lembra de ter perdido o endereço transcendental? Quem se lembra de ter sido macaco ou uma bactéria em processo de mutação? O que houve de fato na trajetória da vida para vivermos nessa condição de esquecimento do caminho de retorno à verdadeira consciência? Eu confesso que não me lembro de nada - nadinha, nadinha, nadinha. Eu não sinto a diferença de quem eu era na origem e do que sou agora.

Eu só "sei" que esqueci tudo, ou então, que não consigo me esquecer do que não sou. Por isso, a vida para mim é um esforço de lembrança de quem sou eu de verdade e ao mesmo tempo um esquecimento do que não sou. A cada instante sou obrigado a me lembrar, mesmo sem lembrar do ato original, que sou algo muito mais transcendental em relação aquilo que a maioria acredita e tenta me mostrar quem eu sou. É um esforço pessoal sem necessidade de provas experimentais confirmadas por análises exaustivas, e garantidas pelas normas internacionais da ISO. A questão tem uma dimensão que está além dessa dimensão da prova, do teste, da hipótese racional e da comprovação matemática funcional-instrumental. Eu só sei que não sei. Ou melhor, não sei que sei. É algo paradoxal. Por vezes, sinto que sei aquilo que pensava não saber. Mas, esse saber não é conhecimento demonstrativo, mas uma lembrança de quem eu sou. Tudo indica que a questão está nesse processo de relembrar a nossa origem do saber-identidade. E essa origem do saber não é uma especulação racional. É uma observação-experiência sensível de si com lembrança: observai e lembrai (sempre!). É a ordem mágica e criadora. Lembrar sabendo que Eu Sou a vida, a paz, a fé, a esperança, a ética, a fraternidade, o equilíbrio, o ser, o Kosmo, o Mytho, o Logos, o poder, o criar e o amar.

É preciso sentir, observar, ouvir e identificar a sabedoria aonde ela estiver. É preciso recordar a sabedoria daqueles que conseguiram lembrar a sua própria identidade e história existencial (a-temporal). Esse ato nos ajudará a lembrar, por inferência, quem somos. Ouçamos então Jacob Needleman (O Coração da Filosofia, Ed. Palas Athena):

"Há, no coração humano, uma busca que é nutrida apenas pela autêntica filosofia, sem a qual o homem morre como se fosse privado de alimento ou ar. Contudo, essa parte da psique humana não é reconhecida ou respeitada em nossa cultura. Quando emerge à consciência, é ignorada ou tomada por outra coisa. É classificada erroneamente, é negligenciada e reprimida. E, finalmente, pode desaparecer por completo para nunca mais re-emergir. Quando isso ocorre, o homem transforma-se numa coisa. Independente de suas conquistas ou experiências, independente da felicidade que conhece ou da função que exerce, na verdade, perdeu sua possibilidade real. Está morto.

...A função da filosofia na vida humana é auxiliar o homem a recordar. Esta é sua única tarefa. E tudo aquilo que se auto-intitula filosofia, mas que não serve a esta função, simplesmente não é filosofia.

O homem moderno afastou-se de tal modo da filosofia que nem sabe mais que espécie de recordação é essa. Consideramos a memória apenas como uma lembrança mental, porque a experiência da memória profunda escapuliu de nossa vida. Peço-lhes, portanto, que não consultem dicionários ou modernos textos psicológicos em busca de esclarecimento acerca da recordação. Não se trata de algo possível de ser definido de imediato...

...A filosofia não é sagacidade. Não é insensível. Não é irritante. Contudo, é perturbadora e instigante. Além disso, o problema que origina jamais desaparece, jamais tem fim. Por quê? Porque tão logo o homem se recorda, ele imediatamente esquece. Deverá, portanto, ser lembrado indefinidamente - sendo que tais lembranças nem sempre são agradáveis [p. ex.: "Ter que morrer em si mesmo"]"

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