O Estado de São Paulo publicou entrevista com Giles Lapouge, escritor, jornalista correspondente do Estado desde 1951. Historiador da linha Fernand Braudel. O blog do Nassif reproduziu pedaços da entrevista que encerra definitivamente aquele olhar francês, idealizado dos anos 60, de ser o Brasil um paraíso de mulatas e carnaval. Este breve texto nos serve para a refletir sem as nossos ufanismos e a pensar no modelo de sociedade que criamos.
Como você vê o Brasil hoje?
O Brasil parece consolidar sua importância regional. É o país mais relevante da América Latina. Não há outro, nem México, nem Argentina. É um país de dimensões continentais, com uma população imensa e uma inteligência política considerável, construída após o fim da era dos generais. Embora haja gente que não goste dele, Lula é o vencedor dessa reconstrução democrática. Não sei o quão inteligente ele é, mas tem uma intuição política formidável. Tem até lances geniais, como o de não renunciar à sua infância triste, miserável, ou seja, sabe que não deve esconder o passado. Tem também demonstrado discernimento ao não cair nas ciladas de Hugo Chávez. Mas o Brasil precisa resolver um problema sério a meu ver: transformou-se num lugar muito violento. Volto ao livro de Stefan Zweig, Brasil, País do Futuro, e me dou conta de que o tipo de interpretação que ele fez se tornou completamente idiota. O Brasil é um país inteligente, tolerante e até mesmo educado, mas camufla seu potencial de violência e egoísmo. Existe uma cultura brasileira que se interessa pelos outros apenas no plano das superficialidades.
Como assim?
Diz-se que o Brasil é um lugar sem racismo, no entanto, há comportamentos racistas por toda a parte. Essa camuflagem é perniciosa, perversa, porque a tal cordialidade brasileira disfarça relações brutais. Veja o caso americano, e não estou falando especificamente de Barack Obama: aquela sociedade enfrentou o racismo a ponto de hoje vermos cidadãos negros em altas posições, nos mais diferentes setores. No Brasil, raros são os negros que ascendem a posições de destaque. Recentemente, retomei um texto do Cláudio Abramo, Meu País Trágico, e encontrei uma ótima reflexão: esse Brasil gentil, feliz, despojado, guarda uma tragédia no seu interior, porque permite que se morra de fome, de abandono, etc. Mesmo a burguesia brasileira, afável no trato, cria obstáculos a que a verdade social possa emergir. Quando me dizem aqui na França que o Brasil é um paraíso na Terra, contesto. Além do que, francamente, paraísos terrestres não existem.
Como você vê o Brasil hoje?
O Brasil parece consolidar sua importância regional. É o país mais relevante da América Latina. Não há outro, nem México, nem Argentina. É um país de dimensões continentais, com uma população imensa e uma inteligência política considerável, construída após o fim da era dos generais. Embora haja gente que não goste dele, Lula é o vencedor dessa reconstrução democrática. Não sei o quão inteligente ele é, mas tem uma intuição política formidável. Tem até lances geniais, como o de não renunciar à sua infância triste, miserável, ou seja, sabe que não deve esconder o passado. Tem também demonstrado discernimento ao não cair nas ciladas de Hugo Chávez. Mas o Brasil precisa resolver um problema sério a meu ver: transformou-se num lugar muito violento. Volto ao livro de Stefan Zweig, Brasil, País do Futuro, e me dou conta de que o tipo de interpretação que ele fez se tornou completamente idiota. O Brasil é um país inteligente, tolerante e até mesmo educado, mas camufla seu potencial de violência e egoísmo. Existe uma cultura brasileira que se interessa pelos outros apenas no plano das superficialidades.
Como assim?
Diz-se que o Brasil é um lugar sem racismo, no entanto, há comportamentos racistas por toda a parte. Essa camuflagem é perniciosa, perversa, porque a tal cordialidade brasileira disfarça relações brutais. Veja o caso americano, e não estou falando especificamente de Barack Obama: aquela sociedade enfrentou o racismo a ponto de hoje vermos cidadãos negros em altas posições, nos mais diferentes setores. No Brasil, raros são os negros que ascendem a posições de destaque. Recentemente, retomei um texto do Cláudio Abramo, Meu País Trágico, e encontrei uma ótima reflexão: esse Brasil gentil, feliz, despojado, guarda uma tragédia no seu interior, porque permite que se morra de fome, de abandono, etc. Mesmo a burguesia brasileira, afável no trato, cria obstáculos a que a verdade social possa emergir. Quando me dizem aqui na França que o Brasil é um paraíso na Terra, contesto. Além do que, francamente, paraísos terrestres não existem.
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