TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 13 de setembro de 2009

O cariri visto da cumeeira - Por: João Ludgero

As imagens de satélites, ou mesmo o Google Eart, possibilitou a noção do conjunto, da unidade do nossos tão querido e sofrido planeta. E essa visão externa foi extraordinária, porque passamos a ter a consciência de unidade e, também, ao mesmo tempo, a percepção de que a natureza tornara-se um bem escasso.Visto do alto o cariri apresentasse como uma mancha cinza, sem muitas cores. Más se mudarmos a escala, diminuindo-a um pouco, descobriremos um pequeno coração verde no cariri, e este coração é a nossa Floresta Nacional do Araripe. Descendo mais um pouco o Google Eart, veremos que esta pequena mancha verde não é homogênea, pois existe uma grande diversidade dentro dessa unidade, começando pela diversidade dos ecossistemas e passando pela diversidade cultural que existe na nossa região.Sabemos que não é só a tecnologia que muda a percepção do mundo. As diversas formas de compreender o mundo variam com os interesses humanos, e são, via de regra, interesses conflitivos. Em se tratando do entendimento e exploração da nossa região não vai ser diferente.Espero que este pequeno ensaio chame a atenção dos que fazem o cariri, pois este crescimento rápido e alavancado com dinheiro externo, ao mesmo tempo que levanta prédios, derruba matas. Quero dizer que a nossa FLONA, nos últimos anos, passou por profundas transformações. É importante reconhecermos isso, uma vez que, num processo, repleto de sangue, suor, lágrimas e muita fé, como foi o processo de ocupação do cariri. Desde a década de 1980 que vêm ocorrendo mudanças estruturais e fundamentais na nossa região, para citar só uma foi a pseuda política de industrialização promovida por Tasso, onde na verdade veio uma única indústria para o Crato que foi a Grendene, porém promoveu o macrocefalismo urbano no cariri, onde só aumentou a população favelada da mesma. Se não reconhecermos estas mudanças estruturais, não entenderemos os processos em curso e nem poderemos fazer uma reflexão para subsidiar políticas mais conseqüentes para o cariri.Podemos citar algumas mudanças importantes, tais como a conectividade, o cariri até pouco tempo era um grande arquipélago, desligado do território nacional. A conectividade tradicional é a estabelecida pelas estradas, porém, a mais importante é a conectividade pela rede de telecomunicações, que foi vital para o cariri, permitindo a conexão do cariri com o território nacional e com o mundo todo.Não podemos deixar de mencionar sobre outra mudança fundamental que foi a econômica. O cariri vem, nos últimos anos, redefinindo sua economia visando atender às demandas impostas pelo capital hegemônico a fim de torna-se atraente para os novos financiamentos. Tal processo ocorre impulsionado por programas de atração de investimentos privados para o Estado, sobretudo a partir de 1995, com o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Governo Estadual e tendo continuidade até os dias atuais. Antes vivíamos basicamente de atividade do setor primário, a agricultura e o extrativismo, hoje possuímos indústrias, com impactos negativos muito conhecidos.Outra mudança fundamental e preocupante vem ocorrendo no povoamento, que era todo no baixo curso dos rios, e hoje ocupasse as sua cabeceiras, ou seja, o crescimento horizontal de municípios como Crato, Juazeiro e Barbalha, esta indo cada vez mais de encontro com a encosta da chapada, justamente onde fica a nossa mata úmida da FLONA.Acreditamos que a visão dessas mudanças estruturais ajuda, assim, a derrubar certos mitos sobre a nossa região, que é importante destacar, também não revela homogênea, nem na sua percepção interna, nem na sua percepção externa.Não queremos só crescimento econômico, queremos também desenvolvimento econômico, e se possível for com desenvolvimento sustentável, pois o cariri é uma região especial não só do ponto de vista econômico, mas principalmente natural e cultural.
Saudações Geográficas!
João Ludgero

2 comentários:

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Ludgero,

De várias formas procurei me aproximar da minha terra. Das mais recentes foi através da Reitoria da URCA na gestão da Violeta Arraes e da outra foi na Fundação Araripe. Sempre me atraiu o pensamento do Milton Santos. A questão do espaço como um fenômeno por excelência da história humana. Fiz uma razoável leitura do Fernand Braudel, que pelo lado da história tenta chegar ao espaço.

O que você coloca deveria levantar a consciência de todos os que vivem na bacia sedimentar do Araripe. Quando se põe em curso a idéia de sustentabilidade não se quer salvar um espaço vazio, mas o espaço do ser humano. E isso é fundamental.

Acho que o Cariri deveria ter, talvez pela Geografia da URCA ou em outra instituição mesmo que de caráter privado, uma observatório para identificar o território processo da criação do nosso espaço caririense. Vejo neste texto teu uma boa oportunidade para tocares tua juventude com a certeza que fazemos espaço e construímos tempo.

João Ludgero Sobreira Neto Ludgero disse...

É isso mesmoZÈ do Vale,tento com este pequeno ensaio cutucar os nossos pensadores e IES para intervirmos mais nesta ocupação e exploração rápida do espaço caririense.