Por Alexandre Lucas*
O Cariri é um misto de confluências de cores e cultos, reduto de engenharia artística em que as engrenagens são movidas pelos fazeres e pensares populares e contemporâneos.
No Cariri a maquina humana bebe do passado e do futuro para alimentar a alma presente. Aqui é terra firme aonde pousam o soldadinho da chapada e os pássaros mecânicos, em que em que a tecnologia de ponta convive com o ferro de passar a carvão. O Cariri perpassa caminhos do autoflagelo marcado pelo catolicismo popular e das profanas músicas da indústria do embrutecimento cultural.
Pelas ruas das cidades temos os contrastes. Temos o budega e o Shopping Center, os possuidores e os despossuidores Temos a vida circulando, num tempo que não pára.
A região tem raízes fincadas numa realidade concreta que indiscutivelmente é associada à confluência da vida, aos intercâmbios, os embates e as influências do campo econômico, geográfico, cultural e social, num continuo processo dialético.
O Cariri não tem formato fechado, pelo contrário tem culturas e artes que são históricas e sociais, como é qualquer outra parte do mundo.
O Cariri não pode ser visto como um fragmento isolado dentro de uma totalidade, mas compreendido como parte entranhada desta totalidade, recheada por antagonismos e confluências nos mais diversos aspectos.
Em tempos de globalização, o processo e as formas de produção e reprodução da existência humana, ocorre numa velocidade quase que instantânea e não estamos inertes a esses acontecimentos.
É deste Cariri do campo e da cidade, da indústria e da oficina de fundo de quintal, do operário e do empresário, da Igreja Católica e dos terreiros das religiões de Matriz Africana, das brincadeiras populares, do imaginário que se mistura com o real, da diversidade e da pluralidade que nos alimentamos.
No entanto é preciso atentar para não caímos no discurso apaixonado que nos coloca distante da realidade e nos encaixota regionalmente. O Cariri é uma região da cultura com suas peculiaridades, como qualquer outra localidade aonde existem homens e mulheres, pois somente com seres humanos é possível se produzir cultura.
A produção simbólica do nosso povo não se fixa no tempo, ela acompanha os acontecimentos, através de sobressaltos, vagarosidades e instantaneidades. As manifestações simbólicas e artísticas permeiam-se dentro do motor da realidade.
A comunhão das danças profanas e sagradas, as vestes dos brincantes, o cordel, as formas de organização dos grupos, os fazeres contemporâneos e populares não são eternos na sua forma original sofrem influências do tempo e do espaço, assim como também acontece com a grande indústria da cultura.
Pensar o Cariri em termos de arte e de cultura como algo eterno e puro é desalojar a capacidade produtiva e criativa do nosso povo. No esmeril da construção humana sofremos uma lapidação de acréscimos, hibridismos e de reinvenção da vida.
No entanto precisamos comer com voracidade a história do nosso povo Kariri, a plural e diversificada produção dos habitantes desta terra e o que a humanidade já produziu e produz, como fez o grande poeta comunista Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré que se alimentou da realidade dos oprimidos e explorados do Cariri e da história da humanidade para produzir os seus versos afiados com regionalidade e universalidade.
*Coordenador do Coletivo Camaradas, pedagogo e artista/educador.
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