TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

UM TIPO INESQUECÍVEL! (*)


Sr. Abidoral Rodrigues Jamacaru

Em 1905 nascia, na Vila de Jamacaru, hoje distrito do município de Missão Velha, no Ceará, o cidadão Abidoral Rodrigues Jamacaru.
Mas foi somente em 1918, portanto aos treze anos de idade, que ele migrou desse modesto lugarejo para a cidade de Crato, também no sul do estado do Ceará. Era o começo de uma cumplicidade eterna entre um ilustre desconhecido e a cidade que ele escolhera para viver.
Cheio de amor e entusiasmo pela nova vida, o então rapazola Abidoral colocou em ação, não apenas seus planos de vida e força do trabalho, mas, principalmente, nas noites boêmias da nova terra, sua alma de artista regida pelos acordes mágicos de seu plangente bandolim.

A cidade e o comerciante...

Nessa sua nova fase de vida, Bidinha, como era chamado, deu início às suas atividades no comércio local na condição de empregado da Casa Mattos (comércio de miudezas), cujos proprietários eram os ilustres comerciantes Izaias e Joaquim Mattos.
Em 1927, em parceria com o Senhor João Ranulfo Pequeno, Abidoral instalou, na Rua Bárbara de Alencar, uma pequena loja de variedades.
Decorridos dois anos da sua fundação, João Ranulfo negociou sua parte com o seu parente José Horácio Pequeno (futuro Prefeito do Crato) que, por sua vez, ajustou venda de seu capital ao futuro e único proprietário Abidoral Rodrigues Jamacaru.
Com um pequeno capital de Cr$1.200,00 (Um mil e duzentos cruzeiros), o novo dono transformou a firma na tradicional CASA ABIDORAL.
Na época, num pequeno trecho da Rua Bárbara de Alencar, centro da cidade, foram seus contemporâneos de comércio: Moacir Barreto Dantas, Expedito Barreto Dantas, Sá Barreto, Cícero Beija-Flor, José Vilar, José Eurico, Manoel Teixeira, Joaquim Patrício; Tarcísio Leitinho, Balduino Bezerra, Almir Carvalho, João Gualberto, José Honor; a família Belchior, Raimundo Oliveira, Alfredo Leite (Seu Alfredinho), Leonel; o padeiro português Acácio, o relojoeiro Nonato, o Barbeiro Zé de Zumba, o bodegueiro Ioiô, o courista Vela Branca, Mário Correia de Oliveira e tantos outros.

O Músico, o seresteiro o amigo...

Ao Crato, sua grande e inesquecível paixão, ele doou aquilo que mais amava na vida, que era a arte de encantar e embalar o povo com música. Para tanto compôs, entre outras melodias, a belíssima “Crato Querido”, a inesquecível “Céu Azul” (gravada pelo filho Pachelly Jamacaru); o eletrizante choro “Bagaceira” e o duplo sentido “Onde é que as muié do Piquitão...?”... Esta uma alusão às mulheres que catavam o fruto do pequi na Floresta da Chapada do Araripe.
Seu máximo, que levava ao delírio homens e mulheres sedentos de paixão, era, sob a luz do luar, nas frias e boêmias ruas dessa cidade, executar, dedilhando o seu mágico bandolim, inesquecíveis serenatas.
Esse espírito artístico e sonhador que o Crato conheceu, acompanhou o Sr. Abidoral até os últimos momentos de sua vida. No entanto foi um legado poeta que não morreu! Ele, endossado pelos caprichos literários de sua esposa, a Sra. Ana Aires de Aquino Jamacaru – Doninha - continua na genética de seus filhos e netos, espalhados pelo Crato e mundo a fora.


Epílogo...

O tempo, implacável, foi aos pouco procurando dar o descanso não só ao trabalhador, mas, também, ao artista Abidoral Rodrigues Jamacaru que, no ano de 1975, após cinquenta e dois anos de lida, resolveu aposentar-se.
Nos anos seguintes, talvez num ato inconsciente de despedida do Crato, ele passou a praticar costumeiras andanças pelas ruas e praças dessa cidade acalantando, com sua cítara quase mágica, o povo a quem tanto amara.
E assim continuou até que, no dia 20 de março de 1994, mais precisamente às 09h40m, o então menestrel, sentindo-se com o dever cumprido, resolveu, para tristeza nossa e alegria dos anjos boêmios da eternidade, nos deixar.
O Céu, que um dia, em uma determinada canção, recebera desse poeta musical uma profunda e singela homenagem, ficara, a partir de então, como os olhos do próprio autor... Intensamente mais azul!

Homenagem de sua esposa Ana Ayres de Aquino Jamacaru (Em doce memória) e de seus filhos Hildeberto Jamacaru de Aquino, Ana Lúcia Jamacaru de Aquino, Abidoral Rodrigues Jamacaru Filho, Célia de Souza, Roberto Jamacaru de Aquino, Alberto Jamacaru de Aquino, Luciane Jamacaru de Aquino Schimidt, Pachelly Jamacaru de Aquino e Fátima Jamacaru de Aquino.

(*) O Título da Postagem é meu e o texto é do filho Roberto Jamacaru, que também escolheu a foto que a ilustra .

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