Quem escreve
principalmente
de madrugada
sabe da mágica
quando se volta
o pescoço
e os olhos
assustados
tremem.
Algo se pesca:
um objeto caseiro,
o ruído da cadeira,
até o sopro do ventilador.
Sabemos,
ou sabe quem escreve
sobretudo de madrugada,
que não é lá grande coisa
o poema que se desmembra.
Podemos dizer que é uma gelatina
com a luz da geladeira sobre seu dorso mole.
Sua alma dança amorosa, fria, delicada.
Ainda úmida dos pingos da gavetinha da carne.
Quem escreve de madrugada também entende
o momento de retirar os olhos pesados
da tela do computador.
Antigamente,
eram os dedos
os primeiros a tombar
entre o infinito duelo
do papel e da caneta.
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