TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 6 de março de 2010

Leituras - Emerson Monteiro

Houve um tempo quando coisas inesperadas complicavam o meio do campo da impaciência angustiosa que instinto selvagem parecia querer jogar fora a canga e destruir de qualquer jeito os quebra-mares estabelecidos nos sistemas de defesa. Comodidades vaidosas atiravam tudo para o ar, e acendia dentro de mim fome cruel de romper o ferro dos laços da organização pessoal, no sabor dos caprichos que aparecessem à porta principal. Com isso, contrariava fácil o ditame das regularidades, invadia outras praias, feria suscetibilidades, a começar pela saúde interna do respeito aos prospectos guardados meses a fio, na malha do esforço consistente.
Não queria aceitar que mesmo no calor dos testes necessários habitasse o mistério do drama secular das permanências e conquistas cotidianas. Perdia, a bem dizer, o senso do tanto das melhores partes, porque desistia de pagar o preço de acumular a poupança da paz, naqueles momentos de chegar aos limites e merecer resultados produtivos, lições que a vida traz aos seres sobreviventes, livres da discriminação de raça, credo, cor, sexo, idade, partido, time, filosofia, indo, nesse prumo, justificar lá adiante o querer sem a comprovação da resistência, azeite doce da hora de receber o que se ganha com esmero e qualidade.
Já hoje, talvez isso o que denominam experiência, descubro faceiro que inexiste vitória sem a luta correspondente. Noites insones, dúvidas, opiniões, renúncia. Bajulação perde a força no que tange ao valor real das sementes verdadeiras. Ninguém, de insana consciência, que aguarde pacote pronto dos reservos do destino, usufrui da mera credulidade indecorosa, insuficiente, que alimentou. Pode até, nas horas vagas, parece que ganhou qualquer lance, porém o custo da incúria corre solto atrás dos presságios alvissareiros da inércia.
Apresentou-se o desafio, logo em seguida, fruto daquela árvore imensa, cresce, no lodo e no tempo, as perguntas da justiça do merecimento. A cada um conforme seu mérito, porquanto a Natureza trabalha à base de leis matemáticas, soberanas, longe de peixadas sociais dos mundos tortos.
Quase uma mensagem cifrada indica: ou plantou ontem ou haverá de plantar agora, caso pretenda dispor de resultados sonhados para o futuro. Há normas equitativas, independente de que funcione ao passo da individualidade pretensiosa, luxenta, da própria barriga.
Depois de muito forcejar as barras da inconsequência, nenhum vento leve conduz aos segredos universais só por conta dos belos olhos.
Há batalhas pela frente antes da vitória. Luzes das doutrinas humanas caem aos primeiros acordes do dia, residência fiel da balança que estabelece princípios firmes.
O acaso de dados ao vento passa longe do Santo Graal, no passo dos peregrinos. E suportar espinhos permite a maciez da rosa mais perfeita.

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