TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 21 de março de 2010

Lua

I
Nem sempre
não é comum mesmo

surgir uma Lua encantada
após uma chuvinha tímida

(continua quente lá fora
também dentro da minha alma)

Confesso:
os dedos não comandam
as sílabas,

os espaços abstratos,
o que ainda há de ser dito.

Neste pronto momento
meus dedos são servos do soluço,
do suspiro, da boca entreaberta.

Parece-me que as palavras
resguardadas em uma caixa de sapato.

A imaginação tão clara e contida
dentro de um vaso de porcelana.

Talvez, certamente
não é um poema de amor futuro:
trata-se de um encanto presente.

Sem remendos,
fogos de artifício,
engasgos, convulsões.

É um poema de amor
em si próprio
pelo que sente o poeta
não pelo que nasce dos versos.

É um poema de amor
para uma Lua:
uma lua de óculos escuros.

II
O olhar inebriante
da minha Lua
cabelo ruivo

deixa o poeta
abobalhado
acuado

então imagino
o que será no dia
em que beijar
sua joaninha
tatuada na virilha:

beijar, lamber
dar umas mordidinhas.

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