TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 10 de abril de 2010

Sangue

Ao afastar com o braço
o ópio e o vinho
sobre a mesa

ao ouvir o som surdo
da loucura e do espanto

sem estardalhaços
sem cacos de vidro
sem máculas

cruzei a ponte
mudei de margem.

Agora os dias uma só morte.
Uma só rocha à porta do sepulcro.

Não dou ouvidos às vozes
debaixo do chuveiro.

Meus fantasmas sabem
que a clareza queima.

Ao derrubar do púlpito minha sombra
somente minha voz profere os sermões.

Sei que sou eu mesmo o vulto.
A verdadeira pele do sinal.

Meu lábio cortado.
Meu escárnio e meu lírico soluço.

Ao renunciar o ópio e o vinho
penetrei pela rachadura da parede.

Ainda não encontrei a moeda encantada.
Mas permanecem minhas asas
lisas, pardas, leves.

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