Quantas delícias perco.
Tomo sorvete como se comesse capim.
O prazer da fértil mijada
agora um olhar assustado.
Rumino.
Papada flácida pelo pescoço.
Olhar grave.
Cenho enrugado.
Preciso com urgência
colar o vaso de porcelana.
Um quebra-cabeça.
Não estourar os miolos.
Quanta vida desperdiço.
Bebo água como se morresse.
Não é bom tanta sede.
Pasto.
Preciso encher o aquário.
O peixinho me olha aflito.
Tentarei novamente
ensinar xadrez
ao meu filho.
O garoto prefere
playstation.
Belo o seu riso.
Gargalhada santa.
Perfume.
Feijão na panela.
Vem do apartamento de cima.
O vizinho ouve
Vanessa da Mata.
Preciso cortar meu cabelo.
Não bebo sexta.
Não bebo.
Juro.
Lavar a louça.
Não quebrar o copo.
Talvez eu corte hoje.
O dedo.
Prometo.
Só o dedo mindinho.
Ver de novo meu sangue.
Saudades de quem não conheço.
Da voz rouca.
Da piscina.
(tu tens uma piscina
e uma voz rouca?)
Um mergulho.
Deixa-me.
Não me afogo.
Devo agora meditar
ouvindo o barulho
da descarga.
Quem sabe
eu seja louco.
Quisera.
Quimera.
Nenhum comentário:
Postar um comentário