TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 10 de junho de 2010

óculos embaçados

A poncheira de vidro
tua cúmplice.

Em um dia febril
pousou dentro dela
um beija-flor.

Era aquele tempo
em que passarinhos
invadiam nossa casa.

Tua poncheira de vidro
ficou branca de susto.

O beija-flor partiu
arranhando as asas
pelas paredes
do corredor.

Era aquele tempo
em que nossos corpos
de madrugada se tocavam.

Eu te beliscava.
Tu entortavas meu dedo.

Tudo que vejo e sinto agora
muda de olhar a cada instante.

Só não me seguem
os beija-flores.

Também tenho absoluta certeza
que a poncheira de vidro
não é a mesma.

Nenhum comentário: