TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 12 de dezembro de 2010

O deus da burguesia é a acumulação: erga-se uma estátua ao Viagra - José do Vale Pinheiro Feitosa

Todos os deuses têm a face da sua cultura. Todas as culturas têm a cara de sua classe dominante. Portanto os deuses têm a expressão das classes dominantes. É uma tese. Difícil de provar? Talvez, vamos tentar pelo extremo.

A atual civilização, que já é um problema em imaginá-la apenas uma, tem deuses simbólicos de várias faces. Muitas delas arcaicas, baseadas em fábulas rurais. No entanto o mais expressivo em termos de onipotência, onipresença e onisciência, alguns dos atributos emblemáticos do monoteísmo, é o dinheiro.

Os cristãos católicos têm sérios problemas morais com ele, por outro lado a ética protestante ultrapassou exatamente estes problemas. Acumular dinheiro, cultivá-lo, sob o manto da elevação material e do progresso pessoal e familiar é o norte da virtude religiosa nestes casos.

O dinheiro faz a mediação de tudo na vida das pessoas, até no amor, algum poeta já cantou, ele é vendaval. O mais importante do dinheiro é sua universalidade: é intercambiável pelos semi-deuses monetários de outros povos em outros lugares.

Os sacerdotes da religião predominante imaginam por virtude sua suposta neutralidade: não é de ninguém, apenas das mãos que o sustenta ou dos bolsos que os guarda. Advogam suas virtudes pelo poder de troca que promove entre as pessoas, numa cadeia comercial essencial na qual todos se colocam numa “solidariedade” quase castiça.

Só que o dinheiro do mundo não é uma força dispersiva, portanto onipresente. O dinheiro é como um acumulador de capitais, concentração sobre a face cruenta da burguesia internacional a qual se identifica exatamente pelo jogo da acumulação.

Portanto o principal poder do deus dinheiro é o poder de classe social da burguesia financeira, industrial e comercial. A religião é tomada de cabo a rabo pelos vícios de classe. Especialmente pela natureza inerente e inalienável de acumular.

E o pior, um acumular igual a um buraco negro: aquela concentração de gravidade pelo qual a matéria do mundo desaparece. Ou seja, aquele triturador da realidade da imensa população que todos os dias perde forças de sua capacidade de trabalho para esta entropia fatal.

O buraco negro de classe se encontra na raiz do grave problema do aquecimento global e da destruição da natureza. É o mesmo que gera a fome mundial, promove guerras, migrações em massa e as epidemias, como a AIDS, que destroem populações inteiras.

A situação é tão explícita que hoje uma pessoa ao submeter-se a um procedimento médico caro não sabe se atende a sua necessidade de saúde ou à necessidade da equipe médica em acumular o sucesso monetário. Jogo com o extremo, pois ele é a medida de tudo o mais que se vive ou se precise.

O bem e o mal a burguesia os tem por fiel da balança do acumular. Não é a toa que os medicamentos que têm a virtude da cura e o malefício dos efeitos indesejáveis, deixaram há muito de ser mero critério médico para tornar critério em bolsa de valores.

Por isso é que um efeito indesejável na pesquisa de um remédio para pressão se tornou o grande negócio da Pfizer. Aliás, a mesma que o Wikileaks denuncia por mortes em conseqüência de testes de drogas novas com pobres da Nigéria. A empresa ao prestar a atenção sobre o efeito colateral ganhou bilhões em bolsa.

Falo da Sildenafila estudada originalmente para hipertensão arterial e angina coronariana e que se mostrou boa mesmo foi como indutora de ereção peniana. O remédio é o Viagra e agora é usado na bela palavra dos mercadores do cotidiano do prazer: “tratamento da disfunção erétil”.

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