TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Tatai Nuel didou! Um esente de atal! - José do Vale Pinheiro Feitosa

Se no silêncio as gotas se condensavam mais, agora o discurso dela vaporiza a observação. A multiplicidade de assuntos e temas que frases podem captar do mundo deixa o avô um tanto disperso nas sínteses de Sofia.

As sínteses ainda estão lá, a par de convenções e regras sociais, elas existem desde que o mundo teve Sofia. Não se tornaram mais esotéricas, coisas para iniciados, apenas que o turbilhão do verbo desconcentra a atenção.

A atenção ainda mantida é atordoada por tantas palavras, são várias escolhas temáticas, mas vejo um lampejo sintético, ela gosta de cantar. De usar os recursos fonadores por uma fonética tonal, uma escala musical que se traduz em emoção, expressão e como partícula, um encanto universal.

Entender Sofia quando agora é igual a todos, com seus dispersivos verbos, pode ser um caminho complexo assim como o foi para os físicos da partícula. Ao invés de se perderem no imenso e impenetrável mundo dos documentos e das classificações, como inventado pela “loucura” em rede do infinito Lineu e sua classificação dos vivos.

Como os físicos da partícula o caminho é buscar a natureza do infinitamente pequeno, ali no encontro de apenas pouco mais de uma dezena de classificações de tijolos e forças. Sofia, aliás, gosta de repetir o “quinininho”, tem uma atração especial pelas coisas menores. Talvez uma chave para sua decifração.

Agora ela está no âmbito da classificação das cores, incorporando os números naturais antes da dezena e da fonética, as vogais. Como já se viu já incorporou a escala musical e começam suas preferências.

Sofia se toca com a cor rosa. Repete a cor de modo intempestivo no atravessar de qualquer assunto. Onde se origina tal cor: na convenção da feminilidade cultural ou nalgum estado, temporário ou não, da própria Sofia? Uma coisa é certa, ela se estimula muito quando assiste a um vídeo com multicoloridas borboletas e diz que a de cor rosa é a dela. As dos outros só podem ser as outras.

Neste dias de dezembro a escola influi. A televisão também. E claro a família. Por todas as ruas grandes painéis que evocam o hemisfério norte, nevado e com a simbologia escandinava. Isso está em Sofia e em todo o mundo, diante do sistema mundial de comércio de mercadorias através dos portos marítimos, dos aviões e dos trens.

Por isso Sofia sentou-se e começou a cantar. No seu linguajar reinventado, mas preciso na escala musical. Ela, sozinha no banco traseiro, como as leis do trânsito obrigam, no seu banco de cinto amarrado cantava a plenos pulmões.

E seus pulmões nem estavam tão bem assim: uma infecção respiratória precisou ser controlada por antibióticos. Mas Sofia cantava a música que ficará para sempre na sua história. Ela pode esquecer-se, mas estas linhas a lembrarão por muito mais que sua própria existência.

E Sofia cantava: “Tatai Nuel didou um esente de atal”. Claro que nesta altura os avós só pensavam no presente deles como sendo ela e sua voz de canto suave.

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