“O mundo está preso em um sistema de valores que coloca o êxito acima de todas as virtudes. Ele é uma fonte de virtudes. Em troca, condena o fracasso. Perder é o único pecado para o qual, no mundo de hoje, não há redenção. Estamos condenados a ganhar ou ganhar. Os dois homens mais justos da história da humanidade, Sócrates e Jesus, morreram condenados pela Justiça. Os mais justos foram condenados pela Justiça. E nos deixaram coisas muito importantes como amor e coragem”. Eduardo Galeano numa entrevista à Televisão da Catalunha sobre o movimento dos jovens espanhóis.
A cultura do êxito. Que não é exatamente a de superar a fome e conquistar as necessidades básicas. O êxito é ter total identidade com o mundo produtor de mercadoria, com base na acumulação desmedida de dinheiro e na exploração dos “fracassados”.
O êxito é o pódio do consumismo muito além da individualidade física. É como aquele complexo de centopéia que havia em Imelda Marcos, esposa de um ex-ditador das Filipinas, que tinha milhares de sapatos.
O êxito é passar a perna em todos que estiverem à frente, ao lado ou atrás do exitoso. É atingir a glória da clareira que interrompe a continuidade reprodutiva da floresta. É a vitória de um campo de batalha da antiguidade, coalhado de corpos insepultos.
O êxito é ansiar por uma exposição de mídias que torne famoso o finito personagem vencedor. Quando no auge é como os fogos de Copacabana: emocionam. Depois o espetáculo se torna uma fumaça incômoda a quem respira.
A cultura do êxito é o maior engano da humanidade: tem os rococós dourados da eternidade a enfeitar os ataúdes da mortalidade.
E neste capitalismo de algibeira o êxito é como o sucesso ao se equilibrar na volúpia da velocidade de uma moto. O êxito de se equilibrar não é nada no insucesso de uma queda fatal, que mata ou mutila o sujeito.
Não é por outro motivo que as luzes do shopping anunciam o consumo. No interior luminoso os fótons se esvaem continuamente e se mantêm apenas pela geradora de eletricidade.
O dicionário revela toda a farsa do êxito como ele elemento vital, igual vendem no American Way of Life. Eis o Houaiss que não me deixa mentir a estripar a etimologia da palavra: lat. exìtus,us 'ação de sair, saída; morte, falecimento; resultado, sucesso, acontecimento, conclusão, termo, fim', do rad. de exìtum, supn. de exíre 'sair'; ver 2i-
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