Como tomamos conhecimento de uma informação diz muito como a informação é trabalhada. Em outras palavras, toda informação tem um trabalho que lhe dar um sentido. Um interesse por trás da informação e por isso mesmo, na rede de informações em que se transformou a cultura vigente, não é muito bom fundir informação com verdade de modo a priori.
Ontem estava almoçando no centro do Rio com um grupo de advogados, intelectuais e médicos quando surgiu a história do “Kit-gay” que se estaria implantando nas escolas. O “informante” narrava um vídeo em que duas crianças do sexo masculino se encontravam num banheiro e uma delas ao olhar o pênis do outro entraria num debate sobre as opções sexuais que poderia, livremente, ter na vida.
No modo como se apresentaria o vídeo, seria um estímulo à homossexualidade. Isso como instrumento de governo é grave, uma vez que a solução ocorre na cultura e não no proselitismo de um comportamento ou outro. Aliás, a solução do vídeo, se verdadeira, estaria na própria contramão da luta contra a homofobia, pois não apresentaria nenhuma fobia, mas apenas uma mera questão de opção sexual. Daí que o governo poderia fazer vídeos apenas reforçando a heterossexualidade. Faltaria equilíbrio político numa proposta como apresentada pelo “informante”.
Como não conhecia o vídeo e estava escaldado com a história do tal livro que ensinaria nas escolas a falar errado, afinal fui ler um PDF do tal livro para concluir pela falsidade da mídia, perguntei ao “informante”: você viu o vídeo? Ele me respondeu que não e lhe disse que tivesse cuidado, pois havia muita manipulação na internet e entre as pessoas.
Cheguei em casa e ao abrir a televisão a Presidenta Dilma Roussef, tendo como porta voz o Gilberto Carvalho, secretário da Presidência, mas muito ligado à Igreja Católica, havia vetado o tal kit do MEC, agora explicado como contra a homofobia. Aí eu me perguntei: o “informante” teria razões implícitas?
Qual o quê? Tudo leva a crer que a presidenta foi enrolada numa grande armação vinda de grupos evangélicos e tendo como líder o ex-governador Anthony Garotinho. Eles levaram à presidenta um kit que seria do Ministério da Saúde, voltado para programas de adultos e outros para Agentes de Saúde que têm de trabalhar com conhecimentos mais específicos. Uma armação de má fé que não conduz senão às trevas na evolução histórica da humanidade.
É bem verdade que este grupo tão logo saiu da audiência com a Presidenta aproveitou para deixá-la em saia justa. Insinuaram que fora uma troca em não abrir investigação contra Palocci. Se isso não dá nenhuma lição de ética ao grupo de Garotinho, mas demonstra que eles querem sangrar a Presidenta sujeitando-a, publicamente, a uma suposta aceitação de chantagem.
Independente de qual opinião cada um tenha sobre este assunto, no mínimo deve ter a consciência que não se evolui com práticas iguais a esta.
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