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quarta-feira, 4 de maio de 2011

O mundo é crente - e ensombrecido pela Idade das Trevas - Por Carlos Pompe


"Pesquisa do Ipsos para a agência de notícias Reuters indicou que o país onde mais se acredita na existência de Deus ou de um ser supremo é a Indonésia, com 93% dos entrevistados. A Turquia vem em segundo, com 91% e o Brasil é o terceiro, com 84%. Os pesquisadores ouviram 18.829 adultos de 23 países e concluíram que 51% dos consultados “definitivamente acreditam em uma ‘entidade divina’ comparados com os 18% que não acreditam e 17% que não têm certeza”. O grupo Ipsos é dos mais procurados mundialmente para pesquisas de marketing e opinião pública e social, propaganda, mídia e satisfação do consumidor.

Também 51% dos pesquisados confiam em vida após a morte, 23% acreditam que as pessoas param de existir depois do último suspiro e 26% “simplesmente não sabem”. Entre os que creem na vida além-túmulo, 23% não põem fé “especificamente em um paraíso ou inferno”, 19% acham “que a pessoa vai para o paraíso ou inferno”, outros 7% acreditam “basicamente na reencarnação” (a Reuters não explica o que significa esse “basicamente”) e 2% acham oportuno crer “no paraíso, mas não no inferno”.

Neste paraíso tropical, 32% dos brasileiros acreditam na vida no além, mas sem céu ou inferno – medalha de bronze no quesito, atrás do México (40%) e da Rússia (34%). Chico Xavier e seus seguidores tiveram algum êxito na sua pregação: o Brasil está em segundo entre os países onde as pessoas acreditam “basicamente na reencarnação”, com 12% dos entrevistados. Atrás da Hungria, com 13%, e à frente do México, com 11% – convenhamos, empate técnico no primeiro lugar, se houve margem de erro de dois pontos para cima ou para baixo, como nas averiguações do Ibope e quejandos.

Entre os que sonham com o paraíso e temem o inferno, o Brasil está em quinto lugar, com 28%. Em primeiro, a Indonésia, com 62%, seguida pela África do Sul, 52%, Turquia, 52% e Estados Unidos, 41%. Dos entrevistados dos vários países, 28% se definiram como criacionistas e disseram acreditar que os humanos foram criados por uma força espiritual, tipo Deus, e não aceitam que sejamos resultado da evolução da espécie. Nesta categoria, o Brasil está em quinto lugar, com 47% dos entrevistados, à frente dos Estados Unidos (40%, sexto lugar). Em primeiro lugar está a Arábia Saudita, com 75%, seguida pela Turquia, com 60%, Indonésia em terceiro (57%) e África do Sul em quarto lugar, com 56%.

Já 41% dos entrevistados reconhecem que são fruto de um lento processo de evolução. Entre os evolucionistas, a Suécia está em primeiro lugar, com 68%. A Alemanha vem em segundo, com 65%, depois a China, com 64%, e a Bélgica em quarto lugar, com 61%.

Dos quase 19 mil inquiridos, 18% afirmam que não acreditam em “Deus, deuses, ser ou seres supremos”. No topo da lista dos descrentes está a França, com 39% dos pesquisados. A Suécia vem em segundo lugar, com 37% e a Bélgica em terceiro, com 36%. No Brasil, apenas 3% declararam não acreditar nesses mitos.

A pesquisa também apurou que 17% desses adultos “às vezes acreditam, mas às vezes não acreditam em Deus, deuses, ser ou seres supremos”. Entre estes, o Japão está em primeiro lugar, com 34%, seguido pela China, com 32% e a Coréia do Sul, também com 32%. Nesta categoria, o Brasil tem 4% dos entrevistados.

Sombras da Idade das Trevas

A semana que passou foi uma festa medieval. A mídia dominante já não sabia o que inventar para estimular e saciar a sede por notícias a respeito do casamento real em Londres. Aliás, a realeza é um resquício da crença de que algumas famílias são preferidas de Deus, ao contrário de nós, a plebe ignara e rude. No momento em que digito estes caracteres, ainda não foi exibido o príncipe estendendo no balcão de seu castelo o lençol com a mancha de sangue de sua vestal princesa, a provar que, sim, ela era casta e, sim, ele cumpriu com seu papel de varão e consumou o ato. 

O sangue exibido foi outro, de outro vestígio medieval. Parece feira de horrores, mas o Vaticano resolveu expor, a partir de 1º de maio, o sangue do beato João Paulo II na basílica de São Pedro. O finado papa tinha medo imenso da morte e, a cada problema de saúde (causado pelas balas de que foi alvo num atentado de um criminoso, ou devido a uma simples dor de cabeça), corria socorrer-se da ciência médica, em vez de correr à capela mais próxima e rezar um terço em busca da cura. Aliás, seu sangue foi retirado por uma equipe médica durante um de seus tratamentos. Pois bem, o sangue papal fica agora exposto à veneração pública. Com isso, a seita comandada por Bento XVI contraria uma ordem do Deus que diz venerar. Assim está escrito, no Êxodo, 20, 2-5: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirou do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses além de mim. Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que existe em cima nos céus, ou embaixo na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante dos ídolos, nem lhes prestarás culto, pois eu sou o Senhor teu Deus, um Deus ciumento”. 

Mas isso náo é coisa de nossa conta, nós os minoritários 3% de brasileiros que não acreditamos em “Deus, deuses, ser ou seres supremos”. Lástima que, mesmo assim, essas trevas toldem nossa vida luminosamente ateia."

Carlos Pompe é jornalista e colunista do Portal Vermelho
Fonte: Portal Vermelho 

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