TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Uma alienação cautelosa - Emerson Monteiro

Houve um tempo em que ver os erros dos sistemas políticos mexia sobretudo com os jovens, os quais saiam pelas praças, escolas e ruas a protestar através de canções, congressos de estudantes, peças de teatro, filmes e movimentos diversos. Eram os anos 60, período ideológico fermentado pelo mundo na chamada Guerra Fria dos russos e americanos. Fria porque os disparos de armas de fogo e bombas aconteciam longe da sede dos dois adversários.
Passadas várias décadas, diante da falência do socialismo praticado na União Soviética, isso já pelos anos 80, o modo de olhar as instituições políticas mudou consideravelmente. Chegara a primavera da modernidade e com ela os tempos globalizados, quando as economias da livre iniciativa se transferia a todos os continentes da Terra e anestesiava as mentalidades rebeldes revolucionárias. O cuidado passava a ser não mais quebrar as vitrines do investimento estrangeiro nos lugares em desenvolvimento. Pisar devagar na história de reclamar dos que vinham de fora, pois traziam bolsas recheadas de moedas de ouro.
E nisso as atividades individuais passaram a respeitar o quadro oficial das nações com subserviência digna dos pacatos colonos dos europeus nas praias do Novo Mundo. Obediência cega e necessária aos postulados globalizados de comércio. Fase da mercantilização dos importados. Sonhos de consumo. Equilíbrio mundial das bolsas. A livre iniciativa enfim no poder. Enquanto que as democracias permanecessem valendo sob leis de mercado tuteladas pelas elites afortunadas e pela ciência da propaganda, onde imperava quem oferecesse maiores lances.
Era o fim daquelas vadiagens de antes, quando os jovens idealistas corriam nas ruas de pedra tosca dando traços em cavalos e cães, pichavam os pavimentos e viajavam sentados nos bares, imaginando paraísos deslumbrados; aquelas vadiagens irresponsáveis perderiam o sentido.
Hoje, mais do que nunca, manda quem pode e obedece quem tem juízo, dizer clássico das orientações populares. Passaram os tempos dourados de avaliar as chances para criar padrões simples de viver em condições ingênuas de irmão entre irmãos.
Agora, fase tecnológica das existências coletivas, cumprir as normas rígidas de dependência virou fator essencial da paz coletiva. Fugir, sem ter para onde ir. Passear, dentro do melhor dos mundos possíveis. Trabalhar, função natural das semanas intercaladas de finais de semana à frente dos aparelhos digitais iluminando salas e dormitórios climatizados. Deslocamentos, em cima dos pneus e asfaltos só os determinados a cada grupo. Mais do que nos outros turnos, a Humanidade resolveu transferir aos chefes o direito das utopias sociais, e mergulha em si na busca de realizar o projeto a que veio quando aqui aportou pela primeira vez sem contrariar a ordem planetária dos regimes.

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