Os que trafegam pelo litoral cearense certamente se depararão, em algumas das suas belas praias (Aquiraz, Mucuripe e Pecém, por exemplo) com aqueles enormes “cata-ventos”, de apenas três pás (hélices ou palhetas), fincados lá na parte mais alta das dunas. São as tais “centrais-eólio-elétricas”, produtoras da energia gerada pela força dos ventos (e que colocam o nosso Ceará no panteão de maior produtor nacional de tal espécie de força-motriz).
O que é difícil de observar, já que normalmente as vislumbramos de passagem, ao longe e em movimento (normalmente, de dentro do próprio carro), é a dimensão ou o tamanho da “coisa”.
Pois bem, ontem, durante a corriqueira caminhada matinal, vislumbramos três enormes carretas estacionadas no acostamento do final da Avenida Aguanambi/ começo da BR-116, na saída/entrada de Fortaleza; fomos lá conferir, já que realmente chamavam a atenção. Para se ter idéia do tamanho delas (na verdade, composta de apenas uma “boléia”, ou cabina do motorista, mas com vários “estrados” de carrocerias, conjugados), basta que se diga que cada uma tinha “APENAS” e tão somente 34 (trinta e quatro) pneus (daqueles enormes, quase do tamanho de uma pessoa mediana).
O mais substantivo, no entanto, capaz de deixar qualquer um boquiaberto (ou de queixo-caído), era a carga que cada uma transportava: as “pás” (hélices ou palhetas) dos tais “cata-ventos”: uma peça única, corrida (sem emendas ou sequer parafusada), medindo incríveis 45 (quarenta e cinco) metros de comprimento (correspondente à altura de um prédio de 15 andares, sim) por cerca de 02 a 03 metros de largura (na base), e cerca de 1,5 metros na sua parte final. Só vendo... pra crer (assustador, até).
Curioso, pedimos licença, nos identificamos e abordamos educadamente aquele que nos pareceu ser o chefe do grupo (e fomos muito bem recepcionados), quando tomamos conhecimento, também, que cada uma delas pesava “APENAS” e tão somente 10 (DEZ) TONELADAS (cada carreta carregava duas) e que a velocidade máxima do veículo, na estrada (num retão) atingia “incríveis” (???) 40 (quarenta) quilômetros por hora (imaginem numa subida). Estavam vindo de São Paulo (evidentemente que já há vários dias), se dirigiam para a cidade de João Câmara, no Rio Grande do Norte e contavam com uma escolta (lá presente) de quatro carros (de marca Fiat), conduzindo “seguranças” de uma empresa privada.
Agora, vocês, aí do outro lado da telinha, botem a imaginação pra funcionar: se cada uma dessas “pás” (hélices ou palhetas) tem esse tamanho e pesa esse absurdo (e nós vimos, ao vivo), e cada “cata-vento” recebe três delas (ou trinta toneladas) qual será o diâmetro e peso dessa “base de sustentação” em que serão instaladas, sabendo-se que sua altura é de 50 (cinqüenta) metros; imaginemos, também, o grau de dificuldade de se descarregar (como já o fora carregar) tal “brinquedo”, transportá-lo, tanto ao longo da estrada como lá pra parte mais alta de uma duna, içá-lo a 50 metros de altura e, finalmente, acoplá-lo à base (que tipo de guindaste se presta pra tal tipo de serviço e qual o “parafuso” capaz de sustentar ou agüentar o tranco ???); imaginemos, ainda, a força descomunal que deve ter o vento pra mover não só uma, mas três “geringonças” desse porte, a fim que o gerador seja acionado e a energia produzida; e, o mais importante, imaginemos qual o critério técnico usado para se determinar em que parte desse imenso Brasilzão tais tipos de projetos são viáveis (onde tem vento com força e constância capaz de), já que, além de toda uma logística de produção e transporte, e o conseqüente custo exorbitante, naturalmente há que se obedecer a rígidos critérios técnicos que não admitem falhas de avaliação e escolha do local a ser instalado.
E saibam, de quebra, que no Ceará se encontra não só a primeira “usina-eólio-elétrica” do mundo construída sobre dunas de areia, bem como a maior usina do gênero, da América Latina; a primeira, se acha instalada na Praia da Taíba, no município de São Gonçalo do Amarante (55 quilômetros de Fortaleza), e a segunda, na Prainha (em Aquiraz, 30 quilômetros da capital). Além delas, está em pleno funcionamento o Parque Eólico do Mucuripe, com os aerogeradores instalados na Praia Mansa, zona leste da Capital. Juntos, parque e “usinas-eólio-elétricas” do Estado produzem atualmente 17,4 Megawatts (no Brasil são 22,6 MW), sendo 2,4 Megawatts na Praia Mansa, 05 MW na central da Taíba e 10 MW na usina da Prainha.
Enfim, um lembrete: quando você passar por uma dessas gigantescas “usinas- eólio-elétricas”, não custa lembrar de que não se pode mudar um país de dimensões continentais, como o é o Brasil, de uma hora pra outra, ou da noite pro dia, ao toque de uma varinha de condão, antecedido da pronúncia de algumas palavras mágicas. A coisa não funciona assim. E que, inquestionavelmente, perdemos muito tempo, no passado, mas, no presente, estamos alicerçando as bases que nos tornarão, indubitavelmente, numa potência mundial, no futuro (este, mesmo ali, na esquina). Necessário, pois, o esforço de todos pra chegarmos lá.
E a energia, como se sabe, é a mola propulsora ou fator determinante pra que isso aconteça (mas aí teríamos que nos reportar ao Pré-sal, e o espaço não comporta).
Um comentário:
Para que não haja dúvidas:
Complexo Eólico Cerro Chato recebe as primeiras pás para aerogeradores
O Complexo Eólico Cerro Chato, em Sant´Ana do Livramento recebe as primeiras pás para autogeradores. Cada torre mede 108 metros de altura e, somente de raio entre o centro do rotor e ponta da pá, são mais 41 metros.
O transporte exigiu logística especial, já que cada peça mede 41 metros.
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