TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

beatitude

Quantas vezes te roguei,
não laves minha xícara
com os teus dedos.

A minha xícara é sensível.
Acostumada somente
aos meus lábios.

Há uma verdade especial entre eles.
Os meus lábios são os responsáveis
pelas fissuras na circunferência dela.

E ela de tanto queimar-lhes a pele
modelou-lhes o bico a tal ponto
que aprendi assobiar.

Há uma mística relação entre eles.
A minha xícara só sossega
quando meus lábios sorvem
o último cafezinho,

aí, então, ela dorme
sobre a estante.

A minha xícara é sagrada.
Os meus lábios o que há de corpo em mim.

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