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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A morte e a morte de Steve Jobs - José do Vale Pinheiro Feitosa

A morte de Steve Jobs da Apple no tempo da crise americana é bastante simbólica do ponto de vista histórico. Mas antes uma explicação: nem toda crise leva a mudanças radicais, os EUA já passaram por várias crises antes, fizeram algumas mudanças e tudo continuou até com mais vigor. Mas sigamos no raciocínio.

A morte de Steve Jobs não é apenas física, é a superação de um tempo de abertura nos EUA, da consolidação da indústria de tecnologia na Califórnia, do desejo expansionista de ultrapassar fronteiras. É como disse um usuário do Apple na china: foi a morte de um líder espiritual. Quando falamos em espiritual no caso, falamos em perda de norte, de orientação para navegar.

Basta tomarmos algumas frases emblemática do Steve Job para termos o pulso deste espírito: “É mais divertido ser um pirata do que entrar para a marinha”. Ou, “Nós apostamos em nossa visão, preferimos fazer isso do que fazer produtos do tipo “eu também”. Ou, “O único problema da Microsoft é não ter bom gosto. Eles absolutamente não têm bom gosto. Digo isso de uma forma geral, no sentido de que eles não constroem idéias originais, não colocam sua própria cultura nos produtos”. Ou esta para encerrar e chegar ao espírito deste texto: “O iMac é o computador do ano que vem por 1 299 dólares, não o computador do ano passado por 999 dólares”.

A questão básica é que ao criar uma cultura numa produção que mudou muita coisa, ele estava na linha da inovação tecnológica de produtos e, portanto, na expansão capitalista do negócio. Enquanto esta expansão acontecia, um mercado mesmo que alavancado à base de crédito barato, as pessoas compravam, Steve Jobs deu certo. O espírito coincidente entre a criatividade técnica e o consumismo movido a uma expansão que desde muito é fictícia.

Por isso os produtos da Apple sempre tiveram muito apelo de consumo, têm enorme capacidade de formar consumidores fieis à suas propostas, afinal existia quem financiasse os consumidores. Mas aí vem outro dado dos produtos desta inovação que fez a festa das grandes corporações multinacionais a montar empresas na Ásia e a retirar empregos da Califórnia. A fórmula, uma área de baixa renda a produzir e uma área de alta renda a consumir, não fechou a conta. A de baixa renda pouco se modificou e a de alta renda quebrou.

Entre todos os apelos da Apple tem um que é fatal num tempo de crise: ao criar a fidelidade, passa a se confrontar com a sua própria proposta inovadora que é certa obsolescência programada. Aí tome um IPhone a cada ano, um I PAD a cada semestre, tome uma rede dedicada e on-line de softwares e a fidelidade termina por criar gargalos quando dinheiro não há para comprar o inovado.

Enfim, a morte de Steve Job é a morte física de um símbolo da América que ganhou a hegemonia a partir dos anos 80. E quem diria que isso aconteceria com os quadros das rebeliões hippies e contra a guerra do Vietnã.


3 comentários:

Unknown disse...

Visão romanceada da História: dizer que sem Steve Jobs não haveria computadores pessoais é como dizer que sem Hitler não haveria o nazismo, ou sem Cabral não haveria a colônia portuguesa na América...

E assim vão "pautando" a nossa vida, num conto de fadas para adultos. Já não chega o cinema? Mas até o noticiário?

É mais ou menos como ensinar que a bandeira do Brasil tem o "verde das matas, o azul do céu, o amarelo das riquezas", etc etc etc

O Jobs foi um importante inventor, um empresário poderoso, inovador, mas daí, afirmarem que as coisas não existiriam "se" não fosse ele é conferir ao indivíduo um poder fora da História, quase sobrenatural. E não é disso que o povo gosta?

Unknown disse...

O que eu estou discutindo não é o papel dele, mas sim como a imprensa, a mídia, pauta a nossa vida e cria visões romanceadas da História. Para isso, utiliza ícones para traduzir esse sentimento.

Unknown disse...

Não tiro o valor de Leonardo da Vinci, do Einstein, do Steve Jobs, do Pelé, do Karl Marx, do Isaac Newton, do Bill Gates, não é disso que estou me referindo. Falo da versão romanceada, quando não estamos falando de ficção, mas sim da nossa vida do dia-a-dia.