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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Os famélicos da terra marcham sobre seus estômagos - José do Vale Pinheiro Feitosa

“Um exército marcha sobre o seu estômago”. Esta frase é atribuída ao grande líder da revolução burguesa: Napoleão Bonaparte. Isso vem a revelar as diferenças entre a Praça Tahrir no Cairo e o Ocupy Wall Street. As diferenças, bem dizendo, no teor da revolta contra o estágio atual do poder do capital sobre o Estado e a economia de modo em geral.

Os egípcios do Cairo têm seus estômagos mais vazios que os americanos de Nova York. Foram anos de miséria, de uma ditadura oligárquica e um acúmulo de pendências em relação ao dinamismo das classes sociais do país. Apenas os mais ricos se locupletaram, enquanto a juventude assistiu aos seus pais minguarem num caminho estreito e os sonhos de realização da própria juventude serem vedados por um muro altíssimo.

Por isso “as vias de fato” são mais freqüentadas no Cairo do que em Nova York. Só hoje quando o governo provisório renuncia, foram mortos na praça Tahrir mais de 22 pessoas. O mundo ocidental que pensa dirigir as lutas orientais sob a batuta de seus desejos, vê-se diante de uma rebeldia que não é no Irã e não apenas na Síria. Novamente o Egito. E o Egito é como um guia central para o mundo muçulmano.

A Arábia Saudita é o coração geográfico e cultural, mas a força motora do Egito para a política Árabe é bem mais profunda do que imaginamos a partir do noticiário. Nenhum país formulou uma política que se ajustasse tão bem entre a modernidade e a cultura Árabe quanto o Egito. O Nasserismo e todas as idéias do Panarabismo. Afinal o Nasserismo representa mais do que apenas a sucção das reservas petrolíferas em favor de uma elite local e dos países industrializados.

Quando os revoltosos ocidentais marcharão sobre os seus estômagos? Respondê-lo seria um desejo ou uma adivinhação. Mas em qualquer circunstância os ocidentais serão reduzidos ao denominador comum dos egípcios. Houve uma dominação política do Estado pelas forças das corporações econômicas. Está mais do que claro que houve uma ação integrada de classe para privatizar o Estado em benefício do capital e em prejuízo do trabalho.

Quanto mais a face da classe capitalista para exercer o controle político do Estado for ficando nítida, maior será a reação da classe trabalhadora, somada às marchas das pessoas sobre seus estômagos vazios. Estamos ainda no começo de uma grande mudança e de uma severa luta de classes. Diga-se para informar: não é de agora.

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