Não sei se vocês sabem, eu produzo, escrevo e edito um
Programa numa rádio chamado Paracuru Minha Terra Minha Gente. A rádio Mar Azul
todo sábado, ao meio dia, tem um Programa em que os personagens da cidade falam
de sua vida, dos seus sonhos, de como era a cidade do seu tempo. Fora um
Programa com o Fausto Nilo, mas esse devido ao Zanzibar que cita a cidade,
todos são moradores da cidade.
É uma coisa fantástica o quanto a conversa com o povo
surpreende, quebra paradigmas e revela potências que jamais imaginávamos,
especialmente neste país em que a mídia se resume a formar a boa imagem de socialites
para que a classe média, desde o limbo em que encontra, se farte de fantasias.
Foi numa entrevista com o Raimundo Castro dos Santos, apenas
conhecido na cidade como Mundinho que tomei surpresa do que ouvi. Mas antes me
deixe explicar-lhes o que nos acontece ao fazer um programa desses. Numa
conversa normal, pérolas passam de um diálogo para outro, por vezes não se notam
e noutras logo esquecemos por sermos tocado por outros assuntos e revelações.
Mas ao editar, separar blocos de temas, aquela conversa é repetida muitas vezes
e só aí damos conta do que realmente ouvimos. Agora vamos adiante.
Já perto de terminar a entrevista Mundinho disse: “por que o
homem é valente. O homem é valente! Ele não tem medo de nada. De nada!” Ele é
pescador, com mais de setenta anos, anda todos os dias mais 10 quilômetros,
despesca um curral de peixe a cada 12 horas e os horários vão mudando. Passou
por muitos perigos no alto mar. Era natural a frase. Mas aí é que surpreendeu
completando o pensamento: “mas o homem não tem poder. Não tem poder algum! O
poder é de Deus. Dos homens não”.
Mundinho acabara de sintetiza o que pode ser um seminário
acadêmico. O homem é valente e esta valentia não lhe dá o poder. Por quê? Por
que a valentia de todos contra todos não gera poder. O poder é a cultura, o
comum a todos como ordem e conduta, como salvaguarda das dificuldades
individuais. É Deus como diz Mundinho: acima dos homens mediando sua valentia.
Ou as Leis e seus Direitos.
Hoje relembrei esta entrevista porque desde alguns dias o
Vaticano, que para os católicos é a sede da verdade de Deus, é a expressão do
alto poder, anda cheio de valentia. Desceu das colinas e se encontra na
planície igual a qualquer um de nós, os valentes no dizer de Mundinho. O
Vaticano já disputa a sucessão de Bento XVI, punhaladas ferem, vazamentos dos
conflitos para os jornais é o sintoma de facções em luta.
O jornalista Gianuluizi Nuzzi publicou documentos vazados do
Vaticano (assim como faz a nossa mídia) com a finalidade de expor feridas e
ferir alguém. O material revela uma disputa acirrada envolvendo o Arcebispo
Carlo Maria Vignò e o Cardeal Tarcísio Betone o número 2 na hierarquia papal.
E os vazamentos para imprensa italiana revelam uma
verdadeira “Cachoeira” de manobras e ilegalidades: lavagem de dinheiro, tentativa
de assassinato do papa, teia de corrupção, clientelismo, as mesmas empresas que
atuam no Vaticano cobrando alto e sendo aceitas anos a fio, o mau feito incrustado
na administração do Vaticano. Tudo que reclamamos por aqui está acontecendo no Vaticano,
é a ganância e o lucro, é a maracutaia do por fora, a quem e os paraísos fiscais.
E João Paulo II lutou para derrubar o comunismo em seu país e agora o Vaticano
tornou-se tão comum por que assim é o capitalismo.
Qual a ligação com Mundinho? No Brasil a religião
predominante é a católica e mesmo quem professa outras crenças ou não tem
religião comumente foi criado no universo da infalibilidade do papa por ser o
representante terreno do poder de Deus.
Assim nos restará só a valentia.
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