TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O VATICANO E MUNDINHO - José do Vale Pinheiro Feitosa


Não sei se vocês sabem, eu produzo, escrevo e edito um Programa numa rádio chamado Paracuru Minha Terra Minha Gente. A rádio Mar Azul todo sábado, ao meio dia, tem um Programa em que os personagens da cidade falam de sua vida, dos seus sonhos, de como era a cidade do seu tempo. Fora um Programa com o Fausto Nilo, mas esse devido ao Zanzibar que cita a cidade, todos são moradores da cidade.

É uma coisa fantástica o quanto a conversa com o povo surpreende, quebra paradigmas e revela potências que jamais imaginávamos, especialmente neste país em que a mídia se resume a formar a boa imagem de socialites para que a classe média, desde o limbo em que encontra, se farte de fantasias. 

Foi numa entrevista com o Raimundo Castro dos Santos, apenas conhecido na cidade como Mundinho que tomei surpresa do que ouvi. Mas antes me deixe explicar-lhes o que nos acontece ao fazer um programa desses. Numa conversa normal, pérolas passam de um diálogo para outro, por vezes não se notam e noutras logo esquecemos por sermos tocado por outros assuntos e revelações. Mas ao editar, separar blocos de temas, aquela conversa é repetida muitas vezes e só aí damos conta do que realmente ouvimos. Agora vamos adiante.

Já perto de terminar a entrevista Mundinho disse: “por que o homem é valente. O homem é valente! Ele não tem medo de nada. De nada!” Ele é pescador, com mais de setenta anos, anda todos os dias mais 10 quilômetros, despesca um curral de peixe a cada 12 horas e os horários vão mudando. Passou por muitos perigos no alto mar. Era natural a frase. Mas aí é que surpreendeu completando o pensamento: “mas o homem não tem poder. Não tem poder algum! O poder é de Deus. Dos homens não”.

Mundinho acabara de sintetiza o que pode ser um seminário acadêmico. O homem é valente e esta valentia não lhe dá o poder. Por quê? Por que a valentia de todos contra todos não gera poder. O poder é a cultura, o comum a todos como ordem e conduta, como salvaguarda das dificuldades individuais. É Deus como diz Mundinho: acima dos homens mediando sua valentia. Ou as Leis e seus Direitos.

Hoje relembrei esta entrevista porque desde alguns dias o Vaticano, que para os católicos é a sede da verdade de Deus, é a expressão do alto poder, anda cheio de valentia. Desceu das colinas e se encontra na planície igual a qualquer um de nós, os valentes no dizer de Mundinho. O Vaticano já disputa a sucessão de Bento XVI, punhaladas ferem, vazamentos dos conflitos para os jornais é o sintoma de facções em luta.

O jornalista Gianuluizi Nuzzi publicou documentos vazados do Vaticano (assim como faz a nossa mídia) com a finalidade de expor feridas e ferir alguém. O material revela uma disputa acirrada envolvendo o Arcebispo Carlo Maria Vignò e o Cardeal Tarcísio Betone o número 2 na hierarquia papal.

E os vazamentos para imprensa italiana revelam uma verdadeira “Cachoeira” de manobras e ilegalidades: lavagem de dinheiro, tentativa de assassinato do papa, teia de corrupção, clientelismo, as mesmas empresas que atuam no Vaticano cobrando alto e sendo aceitas anos a fio, o mau feito incrustado na administração do Vaticano. Tudo que reclamamos por aqui está acontecendo no Vaticano, é a ganância e o lucro, é a maracutaia do por fora, a quem e os paraísos fiscais. E João Paulo II lutou para derrubar o comunismo em seu país e agora o Vaticano tornou-se tão comum por que assim é o capitalismo.

Qual a ligação com Mundinho? No Brasil a religião predominante é a católica e mesmo quem professa outras crenças ou não tem religião comumente foi criado no universo da infalibilidade do papa por ser o representante terreno do poder de Deus.

Assim nos restará só a valentia.     

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