TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Declarações de um Misantropo - José do Vale Pinheiro Feitosa


Jamais! Mostraria meu riso de satisfação a alguém. Minha alegria interior expô-la a esta gente gosmenta da qual guardo distância. Esta gosma que ri para balançar o rabo a seus ídolos e patronos. Que muda de ideia conforme os ventos assim como uma biruta de aeroporto.

Prefiro os becos desertos, os confins rurais, a imensidão da praia e apenas os siris. Tudo que é humano é falso e circunstancial. Trapos que abrem guarda-chuvas se os pingos caem, esfregam filtro solar quando a luz amanhece, entornam fermentados em natura ou destilados para se dispersarem no esquecimento que, afinal, nada  conseguem juntar.

Mais do que vacas mansas de presépio, se encontram na tropelia de porcos em disputa pela lavagem na cocheira. Suas abocanhadas antes das outras e por isso mesmo distribuída em duelos de abocanhadas entre si. São meros saqueadores de partes de outrem com a satisfação de enfeitar-se de um poder e visual que não possuem.

E tomo distância das suas invencionices, dos seus arroubos de arte, das artimanhas de suas narrativas e ideias. Tudo o que resta é uma balburdia resumida a eles mesmos. Apenas eles se entendem e sentem o que sentem não se sabe por qual sublimação da idiotice genérica.  

Mesmo os edifícios que são as suas expressões materiais na crosta do mundo se tornam rochas ocas a se deteriorarem rapidamente. As obras de arte, todas elas, expressionistas, figurativas, livros, artesanatos ou que mais houver, são a mais absoluta solidão do ser. E intenção mesmo que sob o sigma do absoluto nonsense tudo se resumirá ao que todas as obras humanas são: a solidão humana de sua compreensão. Apenas eles a entenderão. De resto serão apenas acidentes geográficos.

Tenho asco do contado desta gente. Nada do que lhes é símbolo perde o putrefato sentido de suas entranhas. Os suores, os cheiros, os dejetos, as caspas que se despregam do couro cabeludo, o sebo que brilha na testa e o esmegma da sujeira genital. Tenho nojo destes fluidos seminais que misturados geram estes seres sebosos, ensanguentados e melados de uma gosma viscosa à vista de um trançado e descartável cordão umbilical.

As eructações da gororoba ingerida e depois tornada um suco gástrico azedo que sobe feito uma chaminé em busca de uma saída diretamente às narinas que se deleitam com perfumes e se enojam com tais odores. O que não se dirá da extrema derrota da vida: entre roncos e sopros de esforço, com as pernas dobradas para não receber o conteúdo, destas veias cheias do pescoço e a vermelhidão do rosto a expulsão o bolo alimentar fétido das bactérias intestinais.

Detesto tudo que é humano e por isso estou longe desta humanidade degenerada. Vinculado a mim mesmo, sem outro móvel de repulsão. Sem a quem repulsar. Repulsar.

A mim mesmo. Pleno do mesmo fato da mesma natureza adversa. A minha pessoa física.   

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