TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Jefferson de Albuquerque Junior – O mundo é seu lugar



Um andarilho do cinema com trabalhos desenvolvidos nos mais diversos estados brasileiros e com uma preocupação política nos seus trabalhos, em especial pela questão ambiental Jefferson de Albuquerque Junior vem desenvolvendo o seu trabalho de cinema e educação cinematográfica no Brasil.  “Mesmo não sendo panfletária a arte é o reflexo de uma época, e direta ou indiretamente reflete o momento político...arte tem que ser participativa, engajada...mas sem perder a beleza, a estética... ressalta o cineasta.


Alexandre Lucas - Quem é Jefferson de Albuquerque Junior?

Jefferson de Albuquerque Junior -
Modado
nos tempos
Passado
re-moendo ando no espaço.
Mudando vida
caminhando canto
pelas ruas
passo e ando
chego lá!

Sou um caririense apaixonado pelo mundo, pela vida...Tenho raízes...mas não sou árvore, o mundo é meu lugar...tanto faz Crato, como o Rio, como Bahia, com Vitória, Itaúnas, Brasilia, Lima, Buenos Aires, Lisboa, Paris...me sinto bem em qualquer lugar e participo sempre ativamente  das atividades artísticas e culturais no local onde me encontro...sou participativo...ativo no processo de criação...na lutas pela preservação ambiental de todo um planeta...sou Latino Americano nascido no Crato...sou um “Caririoca”!

 
Alexandre Lucas – Quando se deu os seus primeiros contatos com as artes?

Jefferson de Albuquerque Junior - No Instituto São Vicente Ferrer, no Crato, das irmãs Anilda e Alda Arraes, quando faziamos nosso teatrinho...assistindo os filmes do Cine Cassino, Moderno, Educadora...Depois na Bahia, vivendo na efervescência do Teatro Vila Velha, vendo a turma da Bahia nascer para a música...estudando Cinema com Guido Araújo e Walter da Silveira, na UFBA...a seguir em Brasilia, na UnB, no curso de arquitetura...



Alexandre Lucas -  O que foi fazer cinema no Cariri no tempo que você inicio sua carreira?

Jefferson de Albuquerque Junior - Comecei a fazer cinema em Brasília, depois vim para o Cariri, fizemos uns dois super 8, um ficção com Pedro Ernesto Alencar e Rosemberg Cariry, entre outros (Múcio,Célia teles, Zulene e Socorro Sidrim, Jackson Bantim...)o outro sobre os Penitentes das Cabeceiras, em Barbalha, com Cristina Prata e Pii (Maria do Carmo Buarque de Holanda)...não era tão fácil como hoje...não tínhamos equipamento...o Pedro Ernesto, como era o rico da turma ganhou uma Câmera de Super 8.... a Cristina trouxe de São Paulo...éramos pioneiros...

Alexandre Lucas - Fale da sua trajetória

Jefferson de Albuquerque Junior - Depois disto veio a produção do longa "Padre Cicero",  do Helder Martins, onde fui cenógrafo e ator...fui embora com a equipe para o Rio me profissionalizar. A equipe deste filme era das melhores, Zé Medeiros como fotografo, Walter Carvalho e Antonio Luiz como assistente  de câmera, Cacá Diniz como produtor...Jofre Soares, Dirce Migliaço, Cristina Aché, Heliana Menezes, Ana Maria Miranda no elenco...Depois Marcos Matraga e Hermano Penna vieram fazer um Globo Repórter "Juazeiro do Padim Cicero', fiz cenografia e assistente de produção...No Rio logo consegui trabalhar em "Lúcio Flávio- O Passageiro da Agonia de Hector Babenco, com Reginaldo Farias, Grande Otelo, Ana Maria Magalhães, Pereio, Lady Francisco...daí um filme puxava outro, eu como cenógrafo (na época não chamavam direção de arte...trabalhei a seguir em A Rainha do Rádio, de Luiz Fernando Goulart, com Nelson Xavier, Paulo Guarniere, Ana Miranda..."Amantes da Chuva" de Roberto Santos, "Eles Não usam Black-Tie" de Leon Hirzman, com Guarniere, Fenanda Montenegro, Bete Mendes ....Também ressalto  "Asa branca- Um Sonho Brasileiro" de Djalma Batista, que lançou Edson Celulari....Depois destes ainda participei de vários outros longas com diretores paulistas, brasilienses, mineiros e cariocas, até ajudar como produtor executivo, cenografo e diretor de produção de filmes cearenses como "Tigipió" e "O Calor da Pele" de Pedro Jorge de Castro, "O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto", "O Guerreir Alumioso" e "Corisco e dadá" de Rosemberg Cariry, e Diretor assistente de "Luzia Homem" de Fábio Barreto, com Claudia Ohana, Zé de Abreu, Thales Pan Chacon entre outros do elenco cearense, como Antonieta Noronha e Ari Sherlock ...Dos curtas metragens cearenses na mesma função fiz "Cotidiano Perdido no Tempo" e O Ultimo Dia de Sol, de Nirton Venâncio; O Pau Brasil, de Francis Valle. Como roteirista e diretor fiz  "Dona Ciça do Barro Cru' em 1980, um premio da FUNARTE, 'Músicos Camponeses", "Patativa do Assaré- Um Poeta do Povo" em parceria com Rosemberg, todos estes também premiados no CONCINE e prêmios em festivais da Bahia, Brasília e Gramado. "Ana Mulata" foi uma ficção baseada em conto do meu avô materno Jose Alves de Figueiredo ...além de "Arrais taí" e "Um Artista Chamado Zé"....Mais recentemente, com o meu retorno ao Cariri, fiz os três médias metragens sobre a Chapada do Araripe 'Chapada do Araripe- A Questão dos Fósseis", "Chapada do Araripe-Uma questão Ambiental" e "Chapada do Araripe-Uma visão do Futuro". Por fim com prêmio da SECULT-CE adaptei um conto do José Flávio Vieira, "O Cinematógrafo Herege", uma comédia com elenco caririense e agora com outro edital da SECULT, estamos lançando "UMA HISTÓRIA DA TERRA", documentário sobre a ocupação do Caldeirão pelo MST em 1991 e hoje, 21 anos depois. Entre estas atividades no Cariri, orientei 40 curta metragens ambientais no estado do Espírito Santo,no MOVA CAPARAÓ ITINERANTE, na região do Caparaó e do Rio Itaúnas, além de dirigir um curta e um média..."Mosaico Capixaba", ficção e "Parque Estadual de Itaúnas e a Mata Atlântica"....Com estes trabalhos recebi o título  de Cidadão Espírito Santense. Na TV Globo fiz os cenários da mine série 'O Pagador de Promessas' de Dias Gomes, com direção da minha amiga Tizuca Yamazaki e cenário de uma edição especial de "A Grande Família"...

Alexandre Lucas – Quais as influências do seu trabalho?  

Jefferson de Albuquerque Junior - Uma grande influência foi uma mistura de Cinema Novo e Chanchadas brasileiras, além da estrangeira na Novelle Vouge, realismo italiano, também os filmes de Igmar Bergman...estes filmes passavam no Crato, no Cine Cassino e Cine Moderno e depois nos cinemas de Salvador. Um dos diretores que mais me influenciaram no Brasil foi Walter Lima Jr., além de Leon Hiczman e Roberto Santos, e o nosso Hermano Penna, com quem fiz "Fronteiras das Almas" e agora recentemente "Os Ventos que Virão"... 

Alexandre Lucas – Como você analisa a produção cinematográfica brasileira? 

Jefferson de Albuquerque Junior - Venho de uma geração logo pós cinema novo, geração da EMBRAFILME e vejo com bastante alegria um período fértil de produções descentralizadas do eixo Rio x São Paulo, com destaque para o polo de Pernambuco e também muitas produções cearenses. Nesta fase do cinema digital, mais democrático, agora produzir um filme digital esta sendo possível para todas as classes sociais... antes apenas uma elite produzia, hoje não...mesmo tendo uma grande dificuldade na distribuição, apenas as produções globais conseguem uma fatia grande do mercado..mas temos a internet para divulgar, os cine clubes... A distribuição ainda é o grande gargalo do nosso cinema....se produz muito, mas se distribui pouco, poucos assistem o que esta sendo produzido...A esperança agora é a nova lei de mercado para as TVs por assinatura...

Alexandre Lucas – Como você analisa a relação entre arte e política?

Jefferson de Albuquerque Junior - Uma é consequência da outra..Não consigo divorciar arte de política...Mesmo não sendo panfletária a arte é o reflexo de uma época, e direta ou indiretamente reflete o momento político...
arte tem que ser participativa, engajada...mas sem perder a beleza, a estética...

Alexandre Lucas – Você acredita que o cinema é um instrumento político e  educativo?

Jefferson de Albuquerque Junior - O modo de viver capitalista e o socialista tem  no cinema o grande divulgador...cinema é também comunicação, as grandes idéias, as ideologias políticas estão transparentes no cinema, na TV...Na educação o cinema é uma grande arma, instrumento, muito embora poucas escolas na pratica o adotem, é tão fundamental assim como os livros...

Alexandre Lucas - Quais os trabalhos que você atualmente está desenvolvendo?  

Jefferson de Albuquerque Junior - Atualmente estou, com muitas dificuldades, desenvolvendo o Projeto Audiovisual de Educação Ambiental da Chapada do Araripe, com o  projeto piloto no municipio de Barbalha e nas ONgs Juriti e Zaila Lavor de Juazeiro do Norte e da comunidade do Carrapato, no Crato. Trabalhamos com a noção de pertencimento da região da Chapada do Araripe, com exibição dos filmes bases d projeto, discussões e oficinas de realizaçaõ audiovisual...no final os alunos produzem filmes ambientais sobre as suas relações com a Chapada do Araripe, em ficção ou documentário. Também independente do projeto, participando dos editais da SECULT...e produzindo filmes com nossa temática, com a história fo nosso povo... 

Nenhum comentário: