Um andarilho do cinema com trabalhos desenvolvidos nos mais diversos
estados brasileiros e com uma preocupação política nos seus trabalhos, em especial
pela questão ambiental Jefferson de
Albuquerque Junior vem desenvolvendo o seu trabalho de cinema e educação cinematográfica
no Brasil. “Mesmo não sendo panfletária a arte é o reflexo de
uma época, e direta ou indiretamente reflete o momento político...arte tem que
ser participativa, engajada...mas sem perder a beleza, a estética... ressalta o
cineasta.
Alexandre
Lucas - Quem é Jefferson de Albuquerque Junior?
Jefferson
de Albuquerque Junior -
Modado
nos tempos
nos tempos
Passado
re-moendo ando no
espaço.
Mudando vida
caminhando canto
pelas ruas
passo e ando
chego lá!
Sou um caririense apaixonado pelo mundo, pela vida...Tenho raízes...mas não sou árvore, o mundo é meu lugar...tanto faz Crato, como o Rio, como Bahia, com Vitória, Itaúnas, Brasilia, Lima, Buenos Aires, Lisboa, Paris...me sinto bem em qualquer lugar e participo sempre ativamente das atividades artísticas e culturais no local onde me encontro...sou participativo...ativo no processo de criação...na lutas pela preservação ambiental de todo um planeta...sou Latino Americano nascido no Crato...sou um “Caririoca”!
Alexandre
Lucas – Quando se deu os
seus primeiros contatos com as artes?
Jefferson
de Albuquerque Junior - No Instituto São Vicente Ferrer, no Crato, das
irmãs Anilda e Alda Arraes, quando faziamos nosso teatrinho...assistindo os filmes
do Cine Cassino, Moderno, Educadora...Depois na Bahia, vivendo na efervescência
do Teatro Vila Velha, vendo a turma da Bahia nascer para a música...estudando
Cinema com Guido Araújo e Walter da Silveira, na UFBA...a seguir em Brasilia,
na UnB, no curso de arquitetura...
Alexandre
Lucas - O que foi fazer cinema no Cariri
no tempo que você inicio sua carreira?
Jefferson
de Albuquerque Junior - Comecei a fazer cinema em Brasília, depois vim
para o Cariri, fizemos uns dois super 8, um ficção com Pedro Ernesto Alencar e
Rosemberg Cariry, entre outros (Múcio,Célia teles, Zulene e Socorro Sidrim,
Jackson Bantim...)o outro sobre os Penitentes das Cabeceiras, em Barbalha, com
Cristina Prata e Pii (Maria do Carmo Buarque de Holanda)...não era tão fácil
como hoje...não tínhamos equipamento...o Pedro Ernesto, como era o rico da
turma ganhou uma Câmera de Super 8.... a Cristina trouxe de São Paulo...éramos
pioneiros...
Alexandre Lucas - Fale da sua trajetória
Jefferson
de Albuquerque Junior - Depois disto veio a produção do longa "Padre
Cicero", do Helder Martins, onde fui cenógrafo e ator...fui embora
com a equipe para o Rio me profissionalizar. A equipe deste filme era das
melhores, Zé Medeiros como fotografo, Walter Carvalho e Antonio Luiz como assistente
de câmera, Cacá Diniz como
produtor...Jofre Soares, Dirce Migliaço, Cristina Aché, Heliana
Menezes, Ana Maria Miranda no elenco...Depois Marcos Matraga e Hermano
Penna vieram fazer um Globo Repórter "Juazeiro do Padim Cicero', fiz
cenografia e assistente de produção...No Rio logo consegui trabalhar em
"Lúcio Flávio- O Passageiro da Agonia de Hector Babenco, com Reginaldo
Farias, Grande Otelo, Ana Maria Magalhães, Pereio, Lady Francisco...daí um
filme puxava outro, eu como cenógrafo (na época não chamavam direção de
arte...trabalhei a seguir em A Rainha do Rádio, de Luiz Fernando Goulart, com
Nelson Xavier, Paulo Guarniere, Ana Miranda..."Amantes da Chuva" de
Roberto Santos, "Eles Não usam Black-Tie" de Leon Hirzman, com
Guarniere, Fenanda Montenegro, Bete Mendes ....Também ressalto
"Asa branca- Um Sonho Brasileiro" de Djalma Batista, que lançou Edson
Celulari....Depois destes ainda participei de vários outros longas com
diretores paulistas, brasilienses, mineiros e cariocas, até ajudar como
produtor executivo, cenografo e diretor de produção de filmes cearenses como
"Tigipió" e "O Calor da Pele" de Pedro Jorge de
Castro, "O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto", "O Guerreir Alumioso"
e "Corisco e dadá" de Rosemberg Cariry, e Diretor assistente de
"Luzia Homem" de Fábio Barreto, com Claudia Ohana, Zé de Abreu,
Thales Pan Chacon entre outros do elenco cearense, como Antonieta
Noronha e Ari Sherlock ...Dos curtas metragens cearenses na mesma
função fiz "Cotidiano Perdido no Tempo" e O Ultimo Dia de Sol,
de Nirton Venâncio; O Pau Brasil, de Francis Valle. Como roteirista e diretor
fiz "Dona Ciça do Barro Cru' em 1980, um premio da FUNARTE, 'Músicos
Camponeses", "Patativa do Assaré- Um Poeta do Povo" em parceria
com Rosemberg, todos estes também premiados no CONCINE e prêmios em festivais
da Bahia, Brasília e Gramado. "Ana Mulata" foi uma ficção
baseada em conto do meu avô materno Jose Alves de Figueiredo ...além de
"Arrais taí" e "Um Artista Chamado Zé"....Mais
recentemente, com o meu retorno ao Cariri, fiz os três médias metragens sobre a
Chapada do Araripe 'Chapada do Araripe- A Questão dos Fósseis",
"Chapada do Araripe-Uma questão Ambiental" e "Chapada do Araripe-Uma
visão do Futuro". Por fim com prêmio da SECULT-CE adaptei um conto do José
Flávio Vieira, "O Cinematógrafo Herege", uma comédia com elenco
caririense e agora com outro edital da SECULT, estamos lançando "UMA
HISTÓRIA DA TERRA", documentário sobre a ocupação do Caldeirão pelo MST em
1991 e hoje, 21 anos depois. Entre estas atividades no Cariri, orientei 40
curta metragens ambientais no estado do Espírito Santo,no MOVA CAPARAÓ
ITINERANTE, na região do Caparaó e do Rio Itaúnas, além de dirigir um curta e
um média..."Mosaico Capixaba", ficção e "Parque Estadual de
Itaúnas e a Mata Atlântica"....Com estes trabalhos recebi o título
de Cidadão Espírito Santense. Na TV Globo fiz os cenários da mine série 'O
Pagador de Promessas' de Dias Gomes, com direção da minha amiga Tizuca Yamazaki
e cenário de uma edição especial de "A Grande Família"...
Alexandre
Lucas – Quais as influências do seu trabalho?
Jefferson
de Albuquerque Junior - Uma grande influência foi uma mistura de Cinema
Novo e Chanchadas brasileiras, além da estrangeira na Novelle Vouge, realismo
italiano, também os filmes de Igmar Bergman...estes filmes passavam no Crato,
no Cine Cassino e Cine Moderno e depois nos cinemas de Salvador. Um dos diretores
que mais me influenciaram no Brasil foi Walter Lima Jr., além de Leon Hiczman e
Roberto Santos, e o nosso Hermano Penna, com quem fiz "Fronteiras das
Almas" e agora recentemente "Os Ventos que Virão"...
Alexandre
Lucas – Como você analisa a produção cinematográfica brasileira?
Jefferson
de Albuquerque Junior - Venho de uma geração logo pós cinema novo, geração
da EMBRAFILME e vejo com bastante alegria um período fértil de produções descentralizadas
do eixo Rio x São Paulo, com destaque para o polo de Pernambuco e também muitas
produções cearenses. Nesta fase do cinema digital, mais democrático, agora
produzir um filme digital esta sendo possível para todas as classes sociais... antes
apenas uma elite produzia, hoje não...mesmo tendo uma grande dificuldade na
distribuição, apenas as produções globais conseguem uma fatia grande do
mercado..mas temos a internet para divulgar, os cine clubes... A distribuição
ainda é o grande gargalo do nosso cinema....se produz muito, mas se distribui
pouco, poucos assistem o que esta sendo produzido...A esperança agora é a nova
lei de mercado para as TVs por assinatura...
Alexandre
Lucas – Como você analisa a relação entre arte e política?
Jefferson
de Albuquerque Junior - Uma é consequência da outra..Não consigo divorciar
arte de política...Mesmo não sendo panfletária a arte é o reflexo de uma época,
e direta ou indiretamente reflete o momento político...
arte tem que ser participativa,
engajada...mas sem perder a beleza, a estética...
Alexandre
Lucas – Você acredita que o cinema é um instrumento político e educativo?
Jefferson
de Albuquerque Junior - O modo de viver capitalista e o socialista
tem no cinema o grande divulgador...cinema é também comunicação, as
grandes idéias, as ideologias políticas estão transparentes no cinema, na
TV...Na educação o cinema é uma grande arma, instrumento, muito embora poucas
escolas na pratica o adotem, é tão fundamental assim como os livros...
Alexandre
Lucas - Quais os trabalhos que você atualmente está desenvolvendo?
Jefferson
de Albuquerque Junior - Atualmente estou, com muitas dificuldades,
desenvolvendo o Projeto Audiovisual de Educação Ambiental da Chapada do
Araripe, com o projeto piloto no municipio de Barbalha e nas
ONgs Juriti e Zaila Lavor de Juazeiro do Norte e da comunidade do
Carrapato, no Crato. Trabalhamos com a noção de pertencimento da região da
Chapada do Araripe, com exibição dos filmes bases d projeto, discussões e
oficinas de realizaçaõ audiovisual...no final os alunos produzem filmes
ambientais sobre as suas relações com a Chapada do Araripe, em ficção ou
documentário. Também independente do projeto, participando dos editais da
SECULT...e produzindo filmes com nossa temática, com a história fo nosso
povo...
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