Amor nas Estrelas de Fausto Nilo e Roberto de Carvalho é um
achado de época. Já não se fazem canções como essa. Fausto virou arquiteto em
Fortaleza e sabe o quanto sua rica e sofisticada poesia musical já não fala ao
espírito deste tempo. Roberto de Carvalho nem sei mais do quê se ocupa.
A voz de Nara Leão, seja de Leila Pinheiro com Menescal ao
violão, e ela ao piano, tem uma feminilidade estelar, um lago azul no alto de
uma montanha a espelhar a lua refletida de sol. Não por ser a mulher reflexo do
homem, como a lua e o sol, mas por ser a voz de uma mulher falando de amor nas
estrelas.
De qualquer modo ao ouvir a canção por tantas centenas de
vez por agora me dei conta de um mito inusitado. Aquele exposto num conto
clássico passado em Áquila em que um bispo enciumado enfeitiça uma linda donzela
só por esta amar o comandante de sua guarda. O feitiço consiste: de dia ela é
uma águia e à noite ele é um lobo. Só por breve momento os dois percebem a
transição entre um estado e outro. O conto tornou-se um filme chamado Feitiço de Áquila.
A natureza divergente deles nunca se encontra, embora tenham
consciência da dinâmica que os enfeitiça. Mas no estado animal, nenhum sabe
sobre o outro. Apenas quando humanos sofrem terrivelmente o desencontro
acontecido em presença um do outro. O estranhamento entre conhecidos. O conto é
baseado no desencontro entre o sol e a lua.
Os opostos: a noite e o dia. A lua é da noite e o sol é o
dia. Mas foi aí que o Amor nas Estrelas revelou: a lua encontra-se às
escondidas com o sol, vemos apenas sinais deste encontro: a luz que ela emite no
prateado da vida. Esta cópula luminal não é a subordinação da mulher ao homem é,
sobretudo, a conjunção de iguais a gerar tempo planetário.
É amor nas estrelas.
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