Esse episódio das declarações de Marcos Valério publicadas
pelo Jornal Estado de São Paulo tem o dom de exultar os adversários de Lula em
diversos tons, desde o riso de canto de boca de quem sempre soube do fato até o
ladrar endoidecido de cães hidrófobos. Quem cria o fato político: a mídia não
apenas do Estadão, mas o martelar ecoado por todo o pavilhão dos meios à
disposição das grandes Corporações. Os políticos de oposição, até por um dever
de ofício, vão às instituições em busca do efeito no embate que necessitam.
A Presidenta Dilma Roussef, de viagem oficial na França, é a
voz quase única no dia da publicação em defesa de Lula com a seguinte frase: “Repudio
todas as tentativas – essa não seria primeira vez – de tentar destitui-lo da
imensa carga de respeito que o povo brasileiro lhe tem. Respeito porque o presidente
Lula foi o presidente que desenvolveu o país e que é responsável pela
distribuição de renda mais expressiva dos últimos anos, pelo que ele fez
internacionalmente, pela sua extrema amizade pela África, pelo seu olhar e pelo
estabelecimento de relações iguais com países desenvolvidos. Considero
Lamentável essa tentativa de desgastar a imagem do presidente.”
No mesmo dia o PT soltou uma nota, mas no dia seguinte
políticos aliados, membros do governo e políticos do PT deram resposta à
matéria do Estadão. Nessa altura a história nacional tomava a memória de muita
gente: vivia-se um ensaio de um clima de radicalização política muito parecido
com o verificado durante o Suicídio de Vargas e com o Golpe Militar que
destituiu João Goulart. Especialmente setores da esquerda, com idade vivida no
episódio Jango, manifestaram o paralelo das situações.
No terceiro dia o eco de mídia se mantinha quando ações
reativas no campo da situação política começaram a surgir. Destacou-se um
requerimento convidando Fernando Henrique Cardoso a prestar informações sobre a
lista de Furnas. O sinal de radicalização é evidente e com capacidade de
provocar a oposição mesmo que as mídias das grandes empresas não repercutam a
informação.
Mas o espetáculo do julgamento do Mensalão já era mesmo
quase a repetição da República do Galeão, sem militares e sem um gênio
histriônico como Carlos Lacerda. Outros tempos, o espetáculo era da mídia, com
atores vestidos de toga a voluntária ou involuntariamente servir ao exercício
da radicalização. Como vemos tudo é política, não se fala de outra coisa,
apenas política.
Hoje o Senador Aloisio Nunes do PSDB de São Paulo veio em
defesa de Fernando Henrique Cardoso. Não jogou “m” no ventilador, fez a defesa
política da principal liderança do seu Partido. Assim como os políticos que se
manifestaram em defesa de Lula. A defesa feita pelo Senador Aloisio é tão
política que é igual à defesa da Presidenta Dilma apenas com diferenças de
palavras: “Não poderia deixar de expressar minha indignação contra o uso de um
instrumento para promover uma guerra suja e sem quartel contra um ex-presidente
da República a quem o Brasil deve tanto.”
A radicalização política surge nas grandes empresas de mídia
que representam interesses “in extremis”
quando é impossível conter o quadro de transformação pelo qual o país passa
desde o fim da ditadura militar. Quando se chegou ao fim do ciclo deprimido da
nação e novos ventos começaram a refrescar a opressão subjacente ao regime
autoritário. Os políticos e, especialmente, o PT e o PSDB estão perdendo a
iniciativa política para empresários provocadores. A política a reboque de um
papel que tais empresários usurparam como se iniciativa fosse o que não passa
de tampão para que a brisa não circule.
Espero que o projeto de nação se sobreponha ao fel de
provocações radicais.
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