TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Meus cumprimentos seu Luiz - José do Vale Pinheiro Feitosa


Seu Luiz o povo comemora seus cem anos de nascimento. Eu queria que visse o quanto é bonito o que dizem. Fizeram um filme sobre a sua vida, incluindo o Gonzaguinha e só tenho ouvido elogios. Os jovens que assistem ficam deslumbrados com sua história, contada do jeito que o diretor contou. Mas eu acho que o elogio não vai só pelo diretor, é pelo senhor ter existido.

É mesmo seu Luiz. Para surpresa dos que se aperreiam por esta seca que devora o povo do seu sertão, surpresa por quem se afoga de água aqui pelo sudeste. É a surpresa mesmo que nos leva a compreender o amor de um jovem, rodando aí pela casa dos vinte anos, diante da narrativa do filme.

Isso é explicado como se fosse a sombra do Juazeiro guardando o verde que foi estorricado em tudo que está em volta. É o peso imortal da cultura, da alma de um povo, do eterno enquanto ação de uma vida. O que chama atenção é que diante desta avalanche de novidades de hoje, venha um jovem a se identificar com tudo que é carinho pelo senhor e pelos seus.   

Seu Luiz é nos grandes salões e na televisão, além do cinema que seu nome circula por todos os cantos do nosso país. É possível que se faça, mas é quase impossível para um vivente tomar conhecimento da quantidade de vezes que homenagens lhes são prestadas, nas praças, bairros e ruas deste Brasil que não é um país: é um continente.

Quando vejo a tempestade de lembranças sobre o seu centenário, eu quero a calma que diz: não se trata apenas de um espasmo que antecede ao esquecimento. E sabe o motivo pelo qual posso ficar calmo? É que já vi o senhor no contraponto de tantas lembranças e homenagens.

Andando pelas ruas do Crato sem que viessem lhe pedir a bênção por tudo que fizera ao povo dos sertões. O senhor no posto de gasolina tirando o pneu para remendar o furo na câmara de ar. O senhor em frente ao Hotel Tabajara, na beira da calçada, cubando o movimento da rua e tão intensamente anônimo como parecemos nas vias do mundo.

Foi, por incrível que lhe pareça, naquele esquecimento que encontrei a raiz da força que o senhor tinha junto ao povo. A capacidade de ser um sertanejo de eito novamente. De pensar nas chuvas, de curar bicheira de animal. De dormir junto ao silêncio da seca e aos borbotões das vozes do inverno.

A lembrança e o esquecimento são as faces da mesma moeda, pois entre uma face e outra tudo é moeda. E sua moeda foi revelar ao Brasil, trazer para o centro das transformações, o seu arcaico sertão não como amostra inerte da vida, ao contrário, como a vida sem receio do mundo que muda. Sempre muda.

E nós lá.  

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