O debate político é
como uma liturgia: é uma narrativa do mundo com a finalidade de elevar-se do
rés do chão. É composto simultaneamente do húmus da terra e das chuvas do céu.
É um regar o presente e o brotar o futuro. Aliás nem debate é: na verdade é a
construção da história.
Este matraquear de
pitbul; esta raiva de dar dentadas em bandeiras que afinal é um pano; o azedume
que despeja argumento como uma diarreia incontrolável; aquele ar indignado para
atacar o momento em defesa de um passado perdedor; este oportunismo de saber
bater apenas para promover o nocaute. Estas coisas todas que ainda dançam de
par com as mais defasadas, mentirosas e irreais informações não são política.
Aliás, são o mero interesse de que tudo fique e nada mude. Prenda o inimigo
para soltar os amigos. Condene o frágil para absorver os fortes.
Todos querem uma melhor
saúde e educação. O que mais escuto em certos segmentos da classe média é que a
educação no Brasil é um lixo, o SUS uma desgraça, que as políticas de Estado
não existem. Para esta microcefalia congênita o dinheiro do mensalão daria para
salvar todas as pessoas e permitir a elas encherem os shoppings do mundo e se
empanturrarem de pipoca e Coca-Cola. Coca-Cola, Coca-Cola isso faz um bem (uma
homenagem aos mais velhos).
Quando escuto certos
argumentos não sei se rio, se choro ou dou uma chupeta para o bebê chorão. Aí
vem um babão ou um nenê a repetir páginas e páginas do amarelão da indigência
intelectual a dizer que o SUS é engodo. E o mantra faz a cabeça das redes
sociais e a classe média que paga planos de saúde caros repete a ladainha. Só
que para esta gente este Brasilzão de milhões de quilômetros quadrados, a metade
do continente sul-americano, é apenas ocupado por eles, o restante das pessoas
não existem.
Pois bem os planos de
saúde que cobrem ambulatório e hospitais atingem apenas 43 milhões de pessoas,
mas a realidade mostra que o mundo é maior: somos 193 milhões de brasileiros. Ô
Mané adivinha onde estão atendidos os outros 153 milhões de brasileiros.
Explique como a mortalidade infantil caiu como um tobogã (eita imagem antiga),
as doenças infecciosas despencaram, o país esteve entre os pioneiros a eliminar
inúmeras doenças infecciosas imuno-preveníveis. Adivinha gente boa onde se
encontram as vacinas universais, a vigilância epidemiológica e sanitária. Vossa
ignorância já leu alguma relatório sobre os números da produção do SUS (exames,
internações e consultas) ou sobre o quase 130 bilhões de reais gastos em saúde
no setor público? Os milhões de empregos, especialmente municipais, espalhados
por todo o Brasil.
Vamos parar com a
lenga-lenga e partir para o seguinte ponto: construímos uma coisa fenomenal e
uma das maiores instituições de saúde do mundo e podemos tirar melhor proveito
dela. Vamos apostar nela, empurrar sua qualidade, seu acesso, sua melhor
distribuição. Abandonemos a empulhação e partamos para a conquista que muitas
gerações levaram de sacrifício e agora ainda tem que receber esta sandice
alienada.
Ia usar o termo que
considero de gosto duvidoso: babaca. Fui ao dicionários e a acepção do termo é:
ingênuo, simplório, babaquara. Bem para o povo do meu querido Ceará o termo Babaquara
até que faz um enorme sentido ao nos relembrar o texto O Babaquara escrito por
Antonio Salles desancando a oligarquia atrasada de Nogueira Acioly. Pois é essa
a natureza de certas análises que se fazem sobre a educação no Brasil.
O povo Brasileiro por
seus educadores, por sua história de educação, pelo nascimento do ensino
público, pelos modelos de escola que experimentou, por políticos como Brizola,
Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira, pela Constituinte de 88 e por governos como os
de Fernando Henrique (de quem me oponho em convicção ideológica) e de Lula
constroem um país e uma educação das mais amplas do mundo. E não pense que
estou brincando com eventuais ignorâncias.
A BBC (aquela inglesa
que tem uma edição brasileira) revela o seguinte: o investimento com educação
no Brasil passou de 3,5% para 5,6% do PIB brasileiro entre 2000 e 2010. Os
padrões de investimento em educação neste Brasil - neste mesmo viu gente -
alcançaram a média dos países da Comunidade Econômica Europeia. São 34 países
da OCDE e a maioria é de países desenvolvidos incluindo algumas meninas dos
olhos dos adjetivados anteriormente: México e Chile.
Considerando a parcela
do PIB aplicada em educação (o PIB é a nossa anualidade na economia capitalista):
o Brasil aplica maior parcela em educação do que a Áustria, comparável à França
e à Grã-Bretanha e eita lasqueira de uma banda a outra: superior aos EUA (com
5,1% do PIB). E tem alguma coisa que incomodará mais ainda o pensamento dos
babaquaras: a Argentina aplica um pouco mais que o Brasil, mas o México do
novos liberais e o Chile do sonho Pinochetista da livre economia ainda menos (3,9%).
Resultado, ali encostado no primeiro lugar que é a Argentina o Brasil vem logo
a seguir em segundo lugar na América Latina.
Na quantidade do
investimento aplicamos mais em nível superior do que na educação básica em
termos comparativos com outros países, mas isso não compromete a qualidade
geral do nosso investimento e aponta o caminho de nossas soluções. Segundo o
relatório da OCDE: na última década o Brasil melhorou sensivelmente o
desempenho dos seus alunos; os recursos federais foram aplicados mais em
estados pobres de modo a equipará-los em investimento aos estados ricos
(política redistributiva); ampliou a qualificação do professorado, criou
índices nacionais de desenvolvimento da educação básica.
Mas para os babaquaras
que se informaram com aquelas piadinhas das respostas dos alunos durante o
vestibular vai aqui uma informação central: o Brasil avançou em uma década 16
pontos no quesito compreensão escrita, 15 pontos em ciências e 30 em matemática
dentro do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA). Eis uma coisa
que não seria bom os babaquaras entenderem pois isso é a morte desta minoria
que se imaginava o “crème de la crème”.
Então eis o motivo pelo
qual o Impostômetro, a Prisão dos Mensaleiros, as Páginas Amarelas da Veja, os
editoriais dos jornalões além do furibundo horror neoconservador a Cuba e a
Hugo Chávez tanto salta da língua bífida do discurso babaquara. Para risco de
todos a luta nas ruas vai no sentido de se ter 10% do PIB em educação (superior
ao padrão do países nórdicos) e a elevação do investimento em saúde.
Para finalizar este que
já reconheço ser um longo texto: ouvindo uma rádio de Paracuru lá estava uma
garota revoltada com a morte do avô de 88 anos de idade numa Santa Casa
conveniada ao SUS. Ela se queixava do atendimento e da arrogância do
atendimento. E foi quando lá pelas tantas ela se deu ares de snobismo: o meu
avô não precisava do SUS não. Ele tinha plano de saúde. Aí vem o más que não é
um simples más e é o tudo: os planos de saúde não têm serviços em Paracuru para
aquele atendimento. Não tem em Paracuru como não tem no Brasil profundo. Plano
de Saúde, como todos sabemos, é para o pessoal do sudeste e um pouco do sul,
custa caro e só descentraliza meios quando tem muita grana para lucrar. O resto
é o impostômetro.
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