Deus sabe o que faz!
Pronunciado em tom
alto, no passo rápido sobre a calçada dos números ímpares da rua Nossa Senhora
de Copacabana. Uma senhora de cabelos lisos, curtos e presos e com uma
oleosidade de brilhar mesmo no ameno iluminar da manhã nublada por entrada de
uma frente fria.
Deus sabe o que faz! Deus
sabe o que faz!
Repetiu várias vezes
enquanto seguia na direção da rua Barão de Ipanema. Assim mesmo: Deus sabe o
que faz!
E foi-se semeando
dúvidas sobre a calçada. Talvez Deus lhe dera algum sofrimento e ali mesmo ela
reconhecia-lhe a sabedoria apesar de tudo. Mas pelo tom exaltado talvez algum
desafeto sofrera algo por suposto merecido e Deus lhe fizera justiça. Quem sabe
Deus escrevera algo por linhas tortas.
Dúvidas na calçada. E
quem por ela passar é capaz de encontrar muitas mais além das três
possibilidades citadas. Deus sabe o que faz!
Numa esquina qualquer
mais adiante, no entanto, numa jardineira sobre a calçada da Nossa Senhora de
Copacabana cresce a árvore privatista do mais completo conceito de
universalidade. O Deus único, indivisível, onipotente, onisciente, onipresente.
Mas a criatura deste o toma por seu. O Meu Deus sabe o que faz.
O Meu Deus me protege
dos meus inimigos, dos meus desafetos, dos meus concorrentes, dos que me são
diferentes. Esta propriedade se estica tanto sobre seus valores que termina por
ser escriturada em cartório. No cartório que valida, que reconhece a firma da
sabedoria de Deus.
E atesta: Deus sabe o
que faz! E o sabe posto que atestado, que é apalavrado por um testemunho
essencial de sua sabedoria. Um testemunho que nesta ocasião se encontra na
condição de oficializar a Deus este simples demandante de um atestado de sua
sabedoria.
A luta incessante entre
o universal e a propriedade privada.
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