Resolvo falar de um ícone da canção portuguesa. Chama-se
Fernando Tordo, tem 65 anos, viveu parte de sua vida sob a ditadura salazarista
e outra na democracia. Sonhou um Portugal melhor para os filhos e os netos.
Vencedor de prêmios de festivais da RTP, Fernando foi
gravado pela nata da canção portuguesa pós-ditadura como Dulce Pontes, Carlos
do Carmo, Mariza, Carminho, Simone de Oliveira e muitos mais. Fernando fez
belíssimas canções com o poeta José Carlos Ary dos Santos tais como Tourada,
Estrela da Tarde, Lisboa Menina e Moça, O amigo que eu Canto e mais esta Balada
para os nossos filhos, que poderemos ouvir abaixo na própria voz do compositor.
Um Portugal melhor para os filhos e netos, Fernando Tordo
viu sair pelo ralo com a crise que abala a Europa e Portugal em especial. Nos
último ano vivia de uma aposentadoria de um pouco mais de duzentos euros (R$
659,78) e, segundo seu filho o escritor João Tordo recebia uma pequena
aposentadoria da Sociedade Portuguesa de Autores que dava para pagar a gasolina
com a qual ia de cidade em cidade cantando suas músicas, ora com casa cheia,
noutra mais ou menos e noutras vazias.
Fernando Tordo pegou uma avião e veio morar em Recife. Não
conhecia bem o Brasil e o Brasil não conhece sua música admite o próprio filho
escritor (que ele cita na música acima) numa carta que escreveu e publicou no jornal
“Público” de Portugal. Mas veio e antes despediu-se no Facebook dos amigos e admiradores
que ainda tem.
Fazendo as contas Fernando veio tentar uma nova e
desconhecida vida aos 65 anos de vida.
No Face recebeu carinho e muitas pedradas no estilo que
estamos lendo em revistas como Veja, a extrema insensibilidade humana tal qual
aquela Australiana que disse que não iria se sujar ao se referir a uma manicure
negra num salão de beleza de Brasília ou a tal Rachel do SBT apoiando a tortura
de um menino de rua.
Para ilustrar estes tempos e intolerância anti-humana que é
gerada nas redes sociais vou colar o próprio texto que se encontra na carta
feita pelo João Tordo:
“Outros, contudo, mandaram-no para Cuba.
Ou para a Coreia do Norte. Ou disseram que já devia ter emigrado há muito. Que
só faz falta quem cá está. Chamam-lhe palavrões dos duros. Associam-no à
política, de que se dissociou activamente há décadas (enquanto lá esteve
contribuiu, à sua modesta maneira, com outros músicos, escritores, cineastas e
artistas, para a libertação de um povo). E perguntaram o que iria fazer: limpar
WC's e cozinhas? Usufruir da reforma dourada? Agarrar um "tacho"
proporcionado pelos "amiguinhos"? Houve até um que, com ironia
insuspeita, lhe pediu que "deixasse cá a reforma". Os duzentos e tal
euros.”
Esse tipo de
discurso Fascista tem muito da intolerância a reinar a cabeça de muita gente.
Por falar nisso um estudo americano recente feito numa amostragem bem calculada
demonstrou que os ignorante desconhecem que o são e têm maior tendência para a
arrogância. Claro que o ódio todo se deve às declarações de Fernando antes de
embarcar de Lisboa ao Recife.
“Ainda tenho muita coisa para fazer, muita
música para escrever, muita canção para cantar, muita gente para conhecer,
portanto é muito provável que aproveite estes últimos anos da minha vida porque
não os quero consumir aqui, eu não quero. Não aceito esta gente, não aceito o
que estão a fazer ao meu país” refere. “Não votei neles, não estou para ser
governado por este bando de incompetentes”.
“O que é natural é que faça
como foi aconselhado a muitos jovens mas também poderiam ter aconselhado a mim.
Tenho 65 anos, quero-me ir embora, mas sem drama nenhum. Passou a ser
insultuoso ao fim de 50 anos de carreira ter de procurar trabalho desta
maneira, ter que viver quase precariamente. Não quero, não muito obrigado, vou-me
embora. Mas satisfeito!”
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