UMA “ODISSÉIA NO ESPAÇO” – José Nilton Mariano Saraiva.
Nos
confins do universo, navegando a uma velocidade supersônica na imensidão
infinita do cosmos, no interior daquele insignificante artefato construído pela
raça humana desenrolava-se um drama inimaginável: é que, através do recurso
conhecido como leitura labial, “HAL” houvera descoberto que os até então fiéis
companheiros de viagem tencionavam eliminá-lo da missão, silenciá-lo de vez,
descartá-lo como um dos responsáveis pelo sucesso da empreitada, seguindo
viagem sozinhos. A partir daí, então, depois de infrutíferas tentativas, ciente
de que não poderia dissuadi-los a desistir de uma viagem que considerava
inviável, “HAL” arquitetou e pôs em prática, paulatinamente, seu fulminante
contra-ataque, que culminou por levar o homem (um único sobrevivente) a romper
sua dimensão temporal, transportando-o a uma outra galáxia, uma outra dimensão,
onde ele, homem, morre e, paradoxalmente, renasce para a vida, começando tudo
de novo, só que longe do seu habitat natural.
Sem
qualquer pretensão literária, este é um resumo enxuto de uma das maiores obras
de ficção científica já produzidas pelo homem, o filme “2001-Uma Odisséia no
Espaço”, narrativa premonitória das dificuldades que, no futuro, o homem
(tripulantes de aviões ou uma nave espacial) teriam que enfrentar quando
tivessem que “bater de frente” com sua própria criação: a máquina inteligente,
o computador “HAL”. Enfim, o célebre conflito criador X criatura.
Produzido
numa época em que ainda não existiam os famosos “efeitos especiais”, onde o
aparato e instrumental tecnológico era uma brincadeira de criança em comparação
ao existente nos dias atuais, onde a limitação orçamentária era uma realidade,
e sem contar em seu “cast” com nenhum ator famoso capaz de chamar bilheteria,
“2001-Uma Odisséia no Espaço” nos mostrava, lá atrás, no hoje distante 1968, a
tenebrosa perspectiva de que um dia a “criatura” enfim se rebelasse contra o
“criador”, quer que por mero “ciúme” ou, então, pela não aceitação de manter-se
“subjugado” a uma “mente inferior”.
A
reflexão acima vem a propósito da recente tragédia aérea com a portentosa
máquina voadora Airbus, da Air France, dotada com o que há de mais moderno em
termos tecnológicos, e em duplicidade (numa tentativa de prevenir qualquer
surpresa desagradável), mas que, desaparecida misteriosamente de uma hora para
outra, quando empreendia a corriqueira travessia (considerando-se os padrões
atuais), do Oceano Atlântico, na ligação entre o continente sul-americano e a
Europa.
Estupefatos
com a ocorrência e a real perspectiva só agora confirmada da morte dos seus 228
ocupantes, especialistas do mundo inteiro se debruçaram sobre pranchetas, mapas
e a vasta literatura pertinente e se puseram, num primeiro momento, a aventar
as mais diversas versões na tentativa de justificar a tragédia: turbulência
pesada no interior de uma nuvem “cumulus nimbus, de extensão e resistência
invulgares, trazendo por conseqüência descargas elétricas assustadoras, ventos
com velocidade inimagináveis e capazes de desestabilizar a máquina,
congelamento de sensores vitais da aeronave e por aí vai.
Refeitos
do impacto, descobriu-se que a própria máquina, teoricamente preparada para
“agüentar o tranco”, sem que houvesse qualquer interferência humana houvera
emitido mensagens diversas ao centro de controle, dando conta da ocorrência de
uma possível “pane” em um dos seus três principais computadores centrais,
gerando conflito de dados e informações e fazendo com que o sistema elétrico
entrasse em absoluto processo de falência, comprometendo a navegação automática;
como os painéis de orientação simplesmente “pifaram (ou se apagaram), o comando
manual tornou-se impraticável, já que sem saberem da velocidade, altura,
temperatura externa e outras varáveis absolutamente necessárias, piloto e
co-piloto se viram diante da tétrica e assustadora realidade de um vôo
absolutamente cego, na escuridão da noite cósmica e tendo abaixo a imensidão do
Oceano Atlântico. Algo simplesmente apavorante, de arrepiar.
Agora,
ante a perspectiva real de a aeronave ter se desintegrado (por “EXCESSO” de
velocidade, que comprometeria sua estrutura) ou simplesmente ter despencado lá
de cima de encontro ao oceano (por “INSUFICIÊNCIA” de velocidade, que a
desestabilizaria em termos de sustentação), o fato é que talvez nunca venhamos
a saber realmente o que aconteceu naqueles momentos aterrorizantes vivenciados
por nossos irmãos de mais de trinta nacionalidades, já que as famosas “caixas
pretas” (de aproximadamente 50 centímetros de comprimento) dificilmente serão
localizadas no fundo do mar.
As
perguntas que se impõem são: se, lá atrás (1968), já se ventilava, embora por
mera ficção, a perspectiva de falha ou “rebeldia” do computador e, agora,
existe a quase certeza que a ficção tornou-se uma dolorida e cruel realidade
(um dos computadores “discordou” dos demais e forneceu dados que “baratinaram”
todo o sistema de navegação), será que viajar de avião ainda é mesmo o meio
mais seguro ???
Quantos
“vôos cegos” são realizados, diuturnamente, sem que saibamos se as empresas
proprietárias guardam algum sigilo sobre uma possível iminente catástrofe, em
razão do componente econômico, como se está a duvidar que a Air France disponha
de tais (informações) e jamais as divulgará por mera conveniência mercadológica
???
Post
Scriptum
Postagem
de meses atrás. Fato é que comprovado restou, depois de surpreendentemente encontrarem a “caixa-preta”
no fundo do mar, que o congelamento de um simplório “sensor” externo
impossibilitou a tripulação de informações básicas; mesmo assim, houve erro dos
tripulantes ao “subirem”, ao invés de “descerem”, na tentativa de se livrar da
tormenta.
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