Geléia Geral
J. Flávio Vieira
Cecília Melo e Castro
“Metamorfose”
Cecília
Melo e Castro é uma artista plástica portuguesa, de vanguarda, que
trabalha com Infopintura, Ciberarte, Arte Fractal e Videoarte. Além de poetisa
com três livros publicados. Procedente
de Estoril – agregada anteriormente ao Concelho de Cascais – Cecília possui ainda uma profícua carreira
universitária, tendo se aposentado após trinta anos de docência. Como pintora,
ela soma, no currículo, inúmeras
premiações internacionais, como o ArtMajeur
Silver Award e o Prêmio UNESCO para Artes Eletrônicas. Pois bem, separados por
todo um oceano , eis que , em pleno Carnaval, recebo um contato da ilustre
artista portuguesa, através das redes sociais. Ela, delicada, mas incisivamente, reclamava, com todas as
razões desse mundo, da utilização que fiz de um dos seus belíssimos quadros
(“Metamorfose”) , em um dos frontispícios de
meus artigos, sem sua expressa autorização e, mais: sem sequer ter lhe
dado os devidos créditos pela obra exposta. O artigo tinha sido publicado em diversos
blogs da região, mas ela captou a apropriação indébita no Blog do Crato e me
solicitou que fosse procedida à necessária identificação do autor e da obra.
Cecília trouxe à baila um assunto do dia em tempos de Aldeia Global. A possibilidade de
disseminação ampla da comunicação, proporcionada pelo Internet e afins, traz,
consigo, incontáveis efeitos
colaterais. Jogados ( textos, imagens, pinturas, vídeos, fotos) num mesmo canyon , passa a ser propriedade,
aparentemente, de todos, perdendo-se o
direito autoral, a identificação do autor e da obra. Tudo passa a fazer parte
de uma imenso pântano , cada qual se sentindo no direito de pescar o que melhor
lhe aprouver, achando-se, a partir daquele momento, proprietário da pesca e,
muitas vezes, seu autor. Não bastasse isto, estabeleceu-se até o contra plágio,
uma espécie de cyberbulling , quando frases , citações e poemas de gosto
duvidosíssimo são pespegados na autoria de artistas famosos, alguns, já
falecidos, sem lhes ser dado , pois, o direito da legítima defesa. Agora mesmo,
abre-se enorme polêmica, a nível mundial, com a digitalização em massa de obras
literárias, tantas e tantas vezes ferindo o direito autoral. A Internet trouxe
, como irmã siamesa, a aparente impessoalidade, quebrando-se todas as regras
históricas da autoria e da privacidade. Para
que criar, se basta copiar e colar ? A
nossa pintora, que transita , diretamente, com a Video e a Cibearte, mais que ninguém, deve sofrer , na pele, as freqüentes e contínuas conseqüências dessa tendência ao amorfismo
e à geléia geral . Fácil depreender daí, de onde brotam sua ansiedade e inquietação.
Cecília Melo e Castro está coberta de razão
quando clama pelos créditos às suas obras.
No fundo, se percebe, claramente, que esta tendência moderna à
uniformização , à quebra da individualidade das pessoas e das coisas, é um caminho perigoso e movediço. Quando tudo
estiver perfeitamente uniformizado, quando já não houver aparente distinção
entre uma e outra pessoa, todos seremos perfeitamente descartáveis e
substituíveis. São Francisco será igual a Hitler, Fernando Pessoa equivalente a
qualquer poeta de ponta de rua. O que faz bonita e resplandecente a aquarela da vida são suas infinitas cores e nuances e não a tela branca, lívida e estática.
Crato, 10/03/14
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